Saúde
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20 de abril de 2024
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07:34

Com estrutura comprometida e promessa de ampliação, HPS completa 80 anos

Por
Bettina Gehm
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HPS terá fachada restaurada até o final do ano. Foto: Isabelle Rieger/Su21
HPS terá fachada restaurada até o final do ano. Foto: Isabelle Rieger/Su21

O Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre completou 80 anos na última sexta-feira (19). A data foi celebrada com apresentação da Banda Municipal da cidade e uma homenagem a ex-diretores. Um dos motivos para comemorar é o investimento de R$ 140 milhões, anunciado pela Prefeitura, para ampliação do hospital em um novo prédio. Mas não está claro de onde virá esse dinheiro e, atualmente, a construção que completou oito décadas apresenta problemas estruturais que comprometem os atendimentos no local.

A futura estrutura do HPS terá 130 novos leitos, distribuídos em oito andares num terreno de 11 mil m². Conforme a gestão municipal, o HPS também vai passar por uma revitalização na fachada, que deverá ser entregue até o final deste ano. A obra de ampliação deve ficar pronta em 2028. A fonte de verba está “em avaliação” e, segundo a Prefeitura, o projeto vai precisar de recursos próprios, emendas parlamentares e doações.

No evento em que o prefeito Sebastião Melo (MDB) apresentou a proposta de ampliação do hospital, em dezembro do ano passado, alguns parlamentares presentes alegaram que já não tinham mais tempo para destinar os recursos de 2024 ao projeto. A deputada federal Maria do Rosário (PT) chegou a questionar: “Por que apresentar a proposta em dezembro se o prazo dado aos parlamentares para destinação de recursos foi até novembro?”. Pelos prazos legais, poderiam ser enviados valores apenas em 2025.

Alguns investimentos já foram realizados pela Prefeitura nos últimos anos. O HPS passou por uma reforma e modernização da UTI pediátrica e ganhou uma nova enfermaria de trauma pediátrico. Foram implantados sete leitos de enfermaria para trauma e oito leitos intensivos. “Tudo isso está funcionando, mas ainda falta investimento”, afirma a servidora Marília Iglesias, presidente da Associação dos Servidores do HPS (ASHPS). “Se a ampliação vier, vai ser fundamental para a população de Porto Alegre e para os próprios servidores terem melhores condições de trabalho. Há uma cidade que o governo Melo fala e outra que existe”.

Desde a inauguração, em 1944, o hospital está no mesmo prédio, no Largo Teodoro Herzl, bairro Bom Fim. Há cerca de dois anos, as enfermarias do quarto e do quinto andar estão fechadas para reforma. “Esses dois andares somam cerca de 30 leitos que estão indisponíveis. Até onde sabemos, a reforma está parada porque falta dinheiro”, detalha Marília. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), há a previsão de reformar o quarto andar dentro de dois meses, com verbas impositivas.

Pessoas aguardam em frente ao HPS. Foto: Isabelle Rieger/Su21

A enfermaria do quinto andar poderá ser reaberta quando terminar a reforma do telhado, de acordo com a SMS, já que está fechada porque entra água quando chove. “Molha de cair cachoeira. Chega a chover direto nos pacientes”, descreve Marília. O HPS alaga em diversos pontos quando a cidade é atingida por chuvas, como os funcionários vêm denunciando há anos. A Secretaria informa que a licitação da primeira etapa da reforma do telhado já foi concluída. A empresa vencedora deve começar a obra nos próximos dias. “Esperamos que a reforma integral do telhado esteja pronta em até seis meses”, informa a nota.

Outro problema da instalação antiga do HPS é o ar condicionado. Em janeiro de 2023, durante uma onda de calor na cidade, alguns ambientes do hospital chegaram a registrar 40ªC. “Os pacientes choraram porque era muito quente, colegas desmaiaram” recorda Marília. “O ar deixou de funcionar em salas onde não podíamos abrir as janelas, como a UTI, por causa de insetos. Depois que isso foi intensamente veiculado, o problema foi resolvido”, afirma. A SMS informa que a reforma completa do ar condicionado está sendo feita por etapas. A emergência, por exemplo, já tem ar novo instalado.

O HPS funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. É referência no estado em casos de trauma e realiza mais de 120 mil atendimentos de emergência por ano. Muitas dessas demandas vêm de outras cidades e estados. “Os hospitais de Alvorada e de Cachoeirinha não estão atendendo traumas, e essa demanda é direcionada ao HPS”, relata Marília. “Também temos a demanda de ‘porta aberta’ e a do Samu. Se ocorre um acidente de ônibus, por exemplo, entram muitos pacientes pelo Samu. Temos demandas explosivas”, diz a servidora. Mas, segundo ela, o quadro de funcionários do hospital não é suficiente. São cerca de mil servidores de diversas áreas da saúde.

Na semana passada, a Prefeitura nomeou 36 novos profissionais para o HPS. “Ainda não sana o problema definitivamente”, avalia Marília. “Certamente precisaria um número maior de servidores para suprir a falta de recursos humanos e os servidores que se aposentaram nos últimos tempos”. A servidora se preocupa, em parte, por causa da proximidade da Operação Inverno. A enfermaria do quinto andar vai ser aberta temporariamente para atender pacientes que precisarem ser internados. “A enfermaria vai ficar meses aberta como medida para sanar a superlotação. Falta espaço físico e os servidores se esforçam, mas temos falta de pessoal. Não adianta ter um super hospital e não termos mãos para carregar as macas, para administrar medicamentos. O cuidado é feito por pessoas”, diz.

HPS funciona no mesmo prédio desde sua inauguração, há 80 anos. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

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