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8 de dezembro de 2012
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18:51

Arena marca o início da mudança no velho futebol brasileiro

Por
Sul 21
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Arena no Grêmio | Foto: Wesley Santos/PressDigital

Não será apenas a inauguração do novo estádio do Grêmio, depois de 58 anos no Olímpico, nem uma simples mudança da Azenha para o bairro Humaitá. A partir deste sábado, o torcedor brasileiro – neste primeiro momento, o do Grêmio – começará a perceber a imensa diferença que sempre o separou do europeu. Vai entender por que jornalistas mais experientes insistiam que o futebol nacional, tantas vezes campeão, só atingiria a maioridade como espetáculo no momento em que passasse a considerar o torcedor, de fato e de direito, como cliente de um espetáculo – com direitos e deveres bem determinados e respeitados. Os clubes nunca ligaram muito para o conforto do torcedor. A Arena será o primeiro, mas em seguida o Brasil terá 12 novos (ou reformados) estádios, mais o futuro Parque Antárctica, do Palmeiras. Todos no padrão Fifa, ambientes que o sempre desrespeitado torcedor brasileiro nunca teve.

A abertura da Arena (com festa e amistoso contra o Hamburgo, às 22h) será seguida pelas inaugurações dos estádios de Fortaleza e de Belo Horizonte, ainda este ano. Na sequência, Maracanã, Brasília, Salvador e Recife, ainda nos primeiros meses do ano. Depois, Manaus, Cuiabá, Curitiba, São Paulo (Itaquerão), Porto Alegre (Beira-Rio) e Natal, além da Arena do Palmeiras. No total, 14 estádios com o padrão daqueles que você costuma ver pela televisão nos campeonatos europeus – e que, nos seus sonhos de torcedor, imaginou se um dia veria por aqui. Pois bem, eles estão chegando. Por necessidades dos clubes ou da organização da Copa, concorde-se ou não com a decisão do Brasil de organizar a competição promovida pela Fifa, o país entra na fase em que terá novos estádios por sequência, com inaugurações em quase todos os meses.

Quando superar as dificuldades de acesso ao Humaitá, neste sábado, entender os caminhos até o estádio e entrar na Arena, o torcedor do Grêmio já perceberá as diferenças. Terá setores bem localizados, 250 banheiros à disposição, bares, corredores amplos e lugar marcado. Basta ir até lá e se acomodar. Dificilmente terá alguém ocupando seu lugar porque a própria organização inibe estas atitudes, mas se houver algum intruso basta chamar um dos funcionários responsáveis pela orientação. Verá telões com imagens em alta definição e equipamentos que nunca fizeram parte dos estádios brasileiros. E tudo isso passará a ser comum ao menos em 14 estádios do futebol brasileiro até o fim de 2013.

A mudança será tão grande que certamente haverá alguma dificuldade de adaptação até que o público se habitue com os novos ambientes. Regra um, por exemplo: é preciso respeitar os lugares marcados, evitando o constrangimento da troca – ou da discussão pela posição no estádio. É uma, mas há outras bem mais importantes, como a de perceber que é preciso zelar pelo local para que aquele conforto seja preservado. Destruir equipamentos, como alguns torcedores fazem em momentos de raiva, de euforia ou até de despedida, como os que arrancaram cadeiras no Olímpico, deteriora o próprio ambiente que o público passará a frequentar. Há outras etapas deste processo educativo. Em princípio não haverá alambrados, mas o torcedor vai precisar entender que aquele pequeno muro não é um convite para invadir o campo. Todos terão de aprender a respeitar seu próprio espaço.

Estes são os aspectos positivos da mudança. O negativo é que o futebol ficará cada vez mais caro e elitizado. Prepare-se. Para manter estádios com todo este conforto, os clubes vão cobrar muito mais caro e certamente avançar para a ocupação total por associados, aqueles que garantem uma renda fixa mensal aos cofres. O velho público do futebol, que deu origem e consagrou o esporte como a grande paixão nacional, que frequentava populares, muitas vezes deixava de comer para ir aos jogos, será afastado dos estádios. Não terá condições de pagar pelos ingressos, nem de tirar o dinheiro da mensalidade a cada mês. Para este público, o futebol ficará restrito à televisão ou ao ambiente dos bares.

É o pesado ônus da modernização e das exigências que a própria torcida faz aos clubes. Mais investimento, mais necessidade de dinheiro, contratações de jogadores importantes, mais caro fica ir aos estádios. Vale a pena? Quando a Arena abrir seus portões neste sábado, o torcedor do Grêmio começará a ter a resposta. Vai descobrir que o futebol brasileiro está entrando em nova fase: muda o ambiente, mas muda em parte também o público das arquibancadas. Nem todos poderão pagar pelo conforto.


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