Opinião
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8 de agosto de 2022
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07:00

Eu assinei a Carta (por Odilon Marcuzzo do Canto)

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Odilon Marcuzzo do Canto (*)

No dia oito de agosto de 1977, em plena ditadura militar, o professor Godofredo da Silva Teles Júnior, leu a CARTA AOS BRASILEIROS. Candente documento contra o então governo militar, conclamando o restabelecimento do Estado de Direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Dia 11 próximo, nas mesmas centenárias arcadas da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, será lida a CARTA ÀS BRASILEIRAS E BRASILEIROS EM DEFESA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. 

Eu sou um dos mais de setecentos e cinquenta mil patriotas signatários. 

Assinei a CARTA porque acredito no Estado democrático como o único modelo político capaz de garantir o avanço do processo civilizatório da humanidade.

Assinei a CARTA porque acredito em eleições livres e periódicas como o único meio de assegurar aos candidatos eleitos a legitimidade representativa da sociedade.

Assinei a CARTA porque acredito no sistema brasileiro de urnas eletrônicas, auditadas e testadas, e que vem garantindo a lisura e a legitimidade dos pleitos democráticos desde 1996.

Assinei a CARTA porque quero ver derrotada em eleições livres uma forma de governo que, embora eleita democraticamente, tem atuado em palavras e ações para desestruturar o estado democrático na direção de um autoritarismo retrógrado. 

Assinei a CARTA porque quero ver derrotada em eleições livres uma forma de governo que, embora eleita democraticamente, vem sistematicamente destruindo o eixo portador de futuro da nação que é o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação, relegando o país à um papel subalterno no concerto das nações.

Assinei a CARTA porque quero ver derrotada em eleições livres uma forma de governo que, embora eleita democraticamente, modifica a legislação existente, incentivando a propriedade e o uso de armas de fogo, num país que, segundo o Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas (UNODOC), responde por 20,4% dos homicídios no mundo, mesmo tendo apenas 2,7% dos habitantes do planeta.

Assinei a CARTA porque quero ver derrotada em eleições livres uma forma de governo que, embora eleita democraticamente, tem o despudor de, numa ação míope e eleitoreira caracterizando descarada compra de votos, editar a MP1.112/2022 desviando recursos da inovação para uma suposta renovação da frota nacional de caminhões, felizmente derrotada no Congresso.

Assinei a CARTA porque quero ver derrotada em eleições livres uma forma de governo que, embora eleita democraticamente, tem governado de costas para a população mais necessitada, conseguindo que o Brasil, tendo deixado o mapa da fome das Nações Unidas em 2014, voltasse a ter incríveis 33 milhões de seus filhos passando fome.

Assinei a CARTA porque quero ver derrotada em eleições livres uma forma de governo que, embora eleita democraticamente, tem se esmerado na destruição das instituições do estado brasileiro, como IBAMA, INPE, CAPES e outras tantas construídas ao longo de muitos anos e fundamentais na consecução dos objetivos republicanos.

E finalmente, assinei a Carta porque, repetindo as palavras do professor Goffredo naquele longínquo 8 de agosto, “queremos dar o testemunho, para as gerações futuras, de que os ideais do Estado de Direito, apesar da conjuntura da hora presente, vivem e atuam, hoje como ontem, no espírito vigilante da nacionalidade”.

(*) Eng, Civil pela UFSM (1968); M.Sc. (1979) e Ph.D. (1991) em Engenharia Nuclear pela Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA; Professor de Física Nuclear, Reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Presidente da Associação Nacional de Reitores ANDIFES (1996/97). Presidente da CIENTEC/RS (1999/2002). Diretor de P&D da FINEP (2003/05). Presidente da FINEP (2005/07). Secretário-Geral da Agência Brasileira-Argentina de Controle de Materiais Nucleares – ABACC (2007/16). O Prof. do Canto foi membro do Conselho Deliberativo do CNPq e do Conselho Superior da CAPES, presidente do Comitê Brasileiro de Metrologia-CBM e presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Metrologia. Presidente da Sessão Latino-Americana da Sociedade Nuclear Americana (2009-10). Membro da Sociedade Nuclear Americana e da Academia Internacional de Energia Nuclear (INEA).

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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