Cultura
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8 de novembro de 2021
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17:38

Mario Frias veta exigência de passaporte sanitário em projetos da Lei Rouanet

Mudanças recentes na Lei Rouanet deram mais poder ao secretário de Cultura, Mario Frias, para homologar ou não projetos aprovados.  Foto: Carolina Antunes/PR
Mudanças recentes na Lei Rouanet deram mais poder ao secretário de Cultura, Mario Frias, para homologar ou não projetos aprovados. Foto: Carolina Antunes/PR

A Secretaria de Cultura vetou a exigência de passaporte sanitário em projetos financiados pela Lei Rouanet. A medida, assinada pelo secretário Mario Frias, foi publicada nesta segunda-feira (8) no Diário Oficial da União. Assim, peças, filmes e shows que captarem recursos por meio dessa legislação de incentivo à cultura não poderão exigir do público a apresentação de comprovante de vacinação contra a covid-19.

“Fica vedado pelo proponente a exigência de passaporte sanitário para a execução ou participação de evento cultural a ser realizado, sob pena de reprovação do projeto cultural e multa”, diz trecho da portaria.

Caso existam leis estaduais ou municipais que exijam o passaporte da vacina nos locais de realização dos espetáculos, os produtores deverão optar pelo se adequar ao “modelo virtual”, de acordo com a determinação.

Na avaliação do governo, a exigência do comprovante de vacinação seria uma forma de discriminação. Alinhado ao discurso negacionista do presidente Jair Bolsonaro, Frias já havia afirmado que se empenharia contra o dispositivo sanitário. “Segregação não!”, comentou o secretário pelas redes sociais na semana passada, quando o Ministério do Trabalho proibiu a demissão de não vacinados pelas empresas.

Além disso, trata-se de mais um ataque à classe artística, vista como inimiga pela atual gestão. O dispositivo deve servir como outro empecilho para que artistas de diferentes seguimentos tenham acesso aos recursos incentivados.

Como em todo decurso da pandemia de covid-19, o governo brasileiro vai na contramão do mundo da ciência e do bem coletivo, ao vetar a exigência do “passaporte sanitário”. Por exemplo, nesta segunda-feira (8), os aeroportos estadunidenses reabriram para turistas estrangeiros, depois de 20 meses. No entanto, além do comprovante de vacinação, é exigido também a apresentação de teste PCR negativo realizado com até 72h de antecedência.

Nesse sentido, em países como França, Alemanha e Itália, o passaporte sanitário, exigido em ambientes de trabalho, bares e restaurantes, eventos culturais e espaços públicos fechados – como museus –, tem sido adotado justamente como estratégia para estimular à população a tomarem as vacinas contra a covid-19.

Também o Observatório da Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) defende a utilização do passaporte da vacina como “estratégico“. No início do mês, a entidade recomendou o uso desse dispositivo em ambientes fechados com aglomeração, como é o caso dos eventos culturais. “Não haverá saúde para alguns se não houver saúde para todos”.

Para o médico, advogado sanitarista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Dourado, o secretário de Cultura não pode impedir que estados e municípios exijam a apresentação do passaporte. “Fora que o termo ‘passaporte sanitário’ nem tem um sentido definido no direito brasileiro, criticou o especialista pelas redes sociais. Além disso, ele acredita que a medida não terá eficácia: “É só para fazer barulho”, ressaltou. Outros especialistas também preveem a judicialização dessa portaria.


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