Um antigo moinho de farinha na esquina das ruas Sete de Abril e Emancipação, no bairro Floresta, dará lugar ao prédio mais alto de Porto Alegre nos próximos anos. O alvará de construção foi liberado em outubro do ano passado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade. A Bewiki Participações, empresa responsável pelo projeto, também recebeu este ano do Comando da Aeronáutica a autorização para a implantação da torre de 117 metros de altura. O documento emitido pelo Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, informa que o empreendimento atende ao disposto na norma ICA 11-408 que dispõe sobre os limites que os objetos podem se projetar no espaço aéreo sem afetar a segurança e a regularidade das operações aéreas.
O projeto arquitetônico foi o primeiro a ser beneficiado após a sanção da Lei Complementar 960/2022 que instituiu o Programa +4D de Regeneração Urbana do 4° Distrito, que flexibiliza os parâmetros urbanísticos do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental e concede benefícios para empreendimentos da região. Até então, a altura máxima permitida para os edifícios do 4º Distrito era 52 metros.
A nova edificação prevê unidades residenciais, hospital, studios, coworking, supermercado, lojas e um rooftop, e deverá preservar a fachada do Moinho. Por sua relevância histórica, o edifício foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural Estadual e não pode ser demolido.
O prédio, inaugurado em 1941 para abrigar a fábrica de farinha Moinhos Germani, pertenceu à família de imigrantes italianos Germani. Naquela época, a região era bastante requisitada para a instalação de indústrias por conta de sua proximidade com os rios Gravataí e Delta do Jacuí, que favoreciam o escoamento da produção. Além disso, ali passava uma antiga linha férrea que conectava a Capital a outras regiões do Estado e facilitava o abastecimento dos grandes armazéns. O prédio foi vendido à empresa Molinos Incorporadora, que tem como sócia a BP Consultoria Empresarial, de Eduardo Gastaldo, proprietário da Bewiki, autora do projeto.
Em 2015, ainda sob a administração do ex-prefeito, José Fortunati (PDT), a Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou o projeto de Lei Complementar que concedia isenção de impostos como IPTU, ITBI e ISSQN às empresas que se instalassem nos bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Humaitá e Farrapos com a intenção de revitalizar do 4º Distrito. Nesse mesmo ano, o Executivo municipal firmou uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para a criação de um projeto para a região. Um ano depois, a UFRGS apresentou o Masterplan do 4º Distrito. A proposta era focada em atrair empreendimentos na área de inovação e tecnologia e instituições de diversos setores como arte, cultura, saúde e bem-estar, mas a implantação do projeto não foi para frente.
A requalificação do prédio-sede do antigo Moinhos Germani já havia sido idealizada pela arquiteta Fernanda Germani. Trineta do fundador da fábrica de farinha, Aristides Germani, ela criou, para seu Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS, o “Complexo Moinhos Germani”. Baseado no mesmo modelo de iniciativa desenvolvido para o Masterplan, o projeto previa diversos espaços para gastronomia, lazer, moradia compartilhada com lofts para aluguel e coworking para ocupar toda a construção existente. Segundo Fernanda, a ideia ao desenvolver o estudo, era homenagear as origens da família e também resgatar o patrimônio histórico. Quando soube que o prédio seria revitalizado, ela chegou a enviar seu trabalho ao novo proprietário do local. No entanto, o empreendimento que será desenvolvido pela Bewiki Participações não tem relação com seu projeto.
*Esta publicação foi atualizada no dia 26 de dezembro de 2023 para corrigir uma informação após a empresa Bewiki Participações enviar documento que atesta a autorização da Aeronáutica para a implantação do empreendimento.
