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6 de maio de 2024
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19:49

À beira do Guaíba, Pontal Shopping é convertido em centro de resgate e solidariedade

Por
Luís Gomes
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Shopping Pontal serve de espaço de resgate para moradores de Eldorado do Sul | Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Shopping Pontal serve de espaço de resgate para moradores de Eldorado do Sul | Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Inaugurado em abril de 2023 no bairro Cristal, às margens do Guaíba, o Pontal Shopping é um empreendimento que saiu do papel após décadas de mudanças polêmicas de legislações e questionamentos de ambientalistas de Porto Alegre. No entanto, em meio às inundações que atingem o Rio Grande do Sul desde a última semana e, especialmente, a Região Metropolitana nos últimos dias, o centro comercial se transformou em algo diferente.

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Ao longo do domingo, foram cerca de 500 pessoas de Eldorado do Sul, Guaíba e das ilhas de Porto Alegre. Nesta segunda, a expectativa era de receber ao menos mais 500. O local não virou apenas um ponto de chegada. Ao longo do final de semana, foi se tornando um verdadeiro centro de resgate, triagem e recebimento de doações.

A operação funciona da seguinte forma: na água, quem faz a gestão são as forças federais; o primeiro contato com os resgatados fora da água é feito pela Brigada Militar; dentro do shopping, quem organiza é a Polícia Civil. Mas quem faz toda a operação de acolhimento, na prática, são as centenas de voluntários que estão atuando no local. Segundo Adriano, na manhã desta segunda-feira (6), eram pelo menos 100, com uma lista de espera de interessados em ajudar. Isso sem contar quem estava ajudando no resgate no Guaíba.

 

Foto: Isabelle Rieger/Sul21

As operações de resgate estão sendo feitas por jets skis, botes, lanchas e embarcações de variados tamanhos. Cada perna da viagem para Eldorado do Sul, cidade com o maior número de pessoas a serem resgatadas, leva 45 minutos, com o tempo variando a depender da correnteza no Guaíba.

Após o desembarque no Pontal, os resgatados são encaminhados para um primeiro atendimento. Ali é feita a triagem. Em seguida, recebem  acolhimento para os próximos passos.

Após o atendimento médico, os resgatados entram no prédio, onde dão de frente com bancas onde estão milhares de peças de roupa, das quais podem pegar as que melhor servirem. Vestiários do shopping foram cedidos para a troca de roupa e higiene inicial. Na sequência, recebem um lanche.

Quem chega com animais de estimação, pode deixá-los junto a um grupo de veterinários voluntários que faz exames básicos. Para as pessoas que, mesmo após o atendimento médico inicial, ainda precisam de algum tipo de cuidado, há também uma posto médico formado por voluntários dentro do centro comercial.

 

| Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Cumpridas essas etapas, são encaminhados para uma área de descanso e espera, onde psicólogos se disponibilizaram para conversar com os resgatados. Enquanto esperam, o time de comunicação faz o contato com a base de abrigos municipais para verificar onde há vagas. Ou contata familiares e amigos que possam vir buscar os resgatados.

“Quando chega a informação de que tem vaga em algum lugar, a gente entra em contato, verifica com o está a situação. Quando vamos mandar alguém, a gente confirma. Se tem um familiar em algum abrigo, entramos em contato e tentamos encaminhar para esse abrigo. Mas a imensa maioria das pessoas que estão chegando hoje estão indo para casas de amigos e parentes”, diz Vinícius Giordani, que está trabalhando no encaminhamento dos resgatados.

Quando a reportagem visitou o local, Tânia Maria da Silva aguardava na área de descanso para ser levada ao sítio de um amigo. Moradora do bairro Sans Souci, em Eldorado do Sul, ela teve a casa tomada pela água e até esta manhã estava junto com outros 12 familiares em um sobrado. “Quando a água chegou, tivemos que nos mudar todo o pessoal”, conta.

A família inteira foi resgatada nesta segunda. “O importante é que a gente está bem e estamos juntos. Um amigo nos trouxe e estamos muito bem aqui. “Nossos parentes, tem muitos que não sabiam onde nós estávamos, porque nós não tínhamos comunicação, não tínhamos nada para poder chegar até os parentes. Então, somos nós preocupados com eles e eles com a gente”.

 

Foto: Isabelle Rieger/Sul21

A última etapa é a da carona solidária. Uma vez identificados, eles são então encaminhados para abrigos ou para a casa de amigos ou familiares. Caso não haja ninguém para buscá-los, um grupo de voluntários está à espera para oferecer uma carona solidária para o destino, deixando o local pelo portão G. O shopping, oficialmente, permanece aberto, com acesso no portão A, mas quase a totalidade das lojas estava fechada nesta segunda.

Adriano Nepomuceno, que está atuando na coordenação do voluntariado do ponto de resgate do Pontal, conta que o sistema foi organizado de forma “orgânica” na noite de domingo.

“Muitos dos voluntários vieram ontem, porque esse ponto de resgate surgiu espontaneamente no Pontal. Como era domingo, tinha muitos curiosos, estava muito movimentado e a gente, junto com as forças policiais, aprendeu muito. Durante a noite, um grupo de voluntários desenhou esse processo com essas ilhas de atendimento e, hoje de manhã, a gente basicamente delimitou os espaços, determinando uma coordenação para cada uma dessas ilhas, desde o acolhimento até a carona solidária. Os voluntários se falam o tempo todo para ir aprendendo e ajustando os processos. Do tipo: os familiares vêm procurar alguém perdido ou alguém já para dar carona. A gente tem uma base de dados criada a partir do nosso cadastro e do cadastro da Brigada Militar”, explica.

Além de ser um dos principais pontos de resgate da Capital, o shopping também tem recebido doações. De acordo com os encarregados, todos os tipos de doações são aceitas no portão B do shopping, mas a maior necessidade para a operacionalização do centro são lanternas para ajudar no resgate e carregadores de celular para facilitar que os resgatados contatem familiares e conhecidos após chegarem. Todas as doações que não são destinadas imediatamente para os resgatados são enviadas à Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) — Av. Ipiranga, 5311 –, que é um dos centros de recebimento oficiais da Prefeitura.

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Foto: Isabelle Rieger/Sul21
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