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6 de maio de 2024
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18:36

‘Aqui está ótimo, o filme de terror vai ser quando voltar’, diz abrigado no CETE

Por
Luís Gomes
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CETE está acolhendo 250 pessoas atingidas pelas enchentes em Porto Alegre e Região Metropolitana | Foto: Isabelle Rieger
CETE está acolhendo 250 pessoas atingidas pelas enchentes em Porto Alegre e Região Metropolitana | Foto: Isabelle Rieger

As crianças jogam bola, correm e brincam na pista e no campo de atletismo. Os cachorros passeiam entre as árvores. Familares e amigos conversam entre entre os bancos. Poderia ser um dia normal de sol, mas é o quarto dia em que resgatados de áreas inundadas em Porto Alegre e arredores se abrigam no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), no Menino Deus. Com capacidade para receber 250 pessoas, o local está lotado desde o final de semana.

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“A situação aqui está boa”, diz Adriano Alvesa da Silva Vieira, morador da Ilha Grande dos Marinheiros, que deixou sua casa, ao lado da esposa, Nair Vieira, na última sexta-feira (3). “Eu fui obrigado a sair de casa porque a água invadiu. Eu consegui tirar só os meus cachorros”, diz Adriano. “Nós ficamos embaixo da ponte, na BR, esperando socorro”, complementa Nair.

Inicialmente, foram para o abrigo da Brigada Militar, mas Adriano acabou cortando o pé e precisou ser levado para atendimento no Hospital de Pronto Socorro (HPS). No domingo, chegou ao abrigo do CETE.

Na manhã desta segunda, Adriano e Nair descansavam em uma das áreas verdes do centro esportivo na companhia dos cachorros bolota, pretinha e neguinha. Tomaram café da manhã e, em breve, almoçariam. Estão recebendo todas as refeições. Cerca de 15 voluntários por turno se alternam para atender as pessoas em suas diversas necessidades, desde acolhimento até atividades para manter as cerca de 100 crianças que estão no local ocupadas.

 

Centro Estadual de Treinamento Esportivo abriga dezenas de cachorros das famílias atingidas | Foto: Isabelle Rieger/Sul21

“A única coisa que nós estamos tentando arrumar é gelo para o nosso cooler, para guardar a injeção de insulina dele”, disse Nair, mas ainda sem expressar grande preocupação. A angústia do casal, contudo, é sobre o que vão encontrar quando puderem retornar para casa. “O filme de terror vai ser quando voltar”, diz Adriano.

Janaína Sestari, moradora do bairro Floresta, próximo à Voluntários da Pátria, chegou na noite de sexta-feira. Deixou a casa às pressas, acompanhada da irmã e de dois sobrinhos, quando a água já batia na cintua. “Começou a subir, subir, subir, não tinha condições. Tinha pessoas que não queriam sair do prédio. Não estavam vendo a realidade batendo”, afirma.

Ela saúda o fato de ter sido atendida e recebido medicamentos de uma unidade móvel instalada no abrigo, sob gestão da IBSAÚDE. A operadora da Unidade de Saúde Santa Marta está atendendo no CETE das 9h às 18h.

 

Unidade de Saúde móvel atende abrigados no CETE | Foto: Isabelle Rieger/Sul21

A única coisa que sente falta é de uma bebida gelada, uma vez que não há nenhum tipo de geladeira ou equipamento de resfriamento à disposição dos abrigados.

Na falta da bebida gelada, nesta manhã, ela tomava chimarrão ao lado da amiga, Isabel Duarte Melo, que também chegou ao CETE na sexta com os filhos, deixando para trás uma casa inundada no Loteamento Santa Terezinha, na Voluntários da Pátria.

“Eu primeiro pensei nos meus filhos. A água estava avançando muito rápido. Foi deixar tudo para trás. Não consegui salvar os meus gatinhos. Estou triste, mas com a esperança de que alguém salvou”, diz Isabel. “Eu perdi tudo, mas o que importa é seguir em frente, reconstruir, arrumar o que der e cuidar dos meus filhos. Aqui a gente está bem”.

Na manhã desta segunda, o secretário municipal de Modernização, Gestão e Projetos, Rogério Beidacki, que está coordenando as ações de acolhimento a atingidos pelas enchentes, informou o Sul21 que há cerca de 7.500 pessoas abrigadas em 58 pontos distribuídos pela cidade.

 

Centro Estadual de Treinamento Esportivo serve de abrigo da Prefeitura. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Além de funcionar como um abrigo em atendimento pela Prefeitura, o CETE também foi transformado em um grande centro de recebimento de doações da Secretaria Estadual de Esportes e Lazer, que posteriormente direciona as doações para outros abrigos e mesmo cidades que tenham necessidade.

Bruno Ortiz, diretor-geral da pasta, explica que o CETE, no momento, está bem assistido. “A população que está aqui no CETE está bem assistida. Dentro desse caos, a questão está bem organizada, a Prefeitura está fornecendo alimentação”, afirma.

Por outro lado, explica que doações de todos os produtos são necessárias justamente para continuar distribuindo para outras regiões. “Ontem, a gente recebeu um volume enorme de doações e foi fantástico. Só para Canoas, a gente mandou quatro ou cinco caminhões”, diz. “Hoje, não tinha nada de doações na entrada, ontem tinha uma montanha. Então, a gente está conseguindo ser ágil, com muita ajuda de outros órgãos do governo e da sociedade civil”.

Segundo ele, o item mais necessário é água e, por enquanto, a orientação é que não se leve marmitas e quentinhas para o CETE, pois não são necessárias, pois a Prefeitura está fornecendo a alimentação e não há onde armazenar. Estes tipo de doação deve ser destinada a locais em que há procura por alimentação imediata.

 

Voluntários atuam no CETE | Foto: Isabelle Rieger/Sul21

“Precisa de um pouco de tudo. Talvez o que precise mais é água potável e alimentos não perecíveis de rápido consumo, tipo bolachas, coisas que a pessoa possa abrir e comer na hora. Mas estamos recebendo cobertor, preciso de colchão, alimento não perecível. A única coisa que a gente não recebe aqui no CETE são marmitas prontas. O resto tudo a gente está recebendo e está fazendo chegar”, afirma.

As doações podem ser entregues junto ao portão principal do CETE, na Rua Gonçalves Dias, 700. Com exceção de doações específicas de roupas e cobertores, que estão sendo recebidos preferencialmente na Escola Estadual Mané Garrincha, Av. Érico Veríssimo, 1255.

No momento, a unidade de saúde móvel no local também não precisa de medicamentos. A orientação é para que doações de medicamentos sejam feitas para a Faculdade de Farmácia da UFRGS, Av. Ipiranga, 2752.

Confira mais fotos: 

Foto: Isabelle Rieger/Sul21
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