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3 de outubro de 2019
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23:46

Sob chuva, manifestação de estudantes encerra greve de 48h da UFRGS

Por
Luís Gomes
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Milhares de estudantes participaram de manifestação em defesa da educação que encerrou a greve de 48 horas da UFRGS | Foto: Luiza Castro/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Foram dois dias de diversas atividades promovidas pela comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com o objetivo de divulgar a importância da educação superior pública e denunciar os efeitos dos cortes na área promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). Aprovada na última quinta-feira (26) em assembleia conjunta entre professores, técnicos e estudantes, a greve de 48 horas foi encerrada no início da noite desta quinta-feira (3) com uma grande manifestação de estudantes pelas ruas do Centro de Porto Alegre.

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A greve na UFRGS começou na quarta-feira (2) com a realização de piquetes e rodas de conversa diante dos prédios das faculdades e institutos da universidade. Durante a tarde, estudantes de diversos cursos ergueram tendas no Largo Glênio Peres o “UFRGS na Rua”, evento que teve o objetivo de reunir estudantes para conversar com a população sobre o que é feito dentro da instituição, apresentar serviços oferecidos à população e alertar para as consequências dos cortes que vêm sendo promovidos pelo governo Bolsonaro para a educação e a produção científica do país. Nesta quinta, novas atividades foram realizadas ao longo do dia e a concentração para o ato foi convocada para o final da tarde.

Por volta das 17h, estudantes começaram a se reunir diante da Faculdade de Educação (Faced), no campus central da UFRGS. Pouco antes das 18h, saíram em caminhada em direção à Esquina Democrática, onde outro grupo de estudantes já se reunia. Quando os dois grupos se uniram, por volta das 18h10, as diversas entidades ali representadas se manifestaram de cima de um caminhão de som posicionado na Esquina.

Estudantes protestaram contra o corte de verbas para a educação | Foto: Luiza Castro/Sul21

Graduanda em Matemática e coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS, Ana Paula de Souza dos Santos destaca que a mobilização de 48 horas teve grande adesão da comunidade acadêmica. “A grande maioria dos cursos não teve aula, foi uma paralisação de 90% dos cursos”, estimou. “De fato, a comunidade acadêmica se envolveu, professores, técnicos, estudantes da graduação e da pós, e construiu algo muito importante que é a unidade de todos os setores da universidade presentes em todas as atividades”.

Vice-presidente da União Nacional dos Estudantes para a região Sul (UNE Sul), Gabriela Silveira saudou o fato de que o objetivo do movimento estudantil de construir greve por todo o Brasil e realizar atividades de divulgação do trabalho das universidades foi alcançado. “Aqui em Porto Alegre, não foi diferente. Ontem, pela nossa atividade no Glênio Peres, passaram mais de 500 pessoas e reunimos mais de 300 estudantes para mostrar o que a gente faz dentro da universidade. Hoje, mesmo debaixo de muita chuva, nós estamos conseguindo juntar milhares de estudantes para dar o recado para o Bolsonaro. A greve geral de dois dias é só o começo. A gente ainda vai construir grandes mobilizações e não adianta ele achar que a universidade vai se calar diante dos cortes, porque a gente vai construir mais greve, mais fortes”, disse, acrescentando ainda que os movimentos têm o objetivo de espalhar ações do tipo pelas demais instituições públicas do Estado. “Vamos levar para os bairros o que a gente produz dentro das universidades públicas para mostrar para a população que a gente produz o futuro e o presente do nosso País”.

O ato também contou com a participação de entidades representativas de professores, de servidores administrativos e de estudantes da pós-graduação. Presidente do Sindicato Intermunicipal dos Professores de Instituições Federais de Ensino Superior do RS (Adufrgs), Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira destacou a unidade entre todas as categorias, mas ponderou que a luta contra o desmonte na educação é longa e precisará de fôlego. “Os estudantes estão na rua defendendo um direito seu, que é o direito à universidade, o direito a institutos federais de educação, é o direito ao estudo, em suma. É isso que está em jogo hoje no Brasil, o direito da população ter acesso a um ensino de qualidade, que é o que as universidades e os institutos federais oferecem. Infelizmente, nós estamos com um governo que quer negar isso à população, quer vender todo o patrimônio brasileiro a empresas privadas que só querem auferir lucro. Portanto, essa luta que os estudantes propuseram nesses dois dias e que conta com o apoio dos professores da UFRGS, da UFCSPA e dos institutos federais é uma luta que deve continuar, é uma luta de longo prazo”, disse.

Manifestação de estudantes passa sob o Viaduto Otávio Rocha | Foto: Luiza Castro/Sul21

Vieria acrescentou ainda que, ao movimento de rua, é preciso somar também a busca de apoio de agentes públicos e personalidades que fazem parte do cenário político brasileiro. “Para que eles compreendam que o que a gente faz aqui juntamente com os estudantes é defender o Brasil, não é defender o interesse corporativo. A educação é um direito de todo o cidadão brasileiro, Portanto, é necessário que todos se envolvam nessa luta para que esses quatro anos não sejam quatro anos de destruição daquilo que se conquistou a duras penas ao longo da história brasileira”, afirmou.

Representante na UFRGS do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Elisabete Búrigo saudou o fato de que muitos professores se uniram ao movimento estudantil, seja a partir da assembleia realizada no dia 26 ou posteriormente. “Muitos cursos da UFRGS paralisaram. Em muitos, os professores paralisaram junto com os estudantes, como no IFCH, no Instituto de Letras. Teve unidades como Administração e Matemática, em que os professores paralisaram atendendo a um chamado dos estudantes. Essa iniciativa dos estudantes está sendo muito vibrante e muito importante para a resistência dentro da universidade”, disse.

Búrigo acrescentou ainda que o projeto do governo Bolsonaro para a educação, levado a cabo pelo ministro Abraham Weintraub, o Future-se, busca privatizar a gestão das universidades e que atividades como a greve de 48 horas servem para esclarecer a comunidade acadêmica sobre os possíveis impactos do projeto. “Eles não dizem isso com todas as letras e alguns estudantes e professores ficam iludidos com a ideia de que esse programa poderia trazer mais recursos para a universidade, mas, na verdade, é um projeto de sujeição da universidade à lógica do mercado privado quando coloca as universidades sob gestão das organizações sociais”, afirmou.

Por volta das, 18h30, os manifestantes retomaram a caminhada pelo Centro de Porto Alegre, passando pela avenida Júlio de Castilhos, pelo Túnel da Conceição, até se encerrar nas imediações do campus central da UFRGS.

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

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