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7 de maio de 2024
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19:56

Canoas: Prefeitura estima até 60 dias para escoamento da água

Resgate de pessoas afetadas pela enchente em Canoas | Foto: Divulgação/Prefeitura de Canoas
Resgate de pessoas afetadas pela enchente em Canoas | Foto: Divulgação/Prefeitura de Canoas

Por Valentina Bressan

Nessa segunda-feira (6), em coletiva de imprensa, a Prefeitura de Canoas declarou que a inundação de dois terços da cidade deve ser duradoura: a estimativa é de 45 a 60 dias para que as águas voltem ao nível regular. Em diferentes pontos do município, a profundidade da água varia entre 4 e quase 6 metros. 

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“As estimativas não são tão positivas. Vamos orar a Deus e trabalhar para que escoe o mais rápido possível, mas estudos preliminares apontam de 45 a 60 dias para retirada de todas as águas”, indicou o prefeito Jairo Jorge, em coletiva de imprensa realizada na tarde de segunda. O prazo agora será consolidado com auxílio do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da MetSul, de acordo com a gestão. 

No final de semana, cenas de resgates de pessoas ilhadas e de uma multidão de canoenses deixando suas casas tomaram as redes sociais. Com a demanda de pedidos de resgate, a Defesa Civil não pôde responder individualmente a cada chamado, e as solicitações de ajuda mobilizaram voluntários. 

A parte oeste da cidade foi atingida quase por inteiro. Os bairros Mathias Velho, Rio Branco, Mato Grande, Harmonia, Fátima, São Luís, Cinco Colônias, Central Park, Vila Cerne e Santo Operário receberam alertas de evacuação. Moradores do bairro Niterói, na parte leste do município, também foram orientados a deixar suas casas. A Prefeitura estima um total de 180 mil habitantes atingidos pela enchente. Os 61 centros para desabrigados já acolhem cerca de 17 mil pessoas. 

O coronel Zanini, coordenador regional da Defesa Civil, que acompanhou o prefeito na coletiva, considera Canoas o “município do estado com maior quantidade de pessoas desabrigadas, que requer maior atenção”. 

A fase mais crítica de resgates já foi concluída, segundo o coronel da Brigada Militar Gonçalves, que acompanhou a coletiva e declarou que 90% do trabalho de resgate havia sido concluído na tarde de domingo (5). O militar afirma que ainda há resgates sendo feitos nesta semana, mas principalmente de pessoas que haviam preferido permanecer nas casas inicialmente e que, agora, desejam sair. 

Com auxílio da Polícia Civil, uma lista de desaparecidos no município está sendo elaborada. A Prefeitura disponibilizou, na segunda-feira, uma lista das pessoas abrigadas e resgatadas da enchente. No entanto, voluntários dos abrigos relatam que há inconsistências devido à entrada e saída de pessoas nos locais de acolhimento.

Nesta terça-feira (7), as crianças que foram encontradas desacompanhadas de seus responsáveis foram transportadas para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Vó Babali, no centro da cidade. Antes, o Conselho Tutelar do município e a Defensoria Pública estavam acolhendo as crianças na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), o centro de abrigamento com maior número de pessoas.

Até o momento, dois óbitos causados pela enchente foram confirmados. Outros três óbitos ocorreram no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Canoas, mas não estão sendo atribuídos à enchente. Devido à cheia, pacientes precisaram ser transferidos de andar no sábado (4) e três pacientes não resistiram à transposição. Circulou nas redes sociais um relato de que todos os pacientes do HPS teriam falecido durante a enchente, mas a Prefeitura esclareceu que se tratava de uma fake news. 

 

Operação de resgate com o helicóptero do Corpo de Bombeiros na Região Metropolitana (FOTOS: LAURO ALVES/SECOM)

As emergências médicas estão sendo direcionadas para o Hospital Nossa Senhora das Graças, mas a população já enfrenta dificuldades na saúde para além da enchente. O aposentado Walmor Oliveira, de 70 anos, realizou uma cirurgia na vesícula na sexta-feira (3), após meses de espera, no Hospital Universitário da Ulbra. 

Com o aumento da demanda no hospital, Walmor teve de ser liberado para passar o período pós-operatório em casa – mas sua casa, no Mathias Velho, já havia sido coberta pela enchente. “Ele não tem como ficar em um abrigo, dormindo no chão, por risco de romper os pontos, nem compartilhar o espaço com animais – estamos com cinco – por risco de infecção”, conta seu neto, Rafael Pereira, jornalista. “Vamos assumir o risco de tentar levar ele para Porto Alegre, para ficar na casa de uma tia minha, com um pouco mais de conforto”. 

Além do HPS, quatro Centros de Atenção Psicossocial foram perdidos, bem como 3 Unidades de Pronto Atendimento e 19 das 27 Unidades Básicas de Saúde. Três farmácias distritais também estão inundadas. O plano da administração municipal é instalar três hospitais de campanha: um deles, viabilizado pela Força Nacional do SUS, já funciona junto ao Hospital Universitário da Ulbra. Outros dois, a serem organizados pela Força Aérea Brasileira e pelo Exército Brasileiro, serão inaugurados nos próximos dias, segundo previsão da Prefeitura. 


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