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1 de novembro de 2011
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02:15

A doença de Lula como mote para a melhoria do SUS

Por
Sul 21
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Lula já disse que o Brasil estava perto de atingir a perfeição no atendimento público de saúde. Foi na inauguração de obras no Grupo Hospitalar Conceição, em Porto Alegre, anos atrás. Um exagero, sem dúvida, mesmo que o Hospital Conceição seja considerado um hospital modelo, como de fato o é.

Na segunda-feira (31), Lula iniciou sessões de quimioterapia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para combater um câncer na laringe, recém diagnosticado. Referência no combate ao câncer no Brasil e na América do Sul, onde se tratou Dilma Rousseff e o presidente Lugo, do Paraguai, o Hospital Sírio-Libanês é uma instituição privada e, por este motivo, iniciou-se uma batalha nas redes sociais e na imprensa, com milhares criticando o ex-presidente e sua escolha e outros milhares defendendo-o e à sua escolha.

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— Câncer de Lula é motivo de ataques ao SUS e ao ex-presidente

O debate chegou às raias da grosseria, tal a agressividade liberada. De um lado, o fato de o ex-presidente não se tratar pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi tomado como a confirmação da falência do sistema, do descaso pela saúde pública no Brasil e, ao mesmo tempo, da hipocrisia do ex-presidente, que, à frente do governo, além de não ter provido o sistema das condições ideais de funcionamento, ainda teria feito elogios a algo a que ele próprio se recusa a utilizar.

De outro lado, as críticas foram apontadas como mais uma manifestação do despeito e do preconceito dos opositores, que não reconhecem o direito de o ex-presidente escolher livremente, como qualquer cidadão, o local, os médicos e o tratamento com os quais se sente mais seguro e confortável. O SUS foi defendido e foi ressaltado que suas maiores deficiências estão no atendimento de emergência e na admissão aos seus serviços e foram exaltados os seus tratamentos de média e alta complexidade, como os necessitados pelo ex-presidente. Argumento, aliás, que serviu para realimentar a discussão, pois, se os serviços são bons, este seria mais uma motivo para que eles fossem utilizados também pelo ex-presidente.

Como sempre acontece quando os ânimos se exaltam, parece que nenhum dos lados tem a totalidade da razão. Se, por um lado, o SUS não é o mais perfeito sistema de saúde público do mundo, ele é, com certeza, um dos mais abrangentes e completos dentre os existentes nos diferentes países. Falta, com certeza, muito que avançar para que seus serviços sejam acessíveis no tempo necessário para o conjunto dos cidadãos, eliminando-se filas para o atendimento e o tempo de espera para cirurgias e tratamentos sofisticados.

Os sistemas públicos de saúde no mundo, no entanto, foram desmontados na maioria dos países durante o período de domínio das concepções ultraliberais. Na contramão da história daqueles anos, o SUS brasileiro foi implantado a partir da Constituição democrática de 1988, com o reconhecimento de que “a saúde é um direito do cidadão”. Na Inglaterra de Margareth Thatcher, por exemplo, o sistema que já foi modelo para o mundo foi sucateado. Nos EUA sequer existe um sistema público universal e muito do desgaste de Barack Obama vem da oposição desencadeada pelos adeptos do Partido Republicano à sua tentativa de implantar um sistema público de saúde muitíssima vezes mais tímido do que o brasileiro.

Mesmo nos países escandinavos, na Dinamarca e na Suécia, onde se encontram os melhores sistemas públicos de saúde ainda existentes no mundo e que não foram desmontados pelos governos ultraliberais, se reconhece, no entanto, o direito de os cidadãos, quaisquer que sejam eles – governantes ou não – mas que possam arcar com seus custos, tratarem-se com médicos e em hospitais privados, que costumam ser mais céleres no atendimento.

Polêmicas acirradas e ânimos exaltados, como os que observamos agora, raramente costumam resultar em melhorias coletivas. Que tal se opositores e situacionistas se unissem, a partir de agora e sob o mote da doença de Lula, para cerrar fileiras e concentrar esforços na defesa do SUS e na construção de condições para que seus serviços se tornem ainda melhores e seu atendimento mais rápido, com a eliminação ou, ao menos, a diminuição das filas e da espera no atendimento?

Veja o que disse a Dra. Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança em relação ao SUS:

Veja o que disse o ex-presidente Lula sobre o SUS:


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