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15 de dezembro de 2016
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15:19

Porto Alegre: população em situação de rua aumenta em mais de 50% em cinco anos

Por
Luís Gomes
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15/12/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Fasc e UFRGS apresentam os resultados da pesquisa quanti-qualitativa da população adulta, criança e adolescente em situação de rua em Porto Alegre, no Paço Municipal. Foto: Maia Rubim/Sul21
Resultados da pequisa foram apresentados por representantes da UFRGS e da Fasc | Foto: Maia Rubim/Sul21

Luís Eduardo Gomes

A Fundação de Assistência Social e Cidadania de Porto Alegre (Fasc) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) anunciaram nesta quinta-feira (15), em coletiva realizada no Paço Municipal, os dados de sua mais recente pesquisa sobre a população em situação de rua da Capital.

Em um levantamento realizado entre março e dezembro deste ano, as entidades contabilizaram 2.115 adultos em situação de rua na Capital. Desses, 1.758 aceitaram participar da pesquisa e tiveram dados cadastrados. Em 2011, haviam sido contabilizadas 1.347 pessoas. Em 2007, última vez que uma pesquisa qualitativa tinha sido realizada, eram 1.203. Foram considerados moradores em situação de rua pessoas que não tem uma residência fixa, recorrendo a albergues/abrigos, casas abandonadas, parques, viadutos e calçadas para dormir.

Patrice Schuch, coordenadora da pesquisa na UFRGS, pondera que não há uma causa específica para o crescimento dessa população. “Do ponto de vista da pesquisa, a gente pode falar dos motivos associados à ida para rua, como percebido pelos entrevistados. Nesse caso, nós temos cerca de 32,5% de pessoas dizendo que o principal motivo da ida para a rua foram questões associadas a problemas ou instabilidades familiares. Depois, nós temos o percentual de 24% de pessoas que disseram que o principal motivo relacionado à ida para a rua eram problemas ligados ao álcool e às drogas”, disse Schuch.

15/12/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Fasc e UFRGS apresentam os resultados da pesquisa quanti-qualitativa da população adulta, criança e adolescente em situação de rua em Porto Alegre, no Paço Municipal. Foto: Maia Rubim/Sul21
Patrice Shuch, coordenadora da pesquisa pela UFRGS | Foto: Maia Rubim/Sul21

No entanto, ela salienta que esses dados representam apenas motivações autodeclaradas, e não fatores sociais que poderiam estar relacionados, como a questão do desemprego, este apresentado como principal causa por apenas 9% dos entrevistados.

Das 1.758 pessoas cadastradas – as demais se recusaram a responder a questionamentos -, 1.502 são identificados como homens (85,7%) e 242 como mulheres (13,8%); 34,4% como brancos, 24,5% como negros, 12,4% como pardos, 2,8% como indígenas, 0,7% como amarelos e 24,6% como outros.

Questionados sobre o local em que dormem, 698 disseram morar no bairro Centro (39,7% do total), 211 no Floresta (12%), 131 no Menino Deus (7,5%), 102 no Navegantes (5,8%) e 98 na Cidade Baixa (5,6%), totalizando 70,6% nestas regiões centrais. Ao todo, foram contabilizadas pessoas morando na rua em 42 bairros da Capital.

Além disso, foi aplicado um questionário a uma amostra de 467 pessoas, que apontou que 49,3% das pessoas em situação de rua da cidade nasceram em Porto Alegre, 9,8% na Região Metropolitana, 32% no interior do Estado, 6,9% em outros estados e 1,4% de outros países.

Em relação à faixa etária, 9,9% têm entre 18 e 24 anos, 28,7% entre 25 e 34 anos, 29,1% entre 35 e 44 anos, 25,3% entre 45 e 59 anos, e 7% tem 60 anos ou mais. Levantou-se que 25,2% moram há menos de um ano na rua, 27,1% de um a cinco anos, 18,6% de cinco a dez anos, 19,3% de dez a 20 anos, e 9,9% há mais de 20 anos. Também apurou-se que 12,5% das pessoas moram há menos de um ano em Porto Alegre, 12,2% entre um e cinco anos, 10,1% entre cinco e 10 anos, 14,1% entre dez e 20 anos, e 51,1% a mais de 20 anos.

Sobre o nível de escolaridade, 6% disseram ser analfabetos, 57,4% ter Ensino Fundamental incompleto, 12,8% ter Ensino Fundamental completo, 9,7% ter Ensino Médio incompleto, 9,9% ter Ensino Médio completo, 1,6% ter Ensino Superior incompleto, 0,8% ter Ensino Superior completo, 0,3% ter pós-graduação, 1% nunca ter ido para a escola e 0,5% não responderam.

O levantamento apurou ainda que a maioria (52,1%) das pessoas dormem cotidianamente em lugares de risco (como calçadas, parques, viadutos), enquanto o restante preferencialmente dorme em albergues, abrigos, hotéis/pensões (em geral pagos pela Prefeitura), casa de amigos ou casa própria.

Os números divulgados dizem respeito apenas à população adulta. Os números relativos a menores de idade serão divulgados em breve. Todos os dados estarão na publicação “População de Rua: políticas públicas, práticas e vivências”, a ser lançado no próximo ano.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Centro de Porto Alegre abriga cerca de 40% de todos os moradores em situação de rua da Capital. Na foto, viaduto Otávio Rocha | Foto: Guilherme Santos/Sul21

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