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27 de janeiro de 2021
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12:33

Para além de Bolsonaro

Por
Luís Gomes
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Para além de Bolsonaro
Para além de Bolsonaro
João Doria | Foto: GovSP

Céli Pinto (*)

Neste ano de 2021, para quem se salvar, será possível observar uma grande atividade política visando às eleições presidenciais de 2022. Tenho estado atenta às manifestações constantes  dos setores de esquerda e de centro-esquerda, no sentido de criarem uma unidade para derrotar Bolsonaro.  Apesar de achar esta unidade pouco provável, ela é – sem dúvida – absolutamente desejável e meso indispensável para qualquer projeto, mas o problema que quero colocar é outro.

Tenho cada vez menos certeza de que o adversário a derrotar é Bolsonaro. Ele tem 30% de aprovação, uma classe média medíocre que vota nele, um povo desesperançado, igrejas mercantis e militares bem colocados na vida, mas isto não é tudo. Ele parece estar falhando no principal para se assegurar como o  candidato preferencial de quem realmente interessa: os detentores do poder econômico, que necessitam salvar o neoliberalismo decadente. Este grupo é forte e atravessa fronteiras. Se não consegue se realizar mais no Norte, que o Sul dê a ele sua necessária possibilidade de sobrevivência para a saúde do capitalismo internacional. A ele não pode faltar oxigênio, mas é o que parece estar faltando, pois o auto proclamado gênio das finanças, Paulo Guedes, vem se revelando para os neoliberais de plantão (facilmente encontráveis nas bancadas televisivas e nos jornais impressos pretensamente de oposição) um estrategista que faz jus a Pazzuelo.

Isso poderia ser motivo para otimismo, mas não estou certa, pois há uma fila de bem postados políticos de direita também torcendo por fracassos do governo Bolsonaro (mesmo que isso custe vidas), para se colocarem como alternativas palatáveis, mais civilizadas, mais “cultas”, que ouvem a ciência, acreditam nas reformas, no teto de gastos, nas privatizações e no aniquilamento dos bons serviços prestados pelo Estado, apesar da basófia que se tornou este País.

Portanto, não podemos ficar mirando em um inimigo e deixar a retaguarda aberta. Há Doria, que fez as pazes com o PSDB de raiz ao assegurar a presença de FHC na “festinha” de  aniversário da cidade de São Paulo, promovida pelo governador do Estado e amplamente transmitida pela TV.  Também não se pode esquecer de Rodrigo Maia e sua manha de “político de bom senso”. Ele até pode perder as eleições na Câmara de Deputados, a derrota até poderá protegê-lo de todas as trapalhadas do Legislativo, nos quase dois anos que ainda faltam para as eleições presidenciais…

Doria ou Maia, depois de todos os desastres do governo do capitão, não seriam muito mais palatável às classes médias, ansiosas para voltar a Miami? Para a banca nacional e internacional, inclusive para o governo Biden, obviamente seriam. As eleições de 2020 recolocaram a política na arena política, com perdão da redundância. Isto é bom para todos os lados.

Ao dizer isso, não estou minimizando a força do capitão e penso que as forças progressistas deste País têm reais possibilidades de chegarem ao segundo turno em 2022 e se fazerem ouvir em um clima mais político, com menos meliantes. A ausência do capitão, por impeachment (que no momento não encontra nenhuma condição de emergência), ou por derrota nas urnas, não é per se uma via aberta e amigável às esquerdas democráticas deste país. Precisamos ter isto em mente

(*) Professora Emérita da UFRGS; Cientista Política; Professora convidada do PPG de História da UFRGS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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