Geral
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11 de março de 2024
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19:19

Mortes por intoxicação em Vacaria reforçam alerta sobre riscos de geradores de luz

Por
Luís Gomes
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Sete pessoas foram encontradas desacordadas em casa no município de Vacaria na manhã de domingo | Foto: Divulgação/Polícia Civil do RS
Sete pessoas foram encontradas desacordadas em casa no município de Vacaria na manhã de domingo | Foto: Divulgação/Polícia Civil do RS

As mortes de quatro pessoas de uma mesma família por suspeita de intoxicação por gás proveniente de um gerador de luz, no município de Vacaria (RS), reforçam o alerta feito pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no início deste ano a respeito dos riscos que este equipamento traz à saúde.

De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família dormiam dentro da casa, localizada no bairro Vitória, quando, por volta das 8h30 da manhã de domingo (10), uma pessoa foi ao local e encontrou a casa fechada, com forte cheiro de gás.  Toda a família foi encontrada desacordada e mãe, uma mulher de 36 anos, já estava morta quando o socorro chegou ao local.

O marido, 31 anos, e os cinco filhos, quatro crianças e uma adolescente, foram levados ao hospital. Três filhas — de 3, 11 e 15 anos — foram declaradas mortas no hospital, enquanto o homem e duas crianças — de 7 e 9 anos — estavam na UTI nesta segunda-feira, em estado grave. As duas crianças foram transferidas para a UTI pediátrica em Santa Maria ainda no domingo.

A Polícia Civil trabalha com a hipótese de vazamento acidental de gás proveniente de um gerador de luz movido a gasolina, que foi encontrado dentro da residência. A casa não tinha outra fonte de ligação elétrica e as janelas e as portas estavam todas fechadas quando a família foi encontrada.

“A principal linha investigativa no momento e principal possibilidade de acontecimento dos eventos:  as próprias vítimas colocaram o gerador para dentro de sua casa e o fizeram funcionar, havendo emissão de gás carbônico que tomou conta da casa e levou ao óbito de quatro vítimas e resultou estado grave com risco de morte para outras três vítimas”, diz o delegado Anderson Silveira de Lima.

O Instituto-Geral de Perícias (IGP) ainda irá divulgar os resultados da necropsia realizada nos corpos para confirmar a causa das mortes.

 

Gerador era a única fonte de energia elétrica da família | Foto: Divulgação/Polícia Civil do RS

Em janeiro, engenheiros do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) e da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro) no Rio Grande do Sul divulgaram uma manifestação em que alertam para riscos de intoxicação causada pelo uso de geradores em meio a apagões de energia.

A manifestação destacava que o uso de geradores teve grande aumento recente no Rio Grande do Sul, sendo utilizados especialmente por hospitais, farmácias e call centers, além de muitos condomínios e prédios residenciais, entre outros serviços considerados como essenciais. O alerta foi emitido após a Superintendência Regional do Trabalho receber relatos de trabalhadores que passaram mal, com dor de cabeça, enjoos, tontura, vômitos e fraqueza devido à inalação de gases de exaustão liberados por geradores à diesel.

Chefe da Seção de Segurança e Saúde no Trabalho do MTE RS, Sérgio Augusto Letizia Garcia pondera que é preciso esperar o resultado da necropsia, mas avalia que uma das prováveis causas das intoxicações é o monóxido de carbono (CO), um asfixiante químico liberado pela queima de combustíveis, que possui mais afinidades com a hemoglobina do sangue do que o oxigênio.

“A ligação do monóxido de carbono com a hemoglobina forma a carboxihemoglobina, que dificulta a circulação e distribuição do oxigênio para as células do nosso organismo, podendo levar à morte por asfixia. No início do ano, quatro jovens faleceram no interior de um veículo na rodoviária de Camboriú/SC. As mortes ocorreram pela inalação de monóxido de carbono, causando asfixia e parada cardiorrespiratória nos ocupantes, devido à perfuração no escapamento do motor e entrada do gás no veículo pelo painel”, diz.

Diante do episódio, Sergio reforça o alerta de que, para evitar a intoxicação, asfixia e morte, deve-se tomar os seguintes cuidados:

1) Instalar geradores em áreas externas ou áreas internas especificamente projetadas para essa finalidade, obedecendo tanto as regras de segurança relativas à instalação elétrica quanto às de combustível, com a supervisão de profissionais qualificados;

2) Geradores portáteis devem ser instalados e operados em locais bem ventilados, com proteção contra umidade ou incidência de água. Lembre-se que esses equipamentos não possuem escapamento de gases;

3) Siga todas as instruções do manual que acompanha o gerador;

4) Saia das proximidades do gerador se sentir dor de cabeça, fraqueza, tontura ou enjoo. Não esqueça que o monóxido de carbono não possui cor, cheiro ou gosto, e que concentrações mortais de CO podem se acumular rapidamente nas proximidades do gerador e permanecer por horas, mesmo após seu desligamento.


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