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11 de junho de 2011
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14:01

Tarso na Espanha: “Temos que nos conectar ao mundo em vez de permanecer colonizados”

Por
Sul 21
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Por Alexandre Cruz, de Madri, especial para o Sul21

Depois de uma semana na Coreia do Sul, o governador Tarso Genro passou esta semana na Europa, mais especificamente na Espanha. Após cumprir uma agenda pessoal às suas expensas, uniu-se à missão formada por outros quatros secretários — Estilac Xavier, da Secretaria de Governo; Marcelo Danéris, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social; Abgail Pereira, do Turismo, e Luiz Fernando Mainardi, da Agricultura — além de empresários. Lá, concedeu entrevista exclusiva ao Sul21.

Sul21: Qual é a avaliação que o senhor faz da viagem?

Tarso Genro: Na verdade, a viagem teve três agendas. Uma agenda econômica, industrial, que foi a agenda da Coreia, a qual foi extremamente importante para o Rio Grande do Sul. Houve uma segunda agenda, pessoal, onde retomei contatos históricos que tenho com acadêmicos e quadros políticos da maior responsabilidade pública, como o Ministro do Interior e vice-presidente Rubalcaba, além de dirigentes das centrais sindicais. E há uma terceira agenda que você está presenciando hoje, uma articulação institucional para grandes eventos que ocorrerão no segundo semestre no Rio Grande do Sul, entre eles o Seminário Internacional do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Desta forma, foram três agendas altamente positivas que vão culminar com a viagem de volta a partir de Lisboa, o que para nós é extraordinariamente positivo porque, pela primeira vez na história Porto Alegre, haverá um voo direto pela TAP de Lisboa a Porto Alegre. Este é o leque de movimentações que fizemos neste período.

Sul21: E o encontro do Secretário da Agricultura Luiz Fernando Mainardi com os empresários que produzem azeite de oliva em Portugal?

TG: Temos alguns secretários que estão realizando agendas específicas. Cada um na sua área. Mainardi estará neste sábado no almoço em que estamos apresentando a carne gaúcha – que chamamos modestamente “a melhor carne do mundo”. É uma disputa que pretendemos fazer na Europa que parte da qualidade de nossa carne. Visa reforçar a cadeia produtiva do Estado e a qualificação do gado de corte.

Sul21: Essas missões têm verdadeiro potencial para alterar a economia gaúcha?

TG: Nós, do Rio Grande do Sul, estamos interessados em promover uma mudança no modelo de desenvolvimento do Estado. O modelo de desenvolvimento promovido pelo sucessivos governos está esgotado. Era um modelo que se baseava na atração de grandes investimentos de grandes montadoras. Tanto é que houve uma disputa, nestes últimos 20 anos, para ver quem trazia mais montadoras. A nossa visão é diversa. Temos que atrair montadoras, sim, mas só isto é insuficiente para modernizar tecnologicamente o Estado, para qualificar nossa base produtiva e nos conectar de uma maneira competitiva ao comércio mundial e ao mercado brasileiro. Então, a nossa visão, além de realizar a atração de grandes investimentos, é também a de estabelecer relações com médias e pequenas empresas de alta tecnologia para reforçar nossa base produtiva. Com isto, geraremos associações que promovam de maneira integrada e capilarizada o desenvolvimento do Estado, não somente através de montadoras que têm um raio de influência muito pequena em determinadas regiões e que de resto não são instituições que capilarizam o desenvolvimento de todo o estado, o qual é uma questão crucial que temos que enfrentar particularmente na Metade Sul.

Sul21: Governador Tarso, qual é a diferença da reunião com os empresários que aconteceu no ano passado em Madri e as reuniões de ontem e hoje?

TG: A reunião de dezembro foi uma reunião de aproximação. Não havia proximidade orgânica entre os governos. Estas reuniões que fizemos ontem em empresas e na confederação dos empresários foram já objetivando trabalhos conjuntos. Eles se inteiraram dos dados que  trouxemos, têm interesse em investir em outros países e este interesse gerou uma reunião a fim de que eles tivessem um melhor conhecimento do Rio Grande do Sul. As relações da comunidade empresarial espanhola com o Rio Grande do Sul são relações antigas, mas de poucas, talvez meia dúzia de empresas. Temos relações antigas do Santander com o Rio Grande do Sul, há empresas que produzem energia eólica, empresas hoteleiras, etc., mas não existia uma atenção às características da base empresarial no Estado. E é isto que está sendo redescoberto.

Sul21: Como o senhor responde as críticas do deputado estadual Giovani Feltes com relação a sua viagem para a Europa e Coreia?

TG: Acho uma crítica normal. Primeiro lugar, são deputados da oposição e deputados que têm uma visão diferente das relações internacionais. A nossa visão das relações internacionais está cristalizada, inclusive em nosso lema eleitoral: Rio Grande do Sul, Brasil e o Mundo. É nossa compreensão de que a economia do Rio Grande do Sul só vai se modernizar tecnologicamente e crescer em níveis avançados se efetuarmos trocas, se nos conectarmos ao mundo em ver de permanecer apenas colonizados. Temos que ser ofensivos e estabelecer relações que promovam a base produtiva do Estado a um outro patamar de desenvolvimento. Então, eu diria que é uma crítica paroquial de um deputado que tem uma visão paroquial política e do próprio desenvolvimento.

Sul21: O vice-Presidente e Ministro do Interior, Alfredo Rubalcaba, esteve reunido com o senhor. O que foi tratado?

TG: Trocamos informações e opiniões acerca da situação brasileira e espanhola. Discutimos a forma de integração destes movimentos chamados alternativos na esfera da política. Ele tinha muita curiosidade de saber como estamos tratando o sistema de participação popular que envolve o Orçamento Participativo, o Conselho de Desenvolvimento e o Gabinete Virtual. É uma percepção comum que surge neste momento aqui na Espanha e Europa: estão ocorrendo movimentos alternativos que não se comunicam politicamente com os partidos, não se comunicam diretamente com a esfera da política. Trocamos opiniões a respeito deste assunto  importantíssimo no processo eleitoral da Espanha, porque estes movimentos não são efêmeros. São, na verdade, sintomas muito graves de um desconforto de determinadas áreas da sociedade e sinais de um desejo de inclusão social de uma parte da sociedade. Particularmente dos jovens que não têm tido uma oportunidade de inclusão em países como a Espanha, Portugal e Grécia.


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