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28 de maio de 2024
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18:13

Mercado Público retoma ‘limpeza pesada’ mirando retorno em meados de junho

Por
Luís Gomes
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Em parceria com a empresa Stihl, limpeza do Mercado Público foi retomada nesta terça-feira | Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Em parceria com a empresa Stihl, limpeza do Mercado Público foi retomada nesta terça-feira | Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Uma grande operação de limpeza do Mercado Público foi reiniciada nesta terça-feira (28) nas áreas comuns afetadas pela enchente que tomou conta do Centro de Porto Alegre desde o início do mês. Após a água baixar na semana passada, os trabalhos chegaram a começar na última quinta-feira (23), mas foram interrompidos pelo temporal que atingiu a cidade no dia, provocando novos alagamentos. A limpeza inclui a remoção do lodo por meio de hidrojateamento e auxílio de caminhão-pipa, além da desinfecção do local. Em conversa com o Sul21, a Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascomepc) estimou que os primeiros lojistas devem retomar suas atividades ainda na primeira quinzena de junho e reforçou a necessidade de medidas de apoio aos mercadeiros, cujas perdas são estimadas na casa dos R$ 30 milhões.

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Rafael Sartori, presidente da Ascomepc, explica que o início da primeira fase de operação da “limpeza pesada” estava prevista para ocorrer na última quinta-feira (23), mas acabou adiada pela chuva e também não pode ser realizada pelas condições climáticas no resto da semana. Nesta segunda-feira (27), novamente a chuva impediu os trabalhos, que começaram apenas nesta manhã. A operação foi realizada em parceria com a empresa Stihl. “Hoje é o primeiro dia que conseguimos fazer com excelência toda a execução”, diz.

 

Mercado Público e Paço Municipal na enchente de maio de 2024. Foto: Giulian Serafim/PMPA

A expectativa era de encerrar os trabalhos ainda nesta tarde. “Tem muita gente lá dentro do Mercado Público, com maquinário, todo mundo devidamente equipado e correndo o suficiente para que acabe a primeira fase da limpeza no dia de hoje”, afirma Rafael.

A próxima etapa da limpeza terá prosseguimento com a entrada dos permissionários no Mercado para avaliarem a situação de suas lojas, organizarem os espaços e descartarem o que for necessário de resíduos da enchente, chamados de inertes. Concluída esta etapa, uma nova operação de limpeza das áreas comuns será realizada. Futuramente, os permissionários irão buscar aval da vigilância sanitária para planejarem a retomada das operações. “A gente estima que, em mais uns 15 dias, já começaremos a ver as primeiras operações sendo abertas no Mercado Público”, afirma o presidente da Ascomepc.

 

Áreas internas estavam cobertas por lama e lodo | Foto: Julio Ferreira/PMPA

Os prejuízos ao Mercado Público e aos seus permissionários ainda serão detalhados a partir da retomada das operações, mas a associação estima que, apenas em estoques perdidos, os valores girem em torno de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões, somando todas as lojas. Em termos de perda de faturamento, como o conjunto do Mercado tem um faturamento entre R$ 500 mil e R$ 600 mil por dia, segundo Rafael, a estimativa é de perdas entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões nos cerca de 40 dias que as lojas permanecerão fora de operação. Soma-se a esses prejuízos, a necessidade de reinvestimento nas estruturas, o que é estimado em mais R$ 10 milhões ou R$ 12 milhões, projetando então perdas superiores a R$ 30 milhões.

Rafael pontua que apenas um dos permissionários possui algum tipo de seguro contra enchente, para proteger seus maquinários, e conseguirá mitigar as perdas. Nenhuma outro loja tinha qualquer seguro, bem como não havia proteção para perdas para o conjunto do Mercado Público. “Por ser um prédio antigo, é muito difícil uma seguradora querer fazer o seguro das áreas comuns, das áreas públicas, então o que cabe ali é que cada empresa tem direito a fazer a sua, do seu metro quadrado. Maquinário, seguro de vida, seguro dos colaboradores, seguro para enchente, seguro para fogo, para incêndio. Mas, segundo um levantamento nosso, só uma empresa tinha feito seguro dos maquinários. Então, os maquinários que foram atingidos pela enchente, eles vão conseguir reaver o prejuízo”, diz.

 

Região do Mercado Público já estava seca nesta terça, mas paredes exibem sinais da altura em que a água chegou | Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Por outro lado, ele afirma que já estão em conversa e negociações com a Prefeitura de Porto Alegre, o governo do Estado e o governo federal a respeito de medidas de apoio. “O atual cenário é de que sem ajuda desses três poderes o Mercado Público não volta, porque nós vamos ter que reconstruir. Noventa por cento dos permissionários ficam no andar térreo e eles foram 100% afetados. ‘Ah, eu posso aproveitar isso, eu posso aproveitar aquilo’. Não, a água bateu muito forte nas lojas e quase tudo vai fora. Praticamente tudo vai fora, o que não vai fora são algumas coisas que o pessoal conseguiu subir para os seus mezaninos, e são poucas lojas que têm um mezanino”, diz.

Junto ao governo municipal, ele diz que está sendo debatida a possibilidade de isenções de aluguéis pagos à Prefeitura, mas ele avalia que a retomada também vai exigir a elaboração de planos de prevenção para que as inundações não voltem a afetar o Mercado. “Não adianta também eu investir um dinheiro agora e daqui a x meses acontecer outro alagamento ou outra enchente e eu perder toda a minha operação”, diz.

Quanto ao governo do Estado, Rafael pontua que o Mercado se enquadra em algumas medidas mais gerais de recuperação econômica e diz contar com a possibilidade de medidas específicas junto ao Banrisul. “O Banrisul sempre foi um grande parceiro do Mercado Público em todos os momentos difíceis, questões de incêndio, questão da privatização, questão de ameaça de demolição, enfim, em todos os o cenário de pesadelo, o banco sempre foi um grande parceiro. Então, nós estamos falando com as lideranças de dentro da empresa e a gente sente que há uma sensibilidade pelo lado deles”, afirma.

Com relação ao governo federal, ele diz que a associação já se reuniu com uma equipe do Ministério Extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul para expor a situação e a importância de recuperação do Mercado. “O governo federal se mostrou muito parceiro nisso, se mostrou muito interessado em resolver esse problema e agora a gente tá na expectativa dos próximos episódios”, diz.

O presidente da Ascomepc argumenta ainda que medidas de apoio são necessárias não apenas para recuperar o Mercado, mas também pela importância que o local tem para economia da cidade e do Estado. “O Mercado Público hoje é o maior empregador por metro quadrado do Estado. Então, quando ajuda o mercado, ajuda pessoas. Obviamente que negócios são feitos de pessoas, mas o nosso tem a característica de ter mais pessoas do que o comum, além da qualificação dos nossos funcionários e das regiões onde eles moram. Quando ajuda uma empresa, um negócio do Mercado Público, está ajudando quase duas mil pessoas, sendo que dessas 30% perderam tudo, foram atingidos diretamente nas suas casas nas regiões das ilhas, Canoas, Eldorado, Guaíba, etc.”

 

Marca da enchente de 1941 foi superada | Foto: Isabelle Rieger/Sul21
 Foto: Isabelle Rieger/Sul21
PFoto: Julio Ferreira / PMPA
 Foto: Isabelle Rieger/Sul21

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