Política
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9 de setembro de 2023
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10:17

No G20, Lula cita desastre no RS e cobra recursos de países ricos contra aquecimento global

Lula participa da abertura da Cúpula do G20 em Nova Delhi, Índia | Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula participa da abertura da Cúpula do G20 em Nova Delhi, Índia | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Da Agência Brasil

Os países mais ricos, que contribuíram “historicamente” mais para o aquecimento global, devem arcar com os maiores custos para combater o problema. Essa foi uma das cobranças feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da Cúpula do G20, neste sábado (9). A reunião fez parte da sessão intitulada “Um planeta Terra” no evento que é realizado em Nova Déli, na Índia.

O presidente exemplificou que as mudanças climáticas, neste momento, afetam o estado do Rio Grande do Sul, com a passagem de um ciclone que deixa desabrigados e mortos. Ele pontuou ainda que os efeitos da mudança do clima têm mais consequências para grupos vulnerabilizados. “São os mais pobres, mulheres, indígenas, idosos, crianças, jovens e migrantes, os mais impactados.”

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De acordo com o último balanço da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, foram confirmadas 41 mortes e o número de desaparecidos subiu para 46 pessoas. A estimativa do governo estadual é que mais de 120 mil pessoas tenham sido afetadas.

Para Lula, a falta de compromisso dos mais ricos gerou uma dívida “acumulada ao longo de dois séculos”. “Desde a COP [Conferência das Partes] de Copenhague, [em 2009], os países ricos deveriam prover 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático novo e adicional aos países em desenvolvimento. Essa promessa nunca foi cumprida”.

Lula alertou que a falta de compromisso mundial com o meio ambiente levou a uma “emergência climática sem precedentes”. “Se não agirmos com sentido de urgência, esses impactos serão irreversíveis”, apontou. O discurso lido no evento reforçou que o aquecimento global modifica o regime de chuvas e eleva o nível dos mares. “As secas, enchentes, tempestades e queimadas se tornam mais frequentes e minam a segurança alimentar e energética.”

Outra crítica feita pelo presidente é que os países mais ricos não podem ficar transferindo responsabilidades para as nações do hemisfério Sul. “De nada adiantará o mundo rico chegar às COPs do futuro vangloriando-se das suas reduções nas emissões de carbono se as responsabilidades continuarem sendo transferidas para o Sul Global”.

Lula avalia que não faltam recursos tendo em vista o gasto com armas. “Ano passado, o mundo gastou 2,24 trilhões de dólares em armas. Essa montanha de dinheiro poderia estar sendo canalizada para o desenvolvimento sustentável e a ação climática.”

Ele defendeu que o Brasil tem feito a lição de casa e que a proteção da floresta e o desenvolvimento sustentável da Amazônia estão entre as prioridades do atual governo. “Nos primeiros 8 meses deste ano reduzimos o desmatamento em 48% em relação ao mesmo período do ano passado”, exemplificou, citando a realização da Cúpula da Amazônia e o lançamento de uma nova agenda de colaboração entre os países que fazem parte daquele bioma.

O presidente brasileiro adiantou que, durante o período que o Brasil estiver na presidência do G20, lançará uma “Força Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima”. “Queremos chegar na COP 30, em 2025, com uma agenda climática equilibrada entre mitigação, adaptação, perdas e danos e financiamento, assegurando a sustentabilidade do planeta e a dignidade das pessoas.”

Posteriormente, em seu segundo discurso na Cúpula do G20, Lula criticou a falta de união entre os países no combate à desigualdade. Ele afirmou que o mundo desaprendeu a se indignar e “normalizou o inaceitável”. Lula manifestou-se durante a “Sessão 2 – Uma Família”, da Cúpula do G20.

“A crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa. Os recursos não chegaram às mãos dos mais vulneráveis”, disse Lula.

O presidente criticou a indiferença do mercado frente à discriminação contra mulheres, minorias raciais, LGBTQI+ e pessoas com deficiência. “A desigualdade não é um dado da natureza. Ela é socialmente construída. Combatê-la é uma escolha que temos de fazer todos os dias.”

“Apesar de todos os esforços, nossa família está cada vez mais desunida. O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer”, afirmou. Lula contextualizou que, há dois séculos, a renda dos mais ricos era 18 vezes maior do que a dos mais pobres. “Hoje, em plena quarta revolução industrial, a renda dos mais ricos é 38 vezes a dos mais pobres”, lamentou.

Lula destacou que “os 10% mais ricos detêm 76% da riqueza do planeta, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2%”. Ele utilizou dados da ONU para afirmar que, no ritmo atual, cerca de 84 milhões de crianças ainda estarão fora da escola até 2030.

“Precisaremos de quase 300 anos para atingir a igualdade de gênero perante a lei”. Ele recordou ainda que a fome afeta mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo.

O presidente salientou para os demais líderes que, na semana passada, o país lançou o plano “Brasil sem Fome” para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar. “Garantir oportunidades iguais para todos significa assegurar acesso a serviços básicos de qualidade. Significa formular políticas públicas que contribuam para erradicar o racismo e o sexismo das nossas práticas sociais e institucionais.”

Lula também participou do lançamento da Aliança Global para Biocombustíveis, iniciativa que foi apresentada para fomentar a produção sustentável e o uso de biocombustíveis no mundo.

A iniciativa conta com a participação dos três principais produtores de biocombustíveis do mundo – Brasil, Estados Unidos e Índia. A aliança reúne 19 países e 12 organizações internacionais e seguirá aberta a novas adesões.

De acordo com o governo brasileiro, o lançamento é resultado “de ambicioso programa nacional indiano de biocombustíveis, que inclui desde a próxima adoção de 20% de mistura de etanol na gasolina à fabricação de automóveis flex, além do desenvolvimento e produção de biocombustíveis de segunda geração”.

O governo destaca que, para o desenvolvimento dessa política, Brasil e Índia trabalharam juntos tanto no nível governamental como no nível acadêmico, tecnológico e empresarial.

A Agência Internacional de Energia defende que a produção global de biocombustíveis sustentáveis precisaria triplicar até 2030, a fim de que o mundo possa alcançar emissões líquidas zero até 2050.

Em nota, o governo brasileiro informa que os biocombustíveis líquidos forneceram mais de 4% do total de energia para os transportes em 2022. “O uso de biocombustíveis na aviação e na navegação, para reduzir as emissões dos respectivos setores, aumentará ainda mais o consumo mundial e a necessidade de ampliação do número de fornecedores”, diz nota do Planalto.

O Brasil produz e utiliza biocombustíveis há 40 anos, “com excelentes resultados, especialmente na criação de empregos e na redução das emissões do setor de transporte”, acrescenta a nota.


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