Opinião
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13 de novembro de 2022
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12:46

Terrorismo político na questão indígena (por Tau Golin)

Povos indígenas sofreram violação massiva de direitos durante governo Bolsonaro. (Foto: Cimi/Divulgação)
Povos indígenas sofreram violação massiva de direitos durante governo Bolsonaro. (Foto: Cimi/Divulgação)

Tau Golin (*)

A conjuntura é uma dama sedutora que dá tempo efêmero para os idiotas e alavanca a sabedoria futura dos prudentes.

Os prudentes esforçam-se para conectar seus espaços de existência à humanidade, procuram corrigir as injustiças, reconhecer direitos, lembrar os criminosos para que eles, seus descendestes e admiradores não falseiem suas biografias e constem nos memoriais, nos livros e nos monumentos das praças como benfeitores. Para essa falsificação, em cada tempo, precisam contar com lacaios nas esferas políticas, de poder, de comunicação; são pessoas que constroem suas carreiras no terror, na histeria do medo, na criação de forças pretensamente malignas. Assim pervertem demandas históricas, correções de sociabilidades, direitos violados, realimentando os crimes e suas continuidades contemporâneas nas eleições de criminosos, de negacionistas, na criação de leis que evitem reconhecer direitos e corrigir crimes.

Alguns políticos são típicos agentes do apagamento, da negação da barbárie etnocida dos povos indígenas, principalmente dos Jê meridionais (etnias Kaingang e Xokleng) e dos Guarani (etnias Mbya, Ñandeva, Kaiowa), nações sobreviventes das diversas que existiam no Sul do Brasil do mais bárbaro genocídio implementado por políticas de Estado e por projetos de colonização, que beneficiaram milhões de imigrantes.

Quando as leis de reconhecimento territorial da República atingiram os indígenas, muitas nações já haviam sido criminosamente extintas, encontravam-se em adiantado processo de extermínio. E assim mesmo, com leis e instituições de proteção, continuou a barbárie dos intrusos sobre os territórios reduzidos dos povos.

Mas as nações indígenas sobreviventes teimaram em não morrer completamente. Resistiram, contaram com a solidariedade da parte não podre da sociedade civil e de funcionários de Estado, a que certamente não pertencem tipos como aqueles que se retroalimentam pelo “terrorismo político”.

O grande pacto da Constituinte de 1988 deu novo alento aos sobreviventes povos originários. Mas, os próceres da barbárie privativista das terras e do extermínio indígena, continuaram suas operações negacionistas pela excrescência do Marco Temporal regulatório. Negam as histórias de ataques, remoções de populações nativas pelo Estado, pelas Forças Armadas e pelas milícias, o cerco, as expulsões deliberadas e as invasões. Incontáveis dizimações…

O “terrorista político” é como o verme contaminado de impurezas atuando num cesto de frutas que poderiam permanecer saudáveis.

Mas ele é pior que vermes de balaio, pois seu chorume empesta ambientes sociais e não laranjas ou figos. Aterroriza os pacatos agricultores com inexistentes invasões de bárbaros e sanguinários “bugres”, cujas pequenas propriedades não constituem, no geral, reivindicação indígena.

Assim como o verme se realimenta e aumenta sua colônia na podridão por ele mesmo criada, o terrorista político-social faz uso da imaginação do medo para assegurar a sua carreira política fomentando comunidades doentes, assustadas, vivenciando pautas diárias de ódio, cercadas por inimigos inexistentes. Utiliza questões pontuais e diminutas para produzir histerias, as aumentando para uma questão geral, como se fosse uma “ameaça” a todos os “colonos” e proprietários de terras.

O verme de balaio vive na visita de fruta em fruta. O “terrorista político” assegura a sua existência no medo que inventa e alimenta nas comunidades rurais e cidades interioranas, espalhando o seu fel em visitas às casas e nas reuniões regionais, através de calendários permanentes de ódio, de mentira, de desinformação, e de sua escolha como representante dessas células sociais apodrecidas que ele formou. Ele só continuará vivo se elas o alimentarem com votos.

É como o verme que cria e só se mantém numa fruta podre.

O que esses terroristas das comunidades pacatas do interior não dizem é que qualquer terra reconhecida como indígena dá direito indenizatório ao seu ocupante de “boa fé”.

Não reconhecer os direitos dos povos indígenas é acreditar numa “normalidade” alicerçada no etnocídio, no crime de lesa humanidade.

(*) Tau Golin é jornalista e professor-pesquisador dos cursos de graduação e pós-graduação em História da Universidade de Passo Fundo.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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