Educação
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14 de fevereiro de 2024
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17:14

UFRGS contabiliza prejuízos a pesquisas após Campus do Vale ficar 30 horas sem energia

Por
Luís Gomes
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Pesquisas com vegetais foram afetadas na Faculdade de Agronomia | Foto: Divulgação
Pesquisas com vegetais foram afetadas na Faculdade de Agronomia | Foto: Divulgação

Em pleno feriadão de Carnaval, estudantes, técnicos e professores de diversas unidades da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no Campus do Vale foram acionados para, às pressas, tentarem evitar que anos de pesquisas fossem perdidos. O motivo foi uma falta de luz, que se estendeu por quase 30 horas entre segunda (12) e terça-feira (13), provocada pelo rompimento de cabos de transmissão de energia.

Vice-diretor da Faculdade Agronomia da UFRGS, Paulo Vitor Dutra de Souza explica que o problema começou por volta das 14h de segunda. “Segundo informações, uma retroescavadeira da transmissora de energia elétrica rompeu os cabos que ligam a subestação que eles têm aqui próximo à Faculdade de Agronomia da UFRGS com a nossa subestação do Campus do Vale da UFRGS”, diz.

A energia só foi restabelecida por volta das 19h de terça-feira (13), cerca de 30 horas após o problema inicial, quando técnicos da Superintendência de Infraestrutura da UFRGS (Suinfra) e da CEEE Equatorial conseguiram restabelecer uma subestação que funciona no Campus. Por outro lado, ele ressalta que a ação é uma solução provisória, pois os cabos rompidos ainda levarão vários dias para serem recuperados, segundo informação que a empresa passou para a Faculdade de Agronomia.

Procurada pela reportagem, a CEEE Equatorial, por meio de nota, informou que, por volta das 14h30 de segunda-feira, identificou a falta de energia em sua linha de transmissão que atende a universidade. “O motivo do problema foi a ruptura de dois cabos subterrâneos, ocorrida durante obra de escavação da empresa CPFL Energia, dentro do pátio de subestação daquela empresa. Imediatamente após o incidente ocasionado pela escavadeira da CPFL Energia, a CEEE Equatorial entrou em contato com a administração da UFRGS, que adotou medidas internas de ativação de geradores instalados em seu campus. Desde o início do episódio, concessionária e instituição de ensino seguiram em contato permanente”, diz a nota.

A Equatorial confirmou que, por volta das 13h30 de terça-feira (13), técnicos da universidade executaram os serviços internos que eram necessários, com o restabelecimento total da energia ocorrendo às 19h a partir da energização do alimentador que atende o Campus Agronomia da UFRGS na integralidade da carga. A Equatorial também explica que a recomposição da linha de transmissão subterrânea será realizada pela CPFL. A empresa ainda diz que a prestação dos serviços de energia foi dividida em três após a privatização da CEEE, com a Equatorial ficando responsável pela distribuição, a CPFL Energia, pela transmissão, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), pela geração.

O professor Souza explica que a “sorte” foi o fato de que, apesar de a falta de luz ter ocorrido em pleno Carnaval, quando a universidade não tem atividades de graduação em andamento, diversos pesquisadores, professores e técnicos estavam no local de plantão. “Isso ajudou bastante a minimizar. Nos permitiu avisar todos os que não estavam porventura nas unidades. A gente acabou vindo. Segunda e ontem, vários professores, alunos e técnicos vieram aqui, passamos o dia tentando salvar o que foi possível”, afirma. “Também é importante destacar o apoio que todo o Campus do Vale, o apoio dos professores, técnicos, alunos, inclusive outras unidades de fora do Vale auxiliaram disponibilizando freezers, geladeiras, até locais que tinham gerador para a gente transferir algumas geladeiras, freezers. Essa ajuda a mútua também ajudou a minimizar”, complementa.

Souza diz que cerca de 20 unidades da UFRGS que estão no Campus do Vale foram afetadas e que ainda não é possível precisar o impacto da falta de energia em pesquisas em andamento, mas pontua que algumas unidades contam com o apoio de geradores que ajudaram a mitigar o problema. “Nós tivemos algumas perdas significativas de experimentos principalmente, laboratórios com equipamentos que sofreram avarias pela queda de energia. Aqui na Agronomia, nós tivemos alguns experimentos com plantas, experimentos, por exemplo, com produção de alface, experimentos de produção de mudas frutíferas que estavam em casas de vegetação que não tem gerador e o sistema de irrigação é abastecido automaticamente por energia elétrica, então essas plantas acabaram morrendo por falta d’água. O calor de segunda-feira matou essas plantas. Na área de Zootecnia, tem colegas que perderam experimentos, por exemplo, aves que morreram, peixes morreram de experimentos na Piscicultura, então ainda estamos procurando quantificar as demais perdas que aconteceram. E, nas outras unidades da UFRGS, também foram as mais diversas perdas, material que estava mantido em freezer e ultra freezers que não podem descongelar. Então, inda estamos fazendo esse levantamento”, afirma.

Para além das perdas materiais, ele pontua que ainda há outros prejuízos mais difíceis de serem quantificados, que são as perdas provocadas para o andamento das pesquisas. “Há pesquisas que a gente vai ter que repetir. Nesse caso, o grande risco que nós temos é que muitas das nossas pesquisas são conduzidas por alunos, de iniciação científica, mestrado e doutorado, e esses alunos têm prazo para defender suas dissertações e teses. Então, há casos de experimentos que levavam dois anos e que foram perdidos. Nós vamos ter que calcular isso também, porque nós não podemos fazer com que nossos alunos sejam prejudicados. Esse prejuízo nós não conseguimos quantificar, que não é só financeiro, é o dano ao trabalho de um pesquisador. Nós vamos ter que pensar em prorrogar dissertações, teses, mas isso a gente ainda está avaliando. E todos os projetos nós temos que prestar conta, relatórios técnicos, é a ciência e a tecnologia que perdem”, afirma.

Souza diz que o retorno da energia na terça-feira foi importante para minimizar as perdas. “Vários laboratórios e várias instalações têm gerador, só que o problema é que todos os geradores têm que ser reabastecidos com óleo diesel e eles têm um período de algumas horas de funcionamento. Então, quanto mais tempo para o retorno de energia, nós estávamos com dificuldades de reabastecimento de gerador. Se ele chega a ter pane seca, aí depois é outra confusão para fazê-lo voltar a funcionar. O fato de retornar energia foi um alívio, mas nessas 30 horas alguns prejuízos foram consideráveis”, conclui.


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