Opinião
|
13 de novembro de 2023
|
08:28

Pessoas com deficiência no conflito armado (por Flávia Carolina de Resende Fagundes)

Destruição causada pelos ataques israelenses em Gaza. Foto: UNRWA
Destruição causada pelos ataques israelenses em Gaza. Foto: UNRWA

Flávia Carolina de Resende Fagundes (*)

Os ataques a Faixa de Gaza deixarão centenas de crianças e adolescentes com algum grau de deficiência. Mas esse não é o único efeito sobre o tema. Conflitos armados exacerbam as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência, tornando este grupo um dos mais vulneráveis nesses contextos, um aspecto que pouco se fala, em parte pela constante invisibilização desses indivíduos.

O número exato de pessoas com deficiência na Faixa de Gaza é incerto, as estimativas até 2022 variam entre 2,1 e 7% da população, considerando todos os territórios palestinos. O Centro Palestino para os Direitos Humanos estima que cerca de 49 mil pessoas com deficiência vivem na Faixa de Gaza, essas pessoas agora são uma das mais afetadas pelo conflito, contingente que tende a crescer com o prolongamento dos ataques.

A piora da condição de vida desses indivíduos decorre de diversos motivos. O colapso das redes de assistência limita seu acesso a saúde e reabilitação, o que pode ter efeitos duradouros em sua saúde física e mental. E mais grave, suas restrições nesse cenário caótico dificulta a autoproteção e a locomoção. Você já imaginou não conseguir ouvir as bombas caindo ou ver um refúgio e não ter como correr para buscar proteção?

De acordo com a International Disability Alliance (2023), os planos de evacuação muitas vezes não são concebidos de forma acessível. Consequentemente, muitas pessoas com deficiência sensorial, como pessoas cegas e com baixa visão, surdas e com deficiência auditiva, e aquelas com surdo-cegueira, não compreendem como aceder à segurança e assistência limitadas disponíveis. O nível de estigma e ignorância contra pessoas com deficiência intelectual e pessoas com deficiência psicossocial aumenta durante os conflitos, colocando-as em maior risco de serem abandonadas nas evacuações e de sofrerem violência e abusos.

Os cortes crónicos de energia na Palestina limitam fortemente a capacidade de locomoção das pessoas com deficiência que dependem de dispositivos elétricos para se deslocarem, como elevadores e scooters, e de luz para se localizarem visualmente, assim como para utilizarem a linguagem gestual com outras pessoas. 

As narrativas das pessoas com deficiência em contextos de conflito e pós-conflitos são poucos discutidas e precisam ser trazidas para o debate público para chamar a atenção para o fato de que, mesmo em meio ao caos, devemos considerar com maior cuidado as necessidades dessas pessoas.

(*) Professora de Relações Internacionais, com doutorado em Geografia e mestrado em Estudos Estratégicos pela UFRGS

***

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora