Opinião
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7 de junho de 2022
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18:43

É hora de unir as pré-candidaturas da esquerda para o governo do RS! (por Matheus Gomes)

Ao final do ato com Lula na Capital, os pré-candidatos Edegar Pretto e Pedro Ruas surgiram de mãos no palco.
Foto: Luís Gomes/Sul21
Ao final do ato com Lula na Capital, os pré-candidatos Edegar Pretto e Pedro Ruas surgiram de mãos no palco. Foto: Luís Gomes/Sul21

Matheus Gomes (*)

A vinda de Lula a Porto Alegre deixou uma questão em aberto para a esquerda gaúcha: é possível unir as nossas pré-candidaturas ao governo estadual? Lula demonstrou preocupação sobre a possibilidade de ter que visitar ao menos três palanques durante a campanha, já que as pré-candidaturas de Pedro Ruas (PSOL), Edegar Pretto (PT) e Beto Albuquerque (PSB) seguem posicionadas. Como lembrou Manuela D’Avila (PCdoB), o RS ainda figura como um dos poucos estados indecisos na disputa presidencial, ou seja, a junção dessas forças pode ser fundamental para uma vitória no 1° turno. No entanto, o cenário estadual nos apresenta um problema ainda maior, pois, na atual correlação de forças, corremos um grande risco de ver um 2° turno entre o desastroso continuísmo neoliberal representado por MDB e PSDB e uma radicalização autoritária desse projeto através de uma liderança bolsonarista – Onyx (PL) ou Heinze (PP). Nesse quadro, a dispersão da esquerda gaúcha também pode instigar o sentimento de desmoralização em nossa base social, o que seria um empecilho e tanto para os desafios que virão.

Há poucas semanas da definição das candidaturas é necessário falar com franqueza: a possibilidade de repetir a frente nacional no RS é improvável. A ausência de Beto e a participação discreta do PSB na agenda de Lula não expressam meros descontentamentos com os rumos das negociações a nível nacional, do contrário, esses movimentos expressam uma política regional bem definida. Beto já disse inúmeras vezes que almeja protagonismo na disputa do Piratini, após concorrer como vice-presidente, em 2014, e sair derrotado numa disputa acirrada pelo Senado, em 2018. A distância programática é a explicação de fundo dessa opção, afinal, Beto estaria disposto a desfazer o legado construído pelos seus correligionários? Faço esse questionamento, pois, além de ser base na Assembleia Legislativa, o PSB compôs o primeiro-escalão e ajudou a formular a política dos governos de José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB). A recente aproximação com Ciro Gomes e o PDT é só mais uma demonstração de que Beto não quer diálogo com as pré-candidaturas de PT e PSOL e, como diz o ditado, quando um não quer, é melhor os outros não insistirem.

Coloquemos a nossa energia na construção da aliança possível e necessária no 1° turno, a que pode ocorrer entre as duas federações partidárias que hoje representam cinco partidos, PSOL/Rede e PT/PCdoB/PV. Existem bases programáticas para desenvolver esse diálogo? Acredito que sim e início com três questões estratégicas para o RS. A primeira é a necessidade de criar um muro de contenção ao fascismo, arraigado em empresários influentes que veem o “perigo comunista” numa palestra de Luiz Fux, nos grandes do agro que disponibilizaram seus tratores para interromper estradas no último 7 de setembro ou nos segmentos de classe média que se mobilizaram semanalmente contra as medidas de restrição sanitária. A segunda é a necessidade de tirar o RS do atoleiro imposto pelo Regime de Recuperação Fiscal, que significará o congelamento dos investimentos sociais no estado que lidera o crescimento da desigualdade na região sul, ampliará as desastrosas privatizações e o arrocho do funcionalismo público. O terceiro ponto é a confluência em políticas de proteção ambiental para frear a devastação do Pampa, que sofre com a monocultura e a mega mineração, quando poderia ser terreno fértll para agricultura familiar e  agroecológica.

Buscar os pontos em comum é o primeiro exercício entre partidos que são diferentes. Aliás, na tradição de esquerda que reivindicamos, uma frente é constituída não para silenciar a diversidade, mas para provar que existem necessidades maiores na conjuntura. Esse é o caso do RS. Em cada partido, temos lideranças em condições de ocupar de forma equilibrada os espaços centrais de representação (governador, vice-governador e senado), com visibilidade e participação equânime, basta ter disposição de dialogar e, acima de tudo, ouvir o apelo das bases que clamam por essa unificação.

Não tenho dúvidas que esse processo geraria um movimento uma força centrípeta em direção ao fortalecimento das bancadas legislativas de esquerda, da mesma forma que colocaria a esquerda de vez na disputa estadual e potencializaria um amplo movimento no Estado pela vitória de Lula no 1° turno.

De imediato, todos teriam que abrir mão do que está posto, ou seja, cada qual com a sua responsabilidade, proporcional ao que representam política e socialmente no estado, precisa dar um passo em direção a unidade. É nítido que ninguém se basta só, por isso, o momento exige humildade e coerência com o desafio imposto pela realidade.

(*) Historiador, militante do movimento negro e vereador de Porto Alegre (PSOL)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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