Educação
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14 de julho de 2023
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10:35

Ex-reitores de universidades federais pedem Justiça para Cancellier, morto em 2017 

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Sul 21
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Luiz Carlos Cancellier se suicidou após prisão preventiva e afastamento do cargo pela Operação Ouvidos Moucos. Foto: Pipo Quint/Agecom/UFSC
Luiz Carlos Cancellier se suicidou após prisão preventiva e afastamento do cargo pela Operação Ouvidos Moucos. Foto: Pipo Quint/Agecom/UFSC

“É preciso não só contar mais uma vez a história do Reitor Cancellier mas exigir justiça, para que não seja esquecida e para que não se repita, por seu simbolismo e por representar um período no qual sofremos com as denúncias infundadas. Ao abrir mão de sua vida tragicamente, Cancellier também foi um anteparo e uma proteção aos demais, diante de tanta criminalização.”

Esse é um trecho da nota assinada por 56 ex-reitores e ex-reitoras de universidades brasileiras após a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), no último dia 7 de julho, em não verificar irregularidades na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), conforme denúncia de 2017. Nunca comprovada, a denúncia levou à morte do então reitor Luiz Carlos Cancellier, em 02 de outubro de 2017, por suicídio.

“O Reitor Cancellier foi vítima de uma ação ilegal de destruição de sua reputação, após uma representação sobre supostos superfaturamentos em contratos. Por razões até hoje ocultadas, a representação não levou a uma investigação, e sim a uma ação da Polícia Federal que determinou a prisão sumária e sem provas do Reitor, decretada pela então Delegada Erika Marena”, afirma outro trecho do manifesto, criticando a afronta ao devido processo legal, a presunção de inocência e as medidas adotadas na época pela Polícia Federal e o judiciário.

Os ex-reitores e reitoras afirmam que as ações de “horror” vividas por Cancellier foram aplicadas de maneira diferentes contra outros reitores de instituições federais entre 2016 e 2022. Como exemplos, citam conduções coercitivas, negações ao direito de defesa, denúncias junto a órgãos de controle e humilhações públicas. No caso de Cancellier, ele chegou a ser proibido, em pleno exercício do mandato, de ingressar na universidade em que era reitor.

Seis anos após a morte de Cancellier, o ofício do TCU enviado ao atual reitor da UFSC diz que o “Tribunal decidiu em conhecer da representação, considerá-la improcedente e determinar o seu arquivamento”.

“A brutalidade do ocorrido com o Reitor Cancellier nunca foi esquecida pela comunidade acadêmica das 69 universidades federais e nem tampouco por nós, ex-reitores e reitoras. Foram dias de opressão, de insegurança e ameaças, especialmente após 2019. Foi exatamente nesse ano que o então ministro da Educação de Bolsonaro ameaçou reitores e instituições publicamente, ao cortar sumariamente os recursos da UnB, UFBA e UFF, com a citação da Reitora da UnB, Márcia Abrahão, além dos casos das Reitoras da Unifesp, Soraya Smaili, e da UFMT, Myrian Serra, que foram mencionadas explicitamente em sessões do Congresso Nacional e para a mídia, em várias ocasiões. Lembramos igualmente as conduções coercitivas, como as ocorridas com os Reitores Jaime Ramirez e Sandra Goulart da UFMG, e da representação do MPF contra o Reitor Roberto Leher da UFRJ, além das tentativas de inquéritos contra aqueles que se manifestaram, denunciando os abusos e a arbitrariedade”, recordam os ex-reitores e reitoras.

O grupo define o período vivido como a “Lava Jato da Educação”, ao dizer que as universidades foram vasculhadas e investigadas ao extremo. Citam ainda tentativas de processos administrativos, de tomadas de contas junto ao TCU e denúncias falsas contra reitores e reitoras junto à Controladoria Geral da União (CGU).

Agora, após a decisão do TCU por arquivar a denúncia contra Cancellier, os ex-reitores e reitoras exigem justiça e punição dos responsáveis.

“A conclusão do processo e seu arquivamento não serão suficientes: não trarão as inúmeras perdas de volta, em especial a vida de nosso colega Cancellier. É por esta razão que entendemos que a justiça não está feita e será preciso investigar ainda mais e, principalmente, punir os responsáveis. A punição dos responsáveis e a reparação pública serão parte da justiça que esperamos. Para que ela ocorra, é necessário não anistiar os condutores deste capítulo infeliz de nossa história recente”, afirmam os ex-reitores e reitoras signatários do manifesto.


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