Eleições 2022
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28 de outubro de 2022
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14:52

‘O extremismo era algo abstrato e agora se materializou’: O fator Roberto Jefferson

Por
Duda Romagna
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Foto: Reprodução PTB Nacional
Foto: Reprodução PTB Nacional

Ao contrário de quando Bolsonaro (PL) declarou ser “imbrochável” em um discurso e foi ignorado nas redes sociais por seus próprios apoiadores porque a expressão não “pegou bem”, o escândalo envolvendo Roberto Jefferson (PTB), a uma semana do segundo turno das eleições, movimentou o Twitter e pode influenciar votos e radicalizar ainda mais grupos bolsonaristas até o domingo (30). No último final de semana, Jefferosn resistiu à prisão e atirou em agentes da Polícia Federal (PF), ferindo dois deles por estilhaços de granada. Em vídeo, ele registrou a própria televisão de casa, onde era possível ver os agentes da Polícia Federal parados próximo da sua casa. O ex-deputado então disse que era uma vítima sendo perseguida, afirmou que não iria se render e ainda convocou a população a “lutar” e seguir seu exemplo.

Visualização de clusters em grafo gerado pelo software Gephi.

Ele foi preso depois de mais de 8 horas de resistência e de Bolsonaro intervir e enviar o ministro da Justiça, Anderson Torres, ao Rio de Janeiro para negociar com o aliado. Apesar da ação nada usual, os agentes da PF acabaram efetivando a prisão antes da chegada do ministro. Inicialmente, Jefferson teve a prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e cumpria pena em casa depois de ter sido preso em agosto de 2021, acusado de integrar milícias digitais que ferem a democracia e ter sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao STF, por incitação ao crime, ameaça às instituições e homofobia.

As redes sociais acompanharam o desenrolar da ação e, entre os bolsonaristas, enquanto alguns mais convictos procuravam defender Roberto Jefferosn, outros discordavam indicando que seus votos de tornavam mais voláteis. A partir das 11h do domingo, Roberto Jefferson foi um dos assuntos mais comentados do Twitter, e em 24h 1.275.700 postagens tratavam de suas ações. Pouco depois das 14h, cerca de 3.100 tweets eram publicados por minuto. Em comparação, no dia anterior as menções ao seu nome eram somente 30.500, pouco mais de 2% do conteúdo do domingo.

Para Michele Prado, pesquisadora sobre a extrema-direita e autora dos livros “Tempestade Ideológica” e “Red Pill – Radicalização e Extremismo”, o episódio tem poder de mudar votos que iriam ser nulos, brancos ou até mesmo direcionados a Bolsonaro, para votos em Lula (PT). “Houve sim um movimento de mudança de voto de quem iria votar nulo e que agora vai voltar em Lula. A conexão entre o bolsonarismo e a violência, o extremismo, ficou palpável e concreta para muita gente que ainda não conseguia ver essa relação. As pessoas consideravam a radicalização e o extremismo como algo abstrato. Agora, nessa ação específica, isso se materializou”, explica.

 

Foto: Reprodução PTB Nacional

Na análise da pesquisadora, mesmo com o próprio Bolsonaro se posicionando nas redes contra Jefferson, radicais podem ter sido instigados pelo fato. “Como sempre que acontece alguma coisa desse tipo, dentro dos ecossistemas as informações são sempre desencontradas porque a tendência é apoiar influenciadores, então se os mais famosos estão apoiando Roberto Jefferson, eles passam a apoiar também e a criar justificativas para aquilo, eles criam narrativas que sustentam aquela justificativa.” Na ocasião, o atual presidente chegou até a dizer que não existiam fotos dele com o aliado, o que logo foi desmentido. 

Michele pondera ainda que as ações de Roberto Jefferson foram premeditadas e que a ascendente radicalização do ex-deputado já era perceptível, se inspirando inclusive em experiências de fora do país. “Ele traz elementos de influências também de movimentos dos Estados Unidos, das milícias paramilitares antigovernamentais, que não aceitam agências de segurança, por exemplo, do Judiciário. Movimentos que foram decisivos para a invasão do Capitólio, em 2021. Não é só o Roberto Jefferson que tem esse conjunto de crenças. Hoje, no Brasil, parte da militância bolsonarista também, e a gente vê isso muito nos discursos e no fetiche em torno de armas, de armamento, na ideia de que você tem que se armar para você se defender do governo e as pessoas apoiam porque elas também estão radicalizadas.”


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