Montserrat Martins
Segurança ou Educação, qual deve ser a prioridade? As duas, até porque sem Segurança o funcionamento das escolas está sendo afetado pela violência, bem como os postos de saúde também. O meme “se não investirmos em escolas teremos de construir presídios” é verdadeiro, mas hoje sem a construção de presídios não há segurança pública e as próprias escolas não funcionarão bem.
No projeto Escola Aberta em Porto Alegre, nos fins de semana as escolas tinham atividades culturais e lá ouvimos histórias surreais, do tipo “as aulas vão bem até a hora em que começa o tiroteio”, numa das vilas da periferia. Noutra vila, quando a escola era arrombada a Diretora tinha de enviar recado ao patrão do tráfico solicitando a devolução dos bens necessários para as aulas – e este providenciava a restituição, pois exercia o verdadeiro governo local.
As brigas entre alunos, entre alunas e até com professores às vezes são tão violentas que extrapolam o ambiente escolar e vão parar na polícia. E assim por diante, inúmeras situações mostram que o ambiente de estudo está contaminado pela crise social e pela falta de segurança em geral.
A dicotomia do “ou isso ou aquilo” não costuma resolver problemas. Pensar só em segurança seria imediatismo, sem plantar sementes melhores para o futuro. Pensar que educação resolve tudo, sem tomar providências urgentes para conter a violência, não permite que as escolas tenham ambiente de estudo adequado.
Uma competição cega entre discursos de direita e de esquerda levam à ingenuidade de muitos acreditarem em soluções unilaterais e excludentes. No esteriótipo da direita, só medidas de força resolvem, no esteriótipo da esquerda só programas sociais, quando na verdade não podemos prescindir de nenhuma das duas.
O atual governo gaúcho foi eleito com esse discurso, mas está longe de praticar o que prega. Porque privatizar o Banrisul, que rende cerca de 700 milhões de reais de lucro por ano? Sartori repete fórmulas de “Estado mínimo” a ponto de “economizar” em Segurança no início do governo, o que agora tardiamente tenta reverter. O uso de um discurso “nem de direita nem de esquerda” na campanha do Sartori foi enganosa, pois sua “receita” de governo não podia ser mais neoliberal.
Ideias melhores – de verdade – são aquelas sinceramente centradas na realidade ao invés de nas disputas teóricas, que aproveita as boas contribuições de todas as fontes. São os valores “republicanos” (de respeito à “res publica”, a coisa pública), com tolerância e respeito com as diferenças, valores essenciais para a democracia e para a convivência nas sociedades do século XXI. Políticos de várias ideologia juram praticar esse bom senso, mas raros tem ideias melhores mesmo.
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Montserrat Martins é médico e bacharel em ciências jurídicas e sociais.