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1 de julho de 2011
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16:41

Perin entra no vestiário e mostra os bastidores do Brasil de Pelotas

Por
Sul 21
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Descanso dos atletas l Foto: Gilberto Perin
Descanso dos atletas l Foto: Gilberto Perin

Nubia Silveira

Um perna-de-pau, sempre escolhido pelos amigos para ser juiz das peladas – ninguém o queria no time – é o autor de um livro de fotos que trata, justamente, de futebol. “Sempre fui péssimo jogador de qualquer esporte. Mas sou apaixonado por futebol”, afirma Gilberto Perin, que assina as 110 fotos de “Camisa Brasileira”. Elas revelam os bastidores de um time da segunda divisão, o Brasil de Pelotas. A obra, com textos Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll, será lançada dia 1º de julho (sexta-feira), às 19h, no Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/n fone 11 3664-3848), em São Paulo. E no dia 4 de julho (segunda-feira), na Livraria Cultura, no Shopping Bourbon Country (Avenida Túlio de Rose, 80, Porto Alegre), às 19 horas.

Gilberto Perin: "sou apaixonado por futebol" l Foto: Arquivo pessoal

Com sua Nikon D-90, Perin acompanhou o Brasil durante quatro meses. Esteve sempre nos vestiários pelos quais o time passou. Fotografou tudo o que viu, com o cuidado de não interferir na vida dos jogadores. Ao final do trabalho, uma certeza: “Se o torcedor tivesse a compreensão que os atletas são trabalhadores como ele que está na torcida, talvez isso contribuísse para que houvesse mais espírito esportivo e menos violência entre as torcidas ou até menos agressões aos jogadores, por parte dos torcedores, quando o time perde”.

Antes de ser reunida em livro, a série de fotos esteve exposta, em 2010, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, em Porto Alegre. Perin revela que foi o curador da mostra, Alfredo Aquino, quem o incentivou a mostrar o seu trabalho fotográfico. Ele não é novato na área. Fotografa desde os 12 anos. Sua carreira profissional,, desde que se formou em Comunicação, pela Famecos (PUCRS), em 1976, sempre esteve ligada à imagem. Foi diretor de cena e roteirista. Dirigiu curtas, médias e longas-metragens. Há três anos começou a se dedicar profissionalmente à fotografia. Já participou de exposições individuais e coletivas. Fotos suas estão nos acervos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul e do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, em Porto Alegre, e em coleções particulares, espalhadas por Brasil e Uruguai.

Uma luta de gladiadores modernos

Perin explica a sua paixão pelo futebol: “Na hora em que o time está em campo é uma disputa com movimentos coreográficos; é também uma metáfora da guerra, uma luta de gladiadores modernos”. Movido por esta visão do esporte, ele levou o projeto de fotografar os bastidores de um clube a vários dirigentes do futebol gaúcho. Alguns responderam rapidamente: “Não”. Outros enrolaram e não deram resposta. O Brasil de Pelotas topou de cara.

Momento de pensar no futuro l Foto: Gilberto Perin

Sul21 – Por que você escolheu fotografar jogadores de um time de futebol da segunda divisão?
Gilberto Perin —
Vários motivos me levaram a escolher o tema. Eu queria resgatar as emoções que os jogadores de futebol sentem quando entram para o vestiário, atualmente, um espaço inatingível para torcedores e imprensa. A inspiração veio dos tempos — até alguns anos atrás — em que, no intervalo e no final do jogo, os repórteres transmitiam o som dos vestiários com a emoção dos jogadores falando após vitórias e derrotas. Nos jornais dos dias seguintes, as fotografias revelavam — além das jogadas dentro do campo — o lado humano, feliz, tenso ou vitorioso dos atletas no local mais íntimo, o vestiário.

Mas, ao mesmo tempo, não me interessava só o registro do fato. De alguma forma, eu queria colocar o meu olhar estético sobre o tema. Para isso, precisava fazer um “pacto de invisibilidade” com os atletas. Falei uma única vez com todos eles reunidos e expliquei o projeto. Combinei que eu ficaria invisível, sem interferir na rotina deles dentro do vestiário. E se algum deles, em qualquer momento, não quisesse ser fotografado era só me fazer um sinal com a mão e eu pararia de fotografá-lo. Isso nunca aconteceu. Trabalhei quatro meses com o máximo de liberdade dentro dos vestiários. Com isso consegui dar a minha visão estética e emocional de gente que se encontra em momentos-limite de tensão, alegria, disputa. E, também, é claro, revelar um mundo desconhecido (e proibido) para torcedores e para a mídia.

Sul21 – Mas, por que não escolher um grande clube?
Perin —
Eu não pretendia fazer o ensaio fotográfico com um grande clube, cheio de estrelas. Acho que seria mais difícil obter espontaneidade. Queria um clube mais próximo da realidade dos times brasileiros, um grupo de atletas que estivesse mais longe dos holofotes constantes da mídia. Mas, atualmente, não é fácil conseguir um clube que libere alguém com esse projeto. Quanto mais pensava no clube, mais tinha na minha cabeça que seria legal um clube com camisa amarela, para relacionar com a camiseta da seleção brasileira. Ou, como acabou acontecendo, um time chamado Brasil. Por meio do escritor — e também criador da camisa canarinho, em 1953 — Aldyr Garcia Schlee consegui que o G.E.Brasil, da cidade de Pelotas (RS), aceitasse a minha ideia. Fiquei muito feliz quando o então presidente Helder Lopes, junto com a comissão técnica e os atletas, aceitou participar do meu projeto.

Além de tudo, o Brasil já traz o nome que é uma metáfora brasileira. É um clube com uma torcida fantástica. Tem a garra dos brasileiros, “não desiste nunca” e está, desde 2009, superando um momento muito difícil, o do acidente com o ônibus, em que morreram alguns de seus ídolos. E não consegue sair da segunda divisão do campeonato gaúcho…

Sul21 — Para chegar às 110 fotos, quantas foram feitas?
Perin —
Fiz em torno de 3.000 fotos, em quatro meses.

Sul21 — Como os jogadores reagiram ao livro?
Perin –
Há uma rotatividade muito grande entre os jogadores de clubes do interior. É só o clube não se classificar para os jogadores serem liberados. Como o G.E. Brasil tem uma estrutura melhor, ele libera parte dos jogadores e contrata outros. Só pra ter uma ideia: dos 30 jogadores que estavam no time, na época em que fotografei, somente um continua lá. Eles eram de 10 estados brasileiros diferentes; muitos tinham jogado no Exterior. Hoje, eles continuam jogando em outros clubes do país e exterior. Tem um no Pará, outro na Coreia do Sul .. Somente um jogador viu a exposição que fiz em 2010 em Porto Alegre e a reação dele foi muito legal. Ele ficou contente e disse que não tinha ideia que o resultado seria aquele.

Sul21 — Como foi a escolha dos escritores para o texto?
Perin —
A escolha de Aldyr Garcia Schlee foi automática (e fiquei feliz que ele tenha aceitado). Ele fez a intermediação com o Brasil. Afinal, ele é um dos torcedores fanáticos, é um escritor talentoso. Neste ano, concorre ao Telecom de Portugal, foi Fato Literário do ano passado, tem dezenas de livros, escreveu o conto que inspirou o filme “O Banheiro do Papa” e, além disso, é o criador de um dos símbolos nacionais que é a camisa da seleção brasileira!

João Gilberto Noll esteve duas vezes visitando a minha exposição em 2010 e me enviou um texto. Quando comecei o projeto de escrever o livro, pedi autorização para publicar o texto que ele tinha me enviado, pois ele deu uma interpretação muito especial do meu ensaio fotográfico.

Tem também um texto de apresentação de Alfredo Aquino, artista plástico, curador da exposição e autor do projeto gráfico do livro. Por ele conhecer todas as fotografias ele tem um olhar muito apurado sobre o meu trabalho.

Sul21 — Qual o próximo projeto?
Perin —
Tenho um e tenho muitos! Mas deverá ser a reunião de momentos de bastidores (fora da ação principal) de futebol, carnaval e teatro-dança. Pelo menos é um projeto para uma exposição em 2013. Por enquanto, essa exposição e esse livro vão percorrer o circuito Sesc em diversas cidades do Rio Grande do Sul. E, finalmente, dia 18 de agosto, mostro a exposição e lanço o livro em Pelotas.

A fé marcada na pele l Foto: Gilberto Perin
Amizade no campo e no vestiário l Foto: Gilberto Perin
A dor da derrota l Foto: Gilberto Perin

No banho, a recuperação l Foto: Gilberto Perin

Na fé, a esperança l Foto: Gilberto Perin

Fim ou início de uma partida? l Foto: Gilberto Perin


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