Opinião
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28 de setembro de 2022
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14:49

Futebol gaúcho, eleições 2022 e políticas privatistas: precisamos falar sobre isso! (por Fabíola de Carvalho e Nicolas Alcântara)

Hoje o Banrisul é o maior patrocinador dos times Grêmio e Internacional (Divulgação)
Hoje o Banrisul é o maior patrocinador dos times Grêmio e Internacional (Divulgação)

Fabíola de Carvalho e Nicolas Alcântara (*)

O Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul), criado em 1928 por Getúlio Vargas, tem, como valor central desde sua concepção, a promoção do desenvolvimento econômico e social do estado. Preocupação que se alicerça em seus números: com mais de quatro milhões de clientes e cerca de 500 agências, o banco está presente em mais de 100 municípios do Rio Grande do Sul, sendo a única instituição bancária em mais de 80 cidades gaúchas. A presença e o olhar aos municípios menores se tornou uma marca do Banrisul, que passou a consolidar local de importância como provedor de políticas públicas de acesso a financiamento e integração das populações fora do eixo metropolitano – diferentemente de bancos privados, por exemplo, que acabam focando em municípios maiores, que tenham potencial para maior lucratividade.

Na seara deste comprometimento com o desenvolvimento do Rio Grande do Sul, a instituição ainda promove, apoia e financia projetos em diversas frentes: cultura, esporte, agricultura, meio ambiente e comércio, por exemplo. No campo cultural, patrocina e apoia eventos, exposições, produções audiovisuais, filmes, teatros e museus. Reforçando o comprometimento com uma de suas bases de trabalho, o Banrisul tem se consolidado como uma das instituições financeiras que mais apoiam o agronegócio gaúcho, com foco no crescimento dos pequenos e médios produtores. Além de recentemente ter anunciado a oferta de sete bilhões de reais em crédito agrícola para a próxima safra (Plano Safra 2022/23), o banco ainda destina verbas para o Pronaf Mais Alimentos – apoio financeiro para produtores da agricultura familiar. Aliando agricultura, desenvolvimento social e sustentabilidade, desde 2008, o Programa Sementes Banrisul orienta estilos de agricultura de base ecológica e estratégias de desenvolvimento rural sustentável, estimulando a produção de alimentos de base agroecológica e orgânica que garantem soberania alimentar, geração de renda e desenvolvimento local para comunidades.

Além destas e de variadas outras ações de inclusão social e desenvolvimento econômico, o Banco do Estado se faz presente em algo que os gaúchos (literalmente) carregam no peito: seu time de futebol de coração – e as camisas que vestem semanalmente para o mais tradicional rito esportivo. Para a instituição, além de um momento de lazer, o esporte deve ser visto como uma importante atividade econômica que gera emprego e renda para diversas comunidades. Neste sentido, hoje o Banrisul é o maior patrocinador dos times Grêmio e Internacional e, em 2021, comemorou 20 anos de investimento nos clubes. Além da Dupla Gre-Nal, desde 2015 a empresa promove o ‘Programa Banrisul em Campo’, que busca patrocinar os clubes do interior do estado, reafirmando seu compromisso com o desenvolvimento econômico e social de todas as regiões do RS. Em 2022, também patrocina Juventude, Caxias, Brasil de Pelotas, São José, São Luiz e Ypiranga. O banco também apoia outras modalidades, como judô, atletismo, basquete, esportes náuticos, futsal, ginástica artística, tênis e voleibol.

Em um contexto de crescimento da presença de instituições privadas em clubes de futebol brasileiros (Sociedade Anônima do Futebol – SAF) [1], nosso objetivo aqui é levantar a reflexão sobre as recorrentes tentativas dos setores de centro-direita e direita de privatização do Banco do Estado do Rio Grande do Sul e suas consequências para o futebol gaúcho. Para além de toda a importância política, social e econômica do Banrisul, questionamos, aos amantes de futebol, às torcidas organizadas, aos conselheiros e dirigentes dos clubes, quais os impactos de uma possível privatização da instituição para os times gaúchos e para as competições locais, tendo em vista a sua relevância nas receitas, e, consequentemente, na manutenção dos clubes e nas folhas de pagamento de jogadores, preparadores e comissão técnica?

Que garantias teríamos? O discurso privatista promete melhorias que não ocorrem, e, na realidade, o que recebemos são riscos e precariedade. Eduardo Leite, antes de abandonar o Governo do Estado, privatizou a CEEE, e os resultados foram o aumento exorbitante da tarifa para a população e a queda abrupta da qualidade dos serviços. Em abril deste ano, moradores do Estado chegaram a ficar 10 dias sem luz após um temporal. Na atual corrida eleitoral, Eduardo Leite e Onyx Lorenzoni representam a sanha privatista de setores pouco sensíveis às demandas sociais, que demonstram ínfima preocupação com as consequências das vendas de instituições estatais. Mas a ti, torcedor xavante, da dupla Ca-Ju, da dupla Gre-Nal, do Zequinha, do São Luiz e do Ypiranga, que se importa com os jogos do nosso torneio raiz (o Gauchão) e com toda a cadeia produtiva envolvida, que sabe da importância dos empregos diretos e indiretos desses setores e das histórias e dos sonhos dos atletas de clubes patrocinados pelo banco do nosso estado, perguntamos: quais as consequências da entrega de um patrimônio do povo gaúcho para bancos alheios à nossa realidade local? 

Nota

[1] A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é um tipo específico de empresa, criado pelo Congresso em 6 de agosto de 2021, por meio da Lei 14.193/2021. A legislação estimula que clubes de futebol migrem da associação civil sem fins lucrativos para a empresarial.

(*) Fabíola de Carvalho é mestra e doutoranda em Antropologia Social pela UFRGS. Nícolas Alcântara é analista graduado e mestre em Políticas Públicas pela UFRGS.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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