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23 de outubro de 2012
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08:00

Microcrédito impulsiona pequenos negócios no Rio Grande do Sul

Por
Sul 21
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Microcrédito impulsiona pequenos negócios no Rio Grande do Sul
Microcrédito impulsiona pequenos negócios no Rio Grande do Sul

Felipe Prestes

No início de 2012, 26 camelôs foram notificados pelo Ministério Público a deixar a Praça General Firmino de Paula, no centro de Cruz Alta. Sem ter para onde ir, inicialmente os comerciantes tiveram uma oferta da Prefeitura de um local provisório, sem garantias de que poderiam ficar após o fim do mandato da atual administração, e que ainda teriam que arcar com uma reforma. Depois, os comerciantes tentaram viabilizar a compra coletiva de um terreno por meio de empréstimo junto à Caixa Econômica Federal. “Arrumamos os papéis e nada. A gente tinha que sair, passaram seis meses e não havíamos conseguido o empréstimo ainda. Acho que eles ficaram com medo de nos emprestar”, revela a presidenta da associação dos comerciantes, Jaqueline Pinheiro.

Dziedricki e representantes da Associação Central dos Camelôs de Cruz Alta verificam o terreno onde será instalado o centro de compras popular
Maurício Dziedricki e representantes da Associação Central dos Camelôs de Cruz Alta verificam o terreno onde será instalado o centro de compras popular | Foto: SESAMPE / Divulgação

Por fim, a solução veio pelo Programa Gaúcho de Microcrédito (PGM), coordenado pela Secretaria da Economia Solidária de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sesampe), com recursos do Banrisul. Por meio do programa, os comerciantes tomaram R$ 220 mil emprestado. E outros R$ 230 mil tiraram do próprio bolso e também com rifas e organização de festas. Em breve eles serão proprietários do primeiro centro popular de compras de Cruz Alta. Serão 26 lojas e um refeitório, além de um segundo piso, que será construído prevendo a expansão do negócio.

O projeto arquitetônico está pronto e falta apenas a posse definitiva da escritura para que iniciem as obras. Os comerciantes, que eram informais, hoje são todos microempresários. Cada um dos 26 paga R$ 387 por mês para viabilizar a realização do projeto. Foi criado um projeto especial para atendê-los dentro do PGM, o Rede Solidária, para concessão de créditos a cada grupo de quatro vendedores ambulantes, na modalidade de grupos solidários, dentro de um princípio de responsabilidade mútua sobre o empréstimo.“Tá louco. Foi a nossa salvação. Tu tinhas que ver a nossa felicidade quando saiu o empréstimo”, afirma Jaqueline.

Programa já emprestou R$ 100 milhões

O Programa de Microcrédito Gaúcho foi instituído por decreto em julho do ano passado. De lá para cá já foram emprestados cerca de R$ 100 milhões. O programa dispõe entre R$ 100 e R$ 15 mil para capital de giro e investimentos, a serem pagos em 24 meses, com juros de 0,64% ao mês. O titular da Sesampe, Maurício Dziedricki, explica que a legislação federal incentiva as instituições bancárias a usarem pelo menos 2% dos depósitos à vista para microcrédito. O Banrisul vem repassando a totalidade deste valor para o programa. A intermediação é feita por 14 OSCIPs, 34 cooperativas e 154 prefeituras, cobrindo 300 municípios gaúchos.

“Este programa traça um novo ritmo de desenvolvimento para o Rio Grande do Sul. Há uma tendência mundial de pulverização de investimentos. Países como Alemanha e Itália são modelos nisto, mas o Rio Grande do Sul não tinha esta política pública”, afirma Dziedricki. Ele destaca que os recursos ajudam microempresários a aprefeiçoarem seus negócios, além de ajudar informais a se tornarem microempresários. “As pessoas que recebem microcrédito estavam marginalizadas do sistema financeiro. Ou não conseguiam crédito, ou conseguiam com juros muito altos, valores que não podiam pagar”, destaca.

projeto lapidar
Lapidação de pedras preciosas é uma das atividades que se beneficia de programas de microcrédito do governo estadual | Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini

Um dos casos emblemáticos neste sentido é o de cerca de 150 pessoas que vivem da lapidação de pedras preciosas em Soledade, um trabalho tradicional e familiar na cidade. Elas trabalhavam sem qualquer equipamento para preservar sua saúde e o meio-ambiente, situação que havia mobilizado a FEPAM e o Ministério Público para que se adequassem. Por meio do microcrédito, os pedristas hoje têm pequenas estações de tratamento em casa e equipamentos de segurança. “Era muito difícil para estas pessoas conseguir um empréstimo”, afirma Dziedricki.

O secretário destaca também o caso de uma senhora de Passo Fundo, que conheceu na cidade do Planalto Médio na ocasião de um congresso estadual de microcrédito. “Ela vendia produtos de beleza e descobriu que comprando à vista tinha 30% de desconto. Com um pequeno empréstimo, ela formou um grande estoque em sua casa e começou a fazer capital a partir deste desconto”, conta.

Dziedricki relata que a inadimplência no PGM até o momento é próximo de zero. “Não é uma relação apenas governo-banco e banco-cliente. Temos uma rede de microcrédito. São 342 agentes que passaram por treinamento, que calculam o montante que a pessoa deve pegar emprestado, que ajudam no investimento. Exige um esforço muito grande, mas o resultado é uma inadimplência próxima de zero. De R$ 100 milhões, a inadimplência é de R$ 11 mil”, diz.

Patrick renovou as opções para festas infantis

Patrick Troian é um microempresário de Porto Alegre que trabalha com organização e decoração de festas infantis. Para conquistar clientes é preciso estar atento ao mais novo super-herói ou princesa de filmes de Hollywood. Recentemente, ele tomou emprestado R$ 3 mil, para buscar maior variedade de temas para festas. “Compramos temas novos. Abriu o leque de opções para os clientes”, conta. O microempresário também investiu em divulgação com distribuição de panfletos.

Ele afirma que tem conseguido pagar com tranquilidade o empréstimo e já projeta tomar um novo. “Estou conseguindo pagar com facilidade, porque tenho feito cinco, seis festas por mês, e uma festa já paga o valor do empréstimo. Assim que acabar de pagar este, já vou para o próximo”, conta. Com um próximo empréstimo de microcrédito, Patrick quer fazer o site da Mundo Encantado Festas e também comprar um veículo maior, para ter mais espaço para transportar os apetrechos de decoração.

mundo encantado grenal
Foto: Divulgação

Em Aratiba, no norte do Estado, o dono do Restaurante Baranoski também conseguiu um empréstimo de microcrédito. Cicero Bonatto usou parte como capital de giro para organizar as finanças e parte investiu em melhorias no restaurante. Comprou um balcão novo e isolou a churrasqueira da área onde ficam os clientes.

“O microcrédito beneficia a pequena empresa. Os outros bancos têm um juro maior. Para uma empresa sem grande patrimônio, sem capital de giro, fica inviável”, opina Bonatto. O empresário conta que já havia procurado empréstimo a juros baixos em outras instituições, mas o PGM tem juros ainda menores. “No Banco do Brasil o juro estava em 1,6%. Para quem é pequeno este 1% faz diferença”, afirma.

O afiador de ferramentas Milton Nunes Pinto foi outro que se beneficiou dos juros menores do PGM. “Eu consegui pagar algumas dívidas que tinham um juro bem maior”, afirma. Ele também destaca a facilidade para obter o empréstimo. “A gente procura instituições de maior porte e não consegue retirar empréstimo. Este foi bem facilitado, não houve burocracia em excesso”, diz.


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