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25 de agosto de 2019
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18:37

Moradores de Gramado atiram gelo e comida em artistas que protestavam contra censura

Por
Luís Gomes
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Artistas protestam no tapete vermelho antes de cerimônia de premiação do Festival de Gramado | Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto

Da Redação

O encerramento da 47ª edição do Festival de Gramado foi marcado por um protesto de artistas contra os cortes de recursos para a Cultura e contra as mudanças na Agência Nacional do Cinema (Ancine) promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). Ao passarem pelo tapete vermelho do Palácio dos Festivais antes da cerimônia de premiação do evento, um grupo de artistas realizou o ato, que contou com uma grande faixa com os dizeres “pelo cinema” e “contra a censura”.

De acordo com o jornalista especializado em cinema Lucas Salgado, por causa da manifestação, os artistas foram alvo de vaias e tiveram jogados contra si restos de comida e pedras de gelo durante a passagem pelo tapete vermelho.

Apesar de ser palco de um dos mais tradicionais festivais de cinema do Brasil, que ajudou a transformar a cidade em um polo turística, Gramado é uma cidade politicamente conservadora. Nas últimas eleições presidenciais, Bolsonaro recebeu 82,5% dos votos válidos na cidade, contra apenas 17,5% de Fernando Haddad (PT).

Contudo, a revolta da população local contra as críticas ao presidente não abalou os artistas, uma vez que a cerimônia foi marcada por novas manifestações de resistência. Durante a foto dos vencedores do Prêmio Kikito, foi estendida uma faixa com os dizeres: “Pelo cinema LGBT”.

Manifestações contra a censura continuaram durante a cerimônia de premiação | Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto

Desde que assumiu seu mandato, Bolsonaro tem criticado diretamente a produção de cinema nacional e ameaçado influenciar diretamente quais filmes podem ou não captar recursos públicos. Em “live” publicada nas redes sociais no dia 15 de agosto, ele disse que o governo “garimpou” filmes com a temática LGBT que estavam prontos para captar recursos via leis de incentivo e determinou que não sejam liberadas verbas para os filmes — a captação de recursos por meio de leis de incentivo é feita junto a iniciativa privada, que pode abater os valores investidos na hora de pagar impostos.

A Carta de Gramado — documento que tradicionalmente é lido ao final do festival –, assinada por 63 entidades, destacou a importância do cinema para a cultura e autoestima de um país, assim como sua relevância na economia nacional.

“Repudiamos qualquer ataque a qualquer tipo de censura que atenta à liberdade de expressão e fere os preceitos constitucionais garantidos pelo Art. 5º da Constituição. Nossa cadeia produtiva é dinâmica e movimenta mais de R$ 25 milhões por ano, representando 0.46 do PIB brasileiro. Tem uma taxa de crescimento de 8.8 ao ano e é responsável por mais 330 mil empregos. Garantir o audiovisual fortalecido e livre é fundamental para a soberania nacional”, diz um trecho da carta (leia a íntegra).

Premiação

Depois de ser aplaudido de pé e ovacionado na sessão de terça-feira, o longa brasileiro “Pacarrete” levou oito Kikitos e arrebatou o 47º Festival de Cinema de Gramado. O costa-riquenho “El Despertar de Las Hormigas” foi o melhor filme entre os longas estrangeiros e a animação “Apneia” foi o melhor curta-metragem brasileiro. Estreando na mostra competitiva, a categoria de longas gaúchos premiou “Raia 4” como melhor filme.

Confira a lista completa de vencedores:

Longas Brasileiros
Melhor Filme: “Pacarrete”, de Allan Deberton
Melhor Direção: Allan Deberton, “Pacarrete”
Melhor Ator: Paulo Miklos, em “O Homem Cordial”
Melhor Atriz: Marcélia Cartaxo, em “Pacarrete”
Melhor Roteiro: Allan Deberton, André Araújo, Natália Maia e Samuel Brasileiro, por “Pacarrete”
Melhor Fotografia: Edu Rabin, por “Raia 4”
Melhor Montagem: Joana Collier e Fernanda Krumel, por “Hebe”
Melhor Trilha Musical: Sascha Kratzer, por “O Homem Cordial”
Melhor Direção de Arte: Tulé Peake, por “Veneza”
Melhor Atriz Coadjuvante: Carol Castro, em “Veneza” e Soia Lira, em “Pacarrete”
Melhor Ator Coadjuvante: João Miguel, em “Pacarrete”
Melhor Desenho de Som: Rodrigo Ferrante e Cauê Custódio, por “Pacarrete”
Prêmio especial do Júri: “30 Anos Blues”
Júri da Crítica: “Raia 4”, de Emiliano Cunha
Melhor filme do Júri Popular: “Pacarrete”, de Allan Deberton

Longas estrangeiros
Melhor Filme: “El Despertar de Las Hormigas”, de Antonella Sudasassi Furnis
Melhor Direção: Juan Cáceres, por “Perro Bomba”
Melhor Ator: Fernando Arze, em “Muralla”
Melhor Atriz: Julieta Díaz, “La forma de las horas”
Melhor Roteiro: Bernardo e Rafael Antonaccio, por “En el Pozo”
Melhor Fotografia: Rafael Antonaccio, por “En el Pozo”
Prêmio especial do júri: para as meninas Isabella Moscoso e Avril Alpizar do filme “El despertar de las hormigas’, por suas excelentes atuações.
Menção Honrosa: para a direção de arte de “Dos Fridas”
Júri da Crítica: “El Despertar de Las Hormigas”, de Antonella Sudasassi Furnis
Melhor filme Júri Popular: “Perro Bomba”, de Juan Cáceres

Longas Gaúchos
Melhor filme: Raia 4, de Emiliano Cunha

Curtas Brasileiros
Melhor Filme: “Apneia”, de Carol Sakura e Walkir Fernandes
Melhor Direção: Diogo Leite, por “O Menino Pássaro”
Melhor Ator: Rômulo Braga, em “Marie”
Melhor Atriz: Cassia Damasceno, em “Mulher que Sou”
Melhor Roteiro: Renata Diniz, por “O Véu de Armani”
Melhor Fotografia: Sebastian Cantillo, por “A Ética das Hienas”
Melhor Montagem: Daniel Sena e Thiago Foresti, por “Invasão Espacial”
Melhor Trilha Musical: Carlos Gomes, em “Teoria Sobre Um Planeta Estranho”
Melhor Direção de Arte: Gutor BR, por “Sangro”
Melhor Desenho de Som: Gustavo Soesi, “Um Tempo Só”
Prêmio especial do júri: para as atrizes Divina Valéria e Wallie Ruy, em “Marie”, por nos permitirem vivenciar deslocamentos corporais inesperados e por imaginarem um futuro travesti num país que mais mata trans no mundo.
Júri da Crítica: “Marie”, de Leo Tabosa
Melhor Filme Júri Popular: “Teoria Sobre Um Planeta Estranho”, de Marco Antônio Pereira
Menção Honrosa: a Ester Amanda Schafe, de “A Pedra”, pela vigorosa interpretação e pelo talento promissor que revela.
Prêmio Aquisição Canal Brasil: “Marie”, de Leo Tabosa


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