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22 de novembro de 2014
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12:33

Instituto de Artes da UFRGS sofre com falta de espaço adequado para as atividades

Por
Sul 21
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Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Instituto de Artes da Universidade do Rio Grande do Sul foi inaugurado em 1908f  | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Roberta Fofonka

Entidade centenária em Porto Alegre, o Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IA/UFRGS) há tempos convive com um extenso debate interno sobre a condição de suas instalações, sobretudo do prédio que leva o nome da instituição, situado na Rua Senhor dos Passos, no centro da cidade. O prédio, de oito andares e 4.610,13 m², foi inaugurado em 1943, quando atendia em torno de 350 alunos e contava com aproximadamente 25 professores e oito técnicos administrativos. Com o passar dos anos, o número de estudantes que usufruem dos departamentos evoluiu consideralvemente, contabilizando em 2013 cerca de 3.000 estudantes por semestre, mais 107 professores e 39 técnicos. A estrutura do prédio principal, no entanto, manteve-se a mesma.

Os problemas maiores em pontos específicos da edificação se evidenciam, principalmente, quando chove. Durante aqueda de granizo que ocorreu na Capital em meados de outubro, o laboratório de fotografia e parte da sala de fotografia digital, onde há 16 computadores, ficaram alagados, comprometendo dois iMacs novos da universidade e suspendendo as aulas e uso dos locais por quase um mês. As necessidades do IA hoje não só dessa, mas das outras unidades acadêmicas, não são somente de aprimoramento do espaço físico, mas de ampliação.

| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Prédio inaugurado em 1943 já triplicou número de estudantes | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“O lado legal é que é um prédio antigo, histórico. Mas é um esforço de todos para tentar fazer com que os ateliês tenham condições boas de trabalho. E tem muitas práticas artísticas que nem se cogita tentar desenvolver aqui dentro”, opina o estudante Felipe Schulte, que cursa Artes Visuais desde 2011. “Para as artes mais tecnológicas, não temos nem computadores adequados, projetores. Muita coisa que a gente vê o circuito fazendo não temos como fazer”, exemplifica.

O Instituto de Artes da UFRGS é composto atualmente pelos departamentos de Artes Visuais (DAV), Arte Dramática (DAD) e Música (DEMUS) e pelos Programas de Pós-Graduação em Música, em Artes Visuais e Artes Cênicas. O IA é distribuído em mais dois endereços, na Rua General Vitorino, onde fica o DAD, e na rua Professora Annes Dias, onde funciona o programa de Pós-Graduação em Música. Os problemas de infraestrutura adequada atingem a comunidade acadêmica como um todo.

Basta perambular um pouco pelo prédio, que vão surgindo as mais diferentes demandas. De alguma forma, todas elas acabam voltadas para a questão do espaço. “A gente consegue usar os ateliês fora do horário de aulas com autorização especial, mas não tem nenhum espaço coletivo de trabalho sempre aberto, eu acho que isso faz muita falta”, sugere a aluna do 4º semestre de Artes Visuais, Valentina Malavoglia. Ela afirma que já teve de inventar soluções para poder trabalhar, fazendo uso de uma sala vazia de forma irregular. “Eu queria fazer uma instalação e não tinha onde, então ocupei um espaço que é da pós-graduação. Mas porque era minha única opção”, argumenta.

Além disso, a Biblioteca Carlos Barbosa não tem mais capacidade física para receber novos livros, afora aqueles que constem em bibliografias básicas e obrigatórias. “Temos mais de 20 mil volumes e estamos tendo que restringir as aquisições, o que é uma pena. Semanalmente vêm pessoas aqui querendo fazer doações de acervos riquíssimos e a gente recusa material porque não tem espaço”, expõe a bibliotecária responsável Jacqueline Niehuls, que trabalha há 20 anos no IA. O mobiliário sofre com cupins e há poucas mesas para consulta local e estudo dos usuários. “A situação aqui está como todos os setores do IA. Todos estão sofrendo problemas”, esclarece. Outro probma é a falta de isolamento acústico para as aulas de música, modalidade que requer condições acústicas favoráveis para o aprendizado. É comum que o som que vaza de uma sala de aula acabe interferindo outras que estejam acontecendo ao mesmo tempo, não somente entre as de música, mas as de artes visuais.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
A aluna Valentina já ocupou sala indevidamente por falta de espaço | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“É um prédio que não tem características muito favoráveis de estrutura, não tem escada de emergência, por exemplo. Mas eu não definiria como um prédio perigoso”, aponta o diretor Alfredo Nicolaiewsky , à frente da instituição nos últimos oito anos. Após longo diálogo, muitas vezes inconclusivo, Nicolaiewsky explica que agora a unidade se aproxima de um consenso, internamente e junto à Reitoria. “Hoje há uma posição de que a única opção seja construir um prédio lá no Campus do Vale”, afirma. Há a hipótese também de uso do lugar onde hoje funciona o Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS), antigo prédio da Faculdade de Medicina, em frente ao viaduto da Avenida João Pessoa, onde provisoriamente está armazenado o Arquivo Histórico do Instituto de Artes, de grande importância artística e cultural.

Uma das proposições importantes é a de que o IA não fique de fora do circuito do centro da cidade, inclusive por causa do relacionamento com o público, cultivados na pinacoteca e no teatro que o edifício abriga. Com este remanejamento, os espaços atuais passariam a ser usados mais amplamente para exposições da face pública do instituto. A diretora que assumirá a próxima gestão, a partir de 19 de dezembro, ex-aluna e professora do IA desde 1995, Lucia Carpena, vê com otimismo a possibilidade de construção de um novo prédio.

“É um momento político de atendimento e atenção às universidades federais, o IA tem sido ouvido pela Reitoria e o diálogo entre as unidades amadureceu muito na gestão do professor Alfredo, que conseguiu implementar a ideia do coletivo”, pontua. Ela acredita ser mais prático construir uma estrutura proporcional do zero do que tentar reparar o prédio existente. “Um prédio bom para a música não é necessariamente bom para o teatro e para as artes. Temos que ter um espaço adaptado e apto a atender à necessidade de cada especialidade”, justifica. Lucia complementa que, para a boa qualidade dos cursos e artistas do IA, a estrutura não está à altura. “O pós-graduação em música que a gente tem, por exemplo, que é o melhor pós-graduação em Artes do Brasil. Mesma coisa com as Artes Visuais, em que a gente é pioneiro em um monte de coisas. Então, a nossa infraestrutura física tem que representar o que a gente tem aqui em termos de qualidade de recursos humanos”, pondera.


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