Biga Pereira (*)
O mês de setembro se tornou conhecido pela campanha do Setembro Amarelo, que tem como objetivo prevenir o suicídio e promover a valorização da vida. É preciso encarar o suicídio sem tabus, como um problema de saúde pública que afeta pessoas de todas as idades, gêneros e origens em todo o planeta.
O capitalismo desempenha um papel significativo nas condições sociais e econômicas que podem aumentar a vulnerabilidade das pessoas ao suicídio. A desigualdade econômica, o estresse financeiro, o acesso limitado à saúde mental e a desumanização no local de trabalho são apenas alguns dos fatores que precisam ser considerados ao abordar esse problema. A desumanização promovida por este sistema, que só visa a eficiência e lucro, termina por colocar trabalhadoras e trabalhadores como recursos descartáveis, levando a condições de trabalho precárias e inseguras, acarretando em sentimentos de desesperança e desvalorização.
A saúde mental dos trabalhadores é uma área de preocupação crescente em todo o mundo. O suicídio é uma das consequências mais trágicas e extremas da deterioração da saúde mental, e sua relação com o ambiente de trabalho exige atenção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a depressão e a ansiedade custam à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano, em grande parte devido à perda de produtividade relacionada ao trabalho. Também o assédio e discriminação, que vitimizam principalmente mulheres e pessoas negras, têm um impacto devastador na saúde mental dos trabalhadores.
Atualmente, tramita na Câmara de Porto Alegre um projeto de minha autoria, que institui a Campanha Permanente de Fortalecimento da Saúde Mental de Trabalhadoras e Trabalhadores junto aos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador no Município de Porto Alegre, pelo SUS. O objetivo principal desta lei é promover ações de incentivo ao acompanhamento clínico especializado, visando ao fortalecimento da saúde mental de trabalhadoras e trabalhadores. Precisamos de mais medidas assim, que disponibilizem o atendimento à saúde mental de forma gratuita e democrática, através do Sistema Único de Saúde.
Antes de julgar as motivações de uma pessoa, precisamos ter empatia e saber ouvir atentamente e perceber os sinais. Uma das principais mensagens do Setembro Amarelo é a importância de conversar abertamente sobre a saúde mental. Muitas pessoas que estão enfrentando pensamentos suicidas se sentem isoladas e com vergonha de buscar ajuda. Ao criar um ambiente em que o diálogo seja encorajado e acolhedor, podemos ajudar aqueles que estão sofrendo a compartilhar seus sentimentos e buscar apoio.
Promover a conscientização sobre saúde mental – também no local de trabalho-, educar funcionários e gestores sobre sinais de alerta do suicídio, implementar políticas que promovam o acesso a apoio psicológico, pautar o suicídio como um problema de saúde de toda a sociedade e disponibilizar os meios de tratamento pela rede pública, são algumas medidas de valorização da vida de trabalhadoras e trabalhadores que podem fazer diferenças significativas e salvar vidas. É preciso combater o estigma relacionado à saúde mental, criando um ambiente onde as pessoas se sintam à vontade para buscar ajuda.
A prevenção do suicídio requer um esforço coletivo, onde a sociedade como um todo tem um papel fundamental, ao criar um ambiente de apoio e compreensão. A valorização da vida deve ocorrer durante todo o ano, não apenas em setembro.
(*) Vereadora – PC do B – Porto Alegre
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