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30 de julho de 2023
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09:50

Angolano baleado pela BM e familiares de amiga morta deverão ser indenizados

Por
Sul 21
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Gilberto Almeida, o angolano que foi baleado perdeu a amiga em ação policial em Gravataí | Foto: Arquivo pessoal
Gilberto Almeida, o angolano que foi baleado perdeu a amiga em ação policial em Gravataí | Foto: Arquivo pessoal

No dia 17 de maio de 2020, o angolano Gilberto Andrade de Casta Almeida, técnico em radiologia, e a amiga, a costureira Dorildes Laurindo, foram baleados por policiais militares em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, quando retornavam de um passeio ao litoral gaúcho. Almeida, além de ferido, foi acusado de ter atirado antes nos PMs e, por conta disso, ficou preso durante 12 dias. Dorildes, morreu após 18 dias de hospitalização. A Justiça gaúcha determinou nesta semana que Almeida e os familiares de Dorildes deverão ser indenizados pelo Estado do Rio Grande do Sul.

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O incidente ocorreu quando o casal retornava Tramandaí, no Litoral Norte em um carro de aplicativo. O motorista que os conduzia, ao avistar uma viatura, furou um sinal vermelho e seguiu em fuga de Cachoeirinha para Gravataí. O motorista abandonou o veículo e tentou escapar a pé, mas foi capturado.

De acordo com a ocorrência policial, ele estava foragido da Justiça pela acusação de tentativa de feminicídio. Almeida e Dorildes permaneceram junto ao carro. O técnico em radiologia alegou inocência e apelou para que os policiais não atirassem. Mas foi em vão.

“Comecei a gritar que era inocente, estrangeiro, que não havia feito nada de errado, mas mesmo assim eles atiraram”, contou Almeida, em reportagem publicada no Sul21 na época.

Gilberto tinha vindo ao RS para conhecer Dorildes presencialmente | Foto: Arquivo Pessoal

Almeida foi atingido por quatro tiros. Dorildes foi alvejada por dois tiros e um deles atingiu a medula e perfurou o intestino, um rim e um pulmão.

A 4ª Vara Cível da Comarca de Gravataí fixou o valor do ressarcimento por danos morais em cerca de R$ 580 mil, que deverá ser partilhado com dois irmãos de Dorildes.

“’Dantesco’ talvez não seja termo suficiente para descrever o episódio. Faltam no léxico palavras para bem retratar tamanha brutalidade, em uma sucessão de violações à dignidade da pessoa humana, que, no papel, é fundamento desta República”, afirma na sentença o juiz responsável pelo processo.

Em relação à valoração do ressarcimento, o magistrado entendeu que foi atingido mais de um direito da personalidade de Dorildes, ofendida em grau máximo na sua integridade física “após ser baleada por mais de uma vez, inclusive pelas costas, sem que tenha antes oferecido qualquer tipo de resistência, ainda foi algemada, pisoteada, arrastada e estapeada”, destacou.

O juiz acrescentou ainda que o índice de reprovabilidade da conduta dos ofensores é elevado, tanto pelo ataque “absolutamente desproporcional” a uma mulher indefesa, como pelo fato de que deixaram de informar à autoridade policial que ela e o namorado eram inocentes.

Completou dizendo que “Gilberto permaneceu custodiado no hospital, como se criminoso fosse, já que, em depoimento no auto de prisão em flagrante, os agentes policias imputaram-lhe a autoria de três tentativas de homicídio. De lá saiu sem ter ao menos roupas para vestir-se, em direção a uma cela insalubre em uma delegacia de polícia, onde foi novamente ultrajado por agentes do Estado”.

Almeida morava em Goiás na época do episódio e tinha vindo ao RS justamente para conhecer Dorildes presencialmente, com quem trocava mensagens pela Internet.


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