Opinião
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15 de setembro de 2021
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19:18

A sucessão de 2022 pós acordo Bolsonaro-Temer (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Michel Temer e Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)
Michel Temer e Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

Uma consequência ainda pouco avaliada do manifesto divulgado na semana passada pelo presidente Jair Bolsonaro, documento que teve o ex-presidente Michel Temer (MDB) como protagonista, envolve a sucessão de 2022. A proximidade entre Bolsonaro e Temer não é uma novidade. Temer é uma espécie de consultor informal de Bolsonaro desde 2019. Mais do que isso, Temer é o responsável pela “Ponte para o Futuro”, programa de viés reformista-liberal que balizou seu governo.

Conforme mostram as sucessivas reformas neoliberais em curso, que estão desmontando o modelo de Estado estabelecido pela Constituição de 1988, o programa conduzido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, é uma mistura de continuidade e aprofundamento da “Ponte para o Futuro” de Michel Temer. 

Tal programa tem elite econômica como avalista. Não é por acaso que o pacto Bolsonaro/Temer, firmando após o arroubo golpista de Bolsonaro em 7 de setembro, gerou rapidamente uma expectativa positiva no mercado. Vale recordar que essa elite econômica, além de ter ficado muito entusiasmada com a gestão Temer até a eclosão do escândalo Joesley Batista, aderiu ao bolsonarismo na campanha de 2018.

Mesmo que o acordo Bolsonaro/Temer reduza momentaneamente as tensões na elite econômica, ele aumenta as incertezas para a sucessão presidencial de 2022. A queda nas projeções de crescimento do PIB combinado com o crescimento da inflação, desemprego e juros, além da possibilidade de um racionamento energético, fragilizam Bolsonaro para 2022.  

No entanto, conforme mostraram as mobilizações realizadas em 7 de setembro, Bolsonaro conta com uma base social radicalizada que se alimenta do discurso antiestablishment. No entanto, esta narrativa caiu em contradição a partir do acordo que teve Temer como avalista. Ao pactuar com o establishment, Bolsonaro realizou uma brusca mudança, frustrando o chamado bolsonarismo raiz. 

A confissão que o manifesto divulgado na semana passada foi escrito por Temer incomodou a base social bolsonarista de extrema-direita. Não bastasse isso, a crise social se aprofunda e parte dos agentes econômicos desconfia do recuo de Bolsonaro. Com Bolsonaro ainda mais fragilizado e a chamada terceira-via sem um nome nacional com viabilidade eleitoral, o grande beneficiado da atual conjuntura é o ex-presidente Lula (PT), que ganha terreno neste complexo jogo.

A anulação de suas condenações e a memória positiva que a população preserva do legado econômico e social do governo Lula fortalecem o ex-presidente para 2022. Porém, o campo progressista não deve ter ilusões. Além da construção da frente ampla ainda enfrentar obstáculos, o acordão entre Bolsonaro e Temer tendo o respaldo da elite econômica sugere que as resistências a Lula persistem. 

Mesmo que as elites econômicas tenham ganhado tempo com o acordão Bolsonaro/Temer, Lula, ao priorizar temas como a retomada do crescimento econômico e a geração de empregos, é quem consegue se conectar com a agenda da opinião pública, por isso lidera com folga todas as pesquisas de intenção de voto. No outro lado do tabuleiro, ao menos por enquanto, inexistem alternativas eleitorais competitivas a Bolsonaro. 

Embora o mais provável hoje seja a candidatura de Bolsonaro à reeleição, a possibilidade do presidente não ser candidato em 2022 não deve ser totalmente descartada, principalmente se as projeções negativas para a economia se confirmarem e o pacto articulado por Temer envolver a construção de um nome anti-Lula alternativo a Bolsonaro. 

Esta articulação Bolsonaro/Temer tende a passar pelo aprofundamento da “Ponte para o Futuro”, programa que também conta com a simpatia da terceira-via. Porém, um candidato com uma plataforma econômica de cunho reformista-liberal dificilmente será eleitoralmente viável. 

Este complexo jogo aumentará as tensões na classe dominante a medida em que o calendário eleitoral se aproximar, principalmente se os protagonistas do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que conquistaram o poder com Temer e respaldam o governo Bolsonaro, não encontrarem um candidato.

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes

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