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14 de dezembro de 2016
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09:00

Cuba Hoje

Por
Sul 21
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efcPor Adeli Sell

(Resenha do livro de Vladimir Cunha Santos)

Ele conhece(u) muito. Passou três meses morando em Cuba(12|15 a 02|16).

Vladimir Cunha Santos é formado em Ciências Sociais, e aqui mostra sua conhecida capacidade de escritor-historiador-narrador.

Neste seu Cuba Hoje – atual realidade da Ilha Socialista das Américas, Vladimir mostra Cuba como ela é. Nem mais, nem menos. Apenas com as doses de paixão de quem acredita em transformações.

Na contracapa do livro, escrevi:

“Eu fui duas vezes a Cuba, em 1996 e 2013. Gostei de ambas as visitas. Fiquei poucos dias, mas deu para ver um pouco da Havana real, desde os problemas de falta de quase tudo em 96, no “período especial”, após o fim da URSS, como vi uma Havana Viaja em restauro, apesar de perdas já irreparáveis, mas já superando seus problemas com crescimento econômico e abertura. Vi e conheci um povo encantador, alegre, festeiro e hospitaleiro (…)”

Vladimir escreve com paixão porque passou este tempo lá andando, rodando, viajando, falando, escutando com o coração e a mente aberta.

Por isso, dedica seu livro ao “heroico povo cubano”. Ele mostra quão generosos e heroicos são os cubanos. Os que ele conheceu; aqueles que eu conheci.

Morar como mora um cubano, pegar ônibus como morador local, ir até as “tendas” com poucos CUCs (dólares cubanos) ensina a conhecer.

A sua observação diária da vida de lá é um guia que sugeri a amigos que querem visitar a Ilha de Fidel.

Sim, de Fidel, mesmo agora depois de sua morte, porque ele o “Comandante”, gostem as pessoas ou não, falem o que falem no Facebook, a realidade é bem próxima daquilo que as pessoas vão ler em Cuba Hoje, de Vladimir Cunha Santos.

Cuidadosamente traça um resumo da rica história cubana, sua luta contra os espanhóis, os americanos, as ditaduras e a cruel exploração capitalista.

Pelos seus relatos temos uma ideia de como funciona sua economia com o “peso cubano” (CUP) e o peso conversível (o CUC – o tal “dólar” cubano).

Apesar de o PIB estar em crescimento na atualidade, é visível que a crise mundial atinge a economia local.

O problema é que Cuba compra, importa, mais do que vende, exporta.

Todas as pessoas sem exceção se queixam de que os  salários são baixos demais.

Sempre se fala, as pessoas falam, que são pobres, mas não passam fome e ninguém mora na rua.

Saúde, educação e esportes são exemplares em Cuba.

Mesmo no chamado “período especial” dos anos 90, quando faltava de tudo mesmo, o governo garantiu que  saúde e educação seriam sempre prioridade e permaneceriam gratuitos.

Fico me perguntando o quanto pode ser nefasto o ranço  ideológico quanto ao regime cubano ao se opor sem argumentação ao trabalho dos médicos cubanos.

Não é preciso ser entusiasta como nosso autor com os feitos na maior ilha do Caribe, mas simplesmente observar, ver, sentir, escutar para saber que há avanços que poucos países tiverem na saúde e na educação.

Sempre achei precário o sistema habitacional local, mas lendo o Vladimir e pensando aqui em nossas favelas me dou conta que eles moram melhor que a maioria de nossos brasileiros. 85% das pessoas moram em local seu, sem pagar aluguel.

Cuba serviu ao capital internacional plantando cana e tabaco à exaustão. Hoje, estão  saindo deste dilema pela diversificação, pelo plantio agroecológico; mas o bloqueio comercial ainda traz dor de cabeça aos cubanos.

Vladimir é um homem que fez jornal no interior do Rio Grande do Sul, contista e poeta, ficou mais do que encantado com a cultura local. E com razão. Passando pelas páginas de seu livro a gente se emociona com
a criatividade do povo cubano.

Nós que vivemos aqui momentos difíceis, com insegurança generalizada, com uma baixa nas artes e na cultura, dá uma vontade danada de pegar um avião e se mandar para a Ilha.

Vladimir ainda relata sobre o tema da religião, sobre o partido, eleições, participação popular, sem fazer um debate nem político nem ideológico sobre estes temas, pois seria um “outro” livro.

Cuba hoje é uma obra para ser lida, comentada e indicada. Um livro para ser emprestado e guardado.

.oOo.

Adeli Sell é escritor, consultor, vereador de Porto Alegre.


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