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25 de janeiro de 2021
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12:49

A sequência da pandemia e a imprescindível ação do Estado

Por
Luís Gomes
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A sequência da pandemia e a imprescindível ação do Estado
A sequência da pandemia e a imprescindível ação do Estado

Flavio Fligenspan (*)

Os primeiros dados de 2021 trazem uma enorme preocupação para o governo Bolsonaro. Além da negação da importância da doença e do descalabro em relação ao controle da pandemia que se vê desde o ano passado, este início de ano trouxe as cenas horrorosas de Manaus, a ausência de um projeto nacional de vacinação e números ruins na economia. Para piorar, as expectativas não são nada boas em relação à pandemia, com a mutação do vírus a exigir o que não temos, um plano de vacinação eficaz e uma campanha responsável de esclarecimento, para evitar o aumento do número e da gravidade dos casos, e para agilizar a retomada da atividade econômica.

Os indicadores econômicos mais recentes mostram que a recuperação do Comércio e da Indústria, que ganhou tração a partir do meio de 2020, perdeu força desde novembro, não por acaso o momento em que ficou claro que não haveria a prorrogação do Auxílio Emergencial e as famílias começaram a retrair o seu consumo. Naquele momento, a aposta do governo era de que a pandemia seria controlada mundialmente e haveria uma natural retomada da atividade. Enfim, a virada de ano marcaria o fim dos efeitos mais negativos da covid e em 2021 todas as esperanças se renovariam, podendo-se abrir mão do arsenal de auxílios às famílias e às empresas. Com isso, recuperar-se-iam as contas públicas.

Contudo, a realidade foi diferente do que o governo projetava, a pandemia está aí bem ativa, as dificuldades com a vacinação são conhecidas e os indicadores econômicos insistem em não melhorar. Recente estudo da OCDE (OECD Weekly Tracker) indica atividade em queda nas últimas semanas no País. As pesquisas de opinião logo capturaram o clima desfavorável e a popularidade do governo despencou, até porque se perderam as respostas positivas da base da pirâmide, justamente a parcela que sente, imediatamente, a perda do auxílio e não tem como se sustentar com uma economia frágil e taxa de desemprego elevada. O Ministério da Economia faz de conta que não vê o problema e diz que confia nos mecanismos de mercado, ou seja, que uma recuperação da atividade no primeiro trimestre vai colocar tudo no lugar e propiciar o “desmame” das políticas públicas implementadas em 2020.

Trata-se de uma aposta política e economicamente muito arriscada e que, a cada dia que passa, mais parece impossível de dar certo. Na ausência de ações por parte do Executivo, logo depois da eleição dos Presidentes da Câmara e do Senado, o Poder Legislativo vai ter que repor medidas de apoio a famílias e empresas, nos moldes das de 2020, com valores menores e mais curtas no tempo. Não haverá alternativa, nem quando se pensa na emergência social de tais medidas – amparar as famílias mais pobres –, nem quando se observa a atividade econômica no curto prazo. O clima geral, inclusive com a discussão sobre o impeachment, vai exigir tais iniciativas, a despeito da vontade do Ministério da Economia.

Preso a seus dogmas fiscais e indiferente ao que se discute no resto do mundo, mesmo por instituições consideradas historicamente conservadoras, como o FMI, o Ministério vai repetir a postura tímida de março de 2020 e acabar sendo atropelado pelo Congresso.

Há momentos em que é imprescindível a presença forte do Estado. A pandemia mostrou isto de forma irrefutável no mundo inteiro, até mesmo no Brasil. Infelizmente, a pandemia e seus efeitos negativos ainda não acabaram, o que vai exigir do governo políticas fiscais ativas neste momento de excepcionalidade. Ainda que o Ministério as evite – por dogmatismo e/ou para agradar apoiadores na grande imprensa, no sistema financeiro ou mesmo no setor produtivo –, a realidade e a voz das ruas vão exigi-las.

(*) Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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