Opinião
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6 de março de 2023
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10:56

Transporte público, de massa e de qualidade: o melhor negócio para o País (por Ronaldo Botelho)

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Ronaldo Martins Botelho (*)

O ônibus enquanto solução para o transporte urbano de massa está superado há muito tempo. Em capitais em que a sociedade civil se deu conta disso, a reação acontece. É o caso do Movimento Mais Metrô em SP, o METRÔ QUE O RIO PRECISA no RJ e o Floripa Sustentável em SC, para citar só alguns.

Poderia se ter alguma esperança que a gestão do MDB de Renan Filho no Ministério dos Transportes se sensibilize para isso? A ver.

Fato é que, nesse País, os lobbys das empresas de transporte rodoviário e da indústria automobilística, aliados a uma visão política historicamente míope sobre a demanda do transporte e mobilidade urbana, mantêm as conveniências, para o sofrimento dos usuários.

Custo social

Amortece essa opressão os serviços de transporte de qualidade, como ainda têm sido, por décadas, o caso da centenária Companhia Carris Porto-Alegrense . Mas o neoliberalismo, que visa o lucro e não a vida, tende a tornar deficitárias também essas alternativas.

É público e notório o sucateamento dessa empresa, desde sempre na mira de privatização pela gestão de Melonaro. Pessoal da Associação dos Trabalhadores do Transporte Rodoviários de Porto Alegre sabe do que falo.

E o receituário para isso é conhecido: sucateia, precariza os serviços, desmoraliza e constrói o discurso sobre a necessidade de vender para a “competência privada”.

Parece ter feito parte desse pacote a extinção da prestativa linha Universitária, que ligava três campis da UFRGS e a PUCRS. Criada a partir de demandas planejadas e identificadas, essa linha era uma alternativa popular, rápida e confortável, que contemplava milhares de trabalhadores e estudantes.

E por falar em popular,  parece que o caráter racionalizador antissocial dessa política privatista do atual governo municipal para o transporte público de Porto Alegre vai muito além de linhas e horários.

Em dezembro de 2021, extinção do acesso ao meio passe para professores e estudantes de pós-graduação e a restrição rigorosa para os demais estudantes a esse mesmo direito, decretada por esse governo,  impactou sensivelmente esses segmentos. Na ocasião, o jornal Sul 21 registrou a repercussão negativa de tais medidas.

Nesse cenário de deficiências e limitações, é claro que a uberização surfa como um mal necessário. Mas o sintoma não serve como explicação para a causa.

Direito X Privilégio

O transporte público e popular de qualidade segue tendo um papel relevante e insubstituível, particularmente nas regiões metropolitanas. Mas se trata de um serviço de alto interesse coletivo, cujas demandas, lucros e investimentos devem passar por critérios de responsabilidade social, muito além de planilhas de maximização lucrativa.

Do contrário, o alto valor das tarifas com a redução dos subsídios, tende a torná-lo um privilégio o que é constitucionalmente assegurado como um direito.

E se algum porto-alegrense ainda tem dúvida sobre os motivos para essa atenção, basta observar as esperas e filas nos terminais dos centros urbanos – alguns desses, como do Triângulo, o do Viaduto da Conceição e o do terminal São Jorge, com problemas estruturais que beiram ao a abandono.

Diante desse cenário, já há quem não se surpreenda com uma espera de cerca de 5min para subir em um ônibus superlotado, como testemunhei há poucos dias, por volta das 7h30, no Terminal São Jorge, em um dos veículos da Linha T11.

Essa linha, que tem um de seus terminais no Aeroporto Internacional Salgado Filho – POA , integra o grupo de transversais que oferece um valoroso conjunto de opções para cruzar a cidade de ponta à ponta e que o governo de Melo também está conseguindo precarizar.

A EPTC – Empresa Pública de Transporte e Circulação (oficial), tão hábil em aplicar multas – e quem sabe outros órgãos públicos competentes – poderiam prestar mais atenção na fiscalização desse serviço tão essencial na capital gaúcha.

Semelhante expectativa deve se esperar da Metroplan, no sentido de identificar e responder com mais celeridade e eficácia às demandas dessa natureza no âmbito metropolitano.

A despeito disso, a solução passa pela execução de projetos estruturais, como uma política de Estado, que atravesse governos. E como assinalei na abertura dessa reflexão, o Metrô é um caminho imperante e indispensável nesse norte. Disso depende milhões de vidas, isso esperam algumas gerações.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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