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8 de novembro de 2010
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10:00

Sucessão de Simon motiva discussão interna no PMDB gaúcho

Por
Sul 21
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Sucessão de Simon motiva discussão interna no PMDB gaúcho
Sucessão de Simon motiva discussão interna no PMDB gaúcho

Igor Natusch

Depois de um conturbado período eleitoral, no qual sofreu uma pesada derrota nas urnas, o PMDB gaúcho volta-se para si mesmo em busca de unidade. Precipitado pela saída de Pedro Simon (PMDB) da presidência estadual, o debate dentro do partido é intenso, direcionado para a formação de um novo diretório estadual. Como pano de fundo, a necessidade de construir a unidade em uma legenda que mostrou-se rachada durante as eleições, ao ponto de a candidatura de José Fogaça (PMDB) ao Piratini sofrer uma inédita derrota em primeiro turno para o adversário petista, Tarso Genro.

A construção do novo diretório, que deve ser definido em convenção marcada para a metade de dezembro, é a preocupação mais chamativa, mas não a única. Em permanente desalinho com a direção nacional, que é liderada pelo vice-presidente eleito do Brasil, Michel Temer (PMDB-SP), o PMDB gaúcho precisa decidir se manterá essa postura ou buscará uma aproximação com Brasília. A relação tensa entre base e lideranças ficou muito clara com a divisão entre apoiar José Serra (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT) na disputa presidencial, e também preocupa as mentes pensantes da sigla. Por fim, há certa urgência em elaborar uma estratégia estadual, já pensando na eleição municipal de 2012, vista como de grande importância para revigorar a legenda no Rio Grande do Sul.

Sebastião Melo / Divulgação Câmara Municipal de Porto Alegre

O vereador peemedebista de Porto Alegre Sebastião Melo afirma que uma assembleia geral do partido ocorrerá no dia 16 de dezembro. Na pauta, a prioridade é eleger um novo diretório estadual. Segundo o vereador, a escolha de um nome de consenso está, pelo menos nesse momento, descartada. “Natural, no nosso caso, só iogurte”, brinca. Para ele, é fundamental que o novo diretório seja capaz de unificar o PMDB gaúcho em torno de uma agenda comum. “Um discurso sem prática é como um tiro sem bala: soa, mas não atinge ninguém”, compara. “Não dá mais para personalizar, tentar achar soluções em uma pessoa só. Precisamos construir uma solução coletiva, com muita discussão”.

Sem acomodação

Alceu Moreira

“A única coisa que não pode acontecer é trabalharmos essa transição com uma ideia de personalismo, de acomodação”, concorda Alceu Moreira (PMDB), recentemente eleito deputado federal. Ele garante que o partido está promovendo reuniões periódicas para tratar do assunto. “Estamos tendo belas conversas, fazendo uma profunda reflexão sobre nosso papel político daqui para frente. Temos que aliar nossa força política com uma atuação mais estratégica, desenvolver uma agenda para o partido e adotar uma postura de oposição. Mas sem raiva, buscando algo mais propositivo”.

Articulações estão sendo feitas, no sentido de aproximar as bases e as lideranças estaduais do PMDB. Um dos diagnósticos feitos pelo partido é de que criou-se uma distância entre os principais líderes, a maioria deles com mandato parlamentar, e os nomes mais influentes nas microrregiões do estado, em especial prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Segundo o deputado estadual Edson Brum (PMDB-RS), um encontro será promovido na próxima semana, reunindo deputados peemedebistas e representantes dos municípios. O objetivo é aparar as arestas entre os dois grupos e trabalhar na construção de uma agenda comum.

Edson Brum explica que as chapas para o diretório devem ser registradas até 7 dias antes da convenção estadual. Uma semana depois de eleito, o diretório montará uma executiva, que conduzirá o partido em direção às eleições municipais de 2012. “Esse grupo vai elaborar um projeto de consenso, com o auxílio de um corpo técnico. Obviamente, todos poderão opinar. Queremos que o projeto seja discutido até as vírgulas”, assegura Edson Brum.

Marco Alba

Marco Alba é nome forte

Embora as lideranças peemedebistas evitem falar em nomes, o fato é que uma lista de presidenciáveis já é discutida nos bastidores. Entre os cotados para assumir o comando estadual, surgem nomes como Ibsen Pinheiro, Alceu Moreira e Edson Brum. Mas o nome mais forte dentro do partido é o do deputado estadual Marco Alba. Para muitos, Alba seria capaz de construir um consenso, agradando tanto as bases quanto os parlamentares mais destacados do partido. Além disso, o deputado teria a bênção de Pedro Simon, e seria uma figura capaz de neutralizar a corrente de Eliseu Padilha (PMDB) – político de bom trânsito entre prefeitos e vereadores, mas que alguns colegas de legenda preferem ver longe do comando estadual.

“Marco Alba é um quadro extraordinário. Se ele tem essa pretensão (de ser presidente do PMDB gaúcho), é uma coisa legítima, nada o impede. Mas escolher um candidato antes de definir um projeto seria um equívoco”, adverte o deputado Alceu Moreira. “Não é hora de reforçar a divisão de alas dentro do partido. Precisamos de uma unidade de projeto, uma unidade construtiva, já pensando na disputa por prefeituras em 2012. Depois de termos consolidado uma ideia comum, podemos pensar em A ou B. O nome tem que vir depois do consenso, e não o contrário”.

O próprio Alceu Moreira está entre os cogitados para assumir a presidência do partido. Embora não descarte a ideia, não demonstra tanto entusiasmo com a possibilidade. “Se meu nome surgir, como resultado de uma discussão espontânea dentro do partido, aceitarei a indicação com muita alegria”, diz. “Mas acabei de ser eleito deputado federal. Tenho todo um espaço novo para atuação. Em Brasília, alguns colegas apoiarão o governo federal (de Dilma Rousseff), outros não. Essa já é uma discussão que teremos que conduzir de forma produtiva. (Assumir a presidência) não é o mais importante para mim”, garante.

Edson Brum

“Fico feliz de ser lembrado”, diz Edson Brum, que também está na lista de possíveis nomes para a presidência estadual do PMDB. Mas segue a mesma linha de Alceu Moreira, dizendo que o partido precisa de um “rumo” antes de discutir nomes. “É um momento de reconstrução, não de disputar espaços. Seria uma honra (ser presidente estadual do PMDB), mas meu objetivo não é esse, e sim ajudar na construção de um projeto”.

“Se fizermos como antes, trabalhando em cima de um nome, estaremos adotando a prática velha. Não queremos renovar o partido?”, questiona Sebastião Melo. O vereador levanta críticas ao modo como o PMDB estadual vinha conduzindo suas questões. “Não podemos endeusar quem tem mandato, deixar as decisões na mão dos parlamentares do partido. E os outros? O PMDB gaúcho se deixou levar por uma política de mandatos, passamos longos períodos sem reunir o diretório. Temos que botar esses problemas na mesa, buscar uma equação, um equilíbrio. Por isso que temos que montar uma equipe, ao invés de personalizar”.


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