Opinião
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14 de março de 2022
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08:24

Minas terrestres, a Síria e a mídia (por Milton Pomar)

Ainda há 110 milhões de minas terrestres no solo, em diversos países do mundo (Foto: halotrust.org)
Ainda há 110 milhões de minas terrestres no solo, em diversos países do mundo (Foto: halotrust.org)

Milton Pomar (*)

Durante o anúncio do Prêmio Nobel da Paz, em 1997, a surpresa: a premiação naquele ano foi para a Campanha Internacional para Proibir Minas Terrestres (ICBL, na sigla em inglês). Havia um total estimado de 100 milhões de minas antipessoal não-detonadas, deixadas como “lixo radioativo” no solo de 60 países, após o término de conflitos armados. Essas minas feriam 25 mil pessoas por ano, em acidentes nos quais a maioria das vítimas eram civis (oito em cada 10 vítimas) – e metade dos mortos ou mutilados eram crianças. 

A Convenção de Ottawa, de 1997, proibiu minas terrestres, e em 12 de dezembro de 2019 foi aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas a Resolução da Aplicação da Convenção sobre Proibição do Emprego, Armazenamento, Produção e Transferência de Minas Antipessoal e sobre a sua Destruição. 

Passados 25 anos do recebimento do Prêmio Nobel da Paz pela Campanha para proibir Minas Terrestres no mundo, a situação segue assustadora: segundo o relatório 2021 do Landmines Monitor, ainda há 50 milhões de minas antipessoal armazenadas; mais de sete mil pessoas foram atingidas por explosões de minas em 2019; 55 milhões de minas antipessoal foram destruídas, desde que a Proibição de Minas se tornou lei internacional em 1999; ainda há 110 milhões de minas terrestres no solo; e quantidade igual está estocada esperando para ser plantada (ou destruída). Egito (23 milhões de minas); Angola (9-15 milhões) e Irã (16 milhões) respondem por 85% do total anual de vítimas. Afeganistão, Iraque, China e Camboja possuíam dez milhões de minas cada um. 

O ritmo de remoção das minas está em 100 mil por ano. Elas custam entre US$ 3 e US$ 30, e o custo de removê-las seria de US$ 300 a US$ 1.000 por unidade – podem ser necessários até US$ 100 bilhões para retirar todas as minas hoje no solo. 

Você sabia disso? Alguma vez viu reportagem na tevê sobre esse crime de guerra continuado? E sobre a guerra na Síria, completando 11 anos agora em março, que sumiu do noticiário, apesar de já terem sido mortas 400 mil a 600 mil pessoas – nesse caso, 3% da sua população de 20 milhões, o que configura uma tragédia de grandes proporções. Somente nos primeiros dois anos foram mais de 100 mil mortos, segundo a Agência de Notícias da Organização das Nações Unidas (ONU). Relatório da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, divulgado em 9 de março de 2022, informa que “O nível de sofrimento da população da Síria atingiu um novo patamar, com a escalada recente da violência, o colapso da economia e a piora da crise humanitária”. Segundo o relatório, 90% da população da Síria está vivendo na pobreza, com 14,6 milhões dependendo de assistência humanitária, das quais 12 milhões enfrentam insegurança alimentar, e sete milhões estão deslocadas internamente.

O presidente da Comissão de Inquérito é o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, professor da USP e especialista em Direitos Humanos. Ele avalia que a guerra só está continuando, porque os dois lados acreditam que podem vencer, algo sem a menor chance de acontecer. Para ele, a guerra na Síria precisa acabar imediatamente, através de solução negociada. A mídia mundial pode ajudar muito a pressionar pela paz na Síria. 

(*) Geógrafo e mestre em Políticas Públicas

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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