Geral
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15 de fevereiro de 2022
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19:22

No Morro da Cruz, moradores cobram abastecimento: caixa d’água vazia não resolve

Por
Fernanda Nascimento
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Foto: Any Moraes/Arquivo Pessoal
Foto: Any Moraes/Arquivo Pessoal

Há mais de dois meses sem abastecimento regular de água, os moradores do Morro da Cruz, na zona leste de Porto Alegre, cobram a Prefeitura para a normalização da situação. Hoje, integrantes da comunidade se reuniram com representantes do Município para debater a proposta apresentada pelo Executivo, que prevê a colocação de caixas d’água nas casas das famílias em situação de vulnerabilidade social e que residem em pontos mais altos do bairro. Os moradores afirmam que as caixas d’água não resolverão o problema caso não haja abastecimento.

Any Moraes é uma das moradoras da localidade e integrante da comissão de moradores. Ela tem registrado depoimentos do cotidiano de famílias que ficam mais de uma semana sem água. Em alguns casos, a falta de abastecimento perdura desde o Natal. “Nós somos uma das comunidades mais carentes. A maioria das famílias que estão em situações mais difíceis é formada por mulheres, chefes da família, que além de tudo tiveram crianças doentes pela água que vem do caminhão pipa”, conta.

Famílias enfrentam problemas de abastecimento há dois meses. Foto: Any Moraes/Arquivo Pessoal

Na semana passada, o prefeito Sebastião Melo (MDB) esteve no local. Após uma reunião marcada por duras críticas da comunidade, assinou um decreto declarando situação de emergência em cinco bairros de Porto Alegre: Partenon, Vila São José – onde se localiza o Morro da Cruz -, Vila João Pessoa, Coronel Aparício Borges e Santo Antônio. De acordo com a Prefeitura, a assinatura do decreto permite a implementação de medidas mais rápidas e a busca de aporte financeiro estadual e federal. De maneira imediata, o Município se comprometeu a instalar caixas d’água. No primeiro levantamento apresentado pelos moradores, quase metade das 600 famílias mais afetadas pela falta de água não possui caixa d’água.

Para os moradores, a medida é importante, mas paliativa. Especialmente porque nas casas localizadas nos pontos mais altos do morro, nem o caminhão pipa é capaz de chegar. “Em algumas partes em que as ruas são pequenas vielas, o caminhão não chega, não tem como passar. Então as pessoas descem para uma parte mais baixa e levam a água de balde ou garrafa”, conta Angela Comunal, também integrante da comissão de moradores. O problema é agravado para as pessoas com restrição de locomoção, como cadeirantes e acamados, por exemplo. “O nosso problema é o abastecimento. Não adianta instalar caixas d’água se as pessoas não tiverem água para usar”, resume Any.

Em um dos depoimentos registrados pelo Movimento em Defesa da Água no Morro da Cruz, uma moradora identificada como Cristiane fala sobre o impacto da falta de água na higiene pessoal: “A gente não usa o chuveiro, não usa as torneiras, banho está sendo de balde. Eu deixo umas 50 garrafas de refri que a gente enche de água”, relata.

A ausência de água impacta também a saúde dos moradores. Além dos relatos de doenças provocadas pela falta de qualidade da pouca água que chega, da precariedade da higiene em um momento de pandemia de covid-19, há ainda moradores que sequer têm água para tomar seus remédios. É o caso de Patrícia da Silva, em tratamento contra hepatite C: “Eu tenho que me alimentar, tenho que me hidratar, tenho que tomar água com frequência e tem dias em que eu tenho que controlar água ou até dizer para os meus [familiares] deixar um copo d’água reservado para quando chegar o horário de tomar o meu remédio, eu ter água para tomar. Eu não posso tomar suco. Tem que ser água”, conta.

Na semana passada, a Prefeitura também anunciou que o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) realizará um levantamento topográfico da região para estudar a instalação da rede e reservatório de água. Os moradores reivindicam a apresentação de um plano de abastecimento das caixas d’água em locais de difícil acesso, o compromisso da prefeitura em encher as caixas d’água, ao invés da população carregar baldes e garrafas, e a contratação de mão obra da comunidade para realização dos serviços.


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