Economia
|
10 de outubro de 2023
|
17:07

Retomada de Rio Grande já arrancou e deve ter choque disruptivo com biorrefinaria, diz presidente da Petrobras

Por
Luís Gomes
[email protected]
Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, participou de coletiva com a mídia independente no Rio de Janeiro | Foto: Divulgação
Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, participou de coletiva com a mídia independente no Rio de Janeiro | Foto: Divulgação

Durante passagem pelo Rio Grande do Sul no final de maio, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, manifestou os planos da estatal de investir na recuperação da indústria naval de Rio Grande. Ao ser questionado pelo Sul21 sobre esses planos durante entrevista coletiva concedida a veículos de mídia independentes no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (9), Prates defendeu que o “arranque” para a recuperação do setor já foi dado.

Segundo o presidente da Petrobras, o cenário hoje da região de Rio Grande e do sul do Estado é bastante diferente daquele dos governos anteriores do PT, quando houve um “boom” puxado pelos investimentos na indústria naval, o que permite diferentes novos esforços. Neste sentido, destacou o projeto de parceria em que a Petrobras vai investir R$ 45 milhões para transformar a Refinaria Riograndense na primeira biorrefinaria do País, cujo termo de cooperação técnica foi assinado durante a visita de maio.

“Hoje, tem uma produção agrícola importante, de óleo vegetal, por isso a gente escolheu a Refinaria Riograndense como a experiência principal, e quando a gente fala de experiência não tem nenhum caráter de piloto, nada disso. É realmente transformar aquela refinaria, que é uma refinaria de 1937, que poderia estar condenada a ser fechada ou a ter uma performance muito menos importante do que ela poderia ter, na primeira biorrefinaria do Brasil. Isso está conectado também com a produção agrícola local e só isso aí já é uma coisa que coloca Rio Grande num patamar de novidades disruptiva pro Brasil. Você imaginar que você vai fazer diesel, especificado como diesel, não como biodiesel, a partir de óleo vegetal numa refinaria, se isso der certo, o teste vai ser feito agora em novembro ou dezembro, nós estamos diante de uma coisa completamente disruptiva para todo o mercado de petróleo mundial”, diz.

Para além da proposta de biorrefinaria, Prates diz que a Petrobras está estudando a possibilidade de fazer uma parceria com a Yara para atuar no mercado de fertilizantes a partir da região.

A respeito da situação dos estaleiros, destacou que um avanço decorre da venda das estruturas metálicas de uma plataforma P-32 descomissionada para a Ecovix (administradora do Estaleiro Rio Grande) e para a Gerdau, que serão utilizadas para a revitalização do estaleiro. “Os estaleiros em São José do Norte já estão preparados. Já estamos com esse processo no próprio estaleiro de Rio Grande, de contratação não só desse comissionamento, como de outras coisas. Já arrancou o processo. O ponto de inflexão já ocorreu e o primeiro empurrão já foi”, afirma.

Em resposta a outro questionamento, Prates afirmou que a atual gestão terá uma nova estratégia voltada para incentivar o desenvolvimento regional, o que também será sentido em Rio Grande. Segundo ele, haverá uma forma diferente de estimular a produção de conteúdo nacional que não seja diretamente pela compra.

“Políticas de imposição, por exemplo, de conteúdo local raramente funcionam, pouco funcionaram nesse período que a gente viveu. O que é que precisa? Políticas que incentivem, induzam a indústria. Por exemplo, a indústria eólica tem um conteúdo local hoje alto sem ter havido nenhum tipo de imposição direta e compra nos leilões. O que havia é financiamento estatal, do BNDES, que vai privilegiar quem tiver parques e projetos com mais conteúdo local, etc. Então, isso é o que eu chamo de elementos e mecanismo indutivos, e não coercitivos. Porque coagir ajuda o agente ineficiente, o aproveitador, o empresário oportunista. E isso tem muito aqui. Um exemplo, imagine que amanhã o presidente Lula diga assim: ‘Olha, a partir de agora, tudo que a Petrobras comprar tem que ter 90% de conteúdo nacional, se não a Petrobras não vai comprar’. Imediatamente, quem vende aqui ou quem nem vende vai entrar nesse novo mercado artificial, preguiçosa e ineficientemente, lastreado na obrigação que foi colocado de comprar. Isso vale para estaleiro, para indústria nacional, para qualquer coisa”, diz.

 

| Foto: Divulgação

Prates afirma que a Petrobras vai participar da recuperação da indústria, mas que isso precisa ser feito “com responsabilidade”. Uma possibilidade em avaliação é o estabelecimento de um único ambiente de contratação em que participem empresas brasileiras e estrangeiras, de países como China, Coreia do Sul, Cingapura e Espanha — referências no setor –, que também será estimulado a ser usado pelas petroleiras privadas que atuam no País.

“Quando a Petrobras ou as petroleiras privadas forem comprar, elas encontrem consórcios já feitos entre esses países, entre players de vários países, e que esse pessoal invista nos daqui. Porque, se a gente for esperar o daqui concorrer com o chinês para fazer casco, ou concorrer com coreano para fazer módulos, não dá pra largada. Então, a gente precisa que esse ambiente seja um ambiente só, que eles encontrem parcerias e sinergias com as instalações e empresas daqui, ou até mesmo participação em sociedade mista, que gera emprego aqui do mesmo jeito. Aliás, gera mais, porque tem uma perenidade garantida, com um aporte maior e com uma escala muito maior. É isso que a gente quer fazer até julho do ano que vem”, afirma.

Prates também afirma que a Petrobras deve concluir, até o final de novembro, um mapeamento completo de toda situação dos estaleiros, da indústria naval e da indústria offshore no País. “A gente vai saber quem tá duro, quem tá passando perrengue, quem quebrou, quem tá em condição, quem tem isso, quem tem aquilo”, diz. “O que nós temos hoje, com a história toda de Lava Jato e todo esse processo, é que nós dizimamos essa indústria nacional que estava de novo tentando um segundo ou terceiro ciclo histórico, renascer e se consolidar. E nós temos já a massa crítica suficiente para prever que em dois ou três anos nós estaríamos de novo com esses estaleiros ocupados se eles apresentarem condições de contratação, habilitação, etc. e tal, que isso a Petrobras sozinha não pode prover. Ela não pode contratar e ao mesmo tempo investir, fazer uma obra num estaleiro para ele estar ao ponto de ter dique seco ou alguma coisa que ele deveria ter e não tem”.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora