Opinião
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24 de novembro de 2022
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14:20

Sangue indígena LGBTI+, nenhuma gota a mais! (por Via Campesina Brasil)

 Cleijomar Vasques indígena LGBTI+ da Etnia Guarani Kaiowá (Divulgação)
Cleijomar Vasques indígena LGBTI+ da Etnia Guarani Kaiowá (Divulgação)

Via Campesina Brasil (*)

A Via Campesina Brasil manifesta sua profunda indignação e vem a público denunciar o assassinato de Cleijomar Rodrigues Vasques, jovem de 16 anos, Indígena LGBTI+ da etnia Guarani Kaiowá. Ele foi brutalmente assassinado num crime de ódio no dia 12 de novembro de 2022, na Comunidade Indígena Limão Verde, no município de Amambai no Sul do Mato Grosso do Sul. Por ele ser assumidamente gay, seus assassinos o golpearam na cabeça e jogaram seu corpo na rodovia próximo à comunidade, buscando simular um acidente de trânsito.

O assassinato de Cleijomar, não é casual. Este ano houve, na mesma localidade, assassinatos similares de dois outros jovens indígenas: Timi Vilhalva e Gabriel Rodrigues também LGBTI+, apontando indícios de haver um grupo de pessoas perseguindo e ameaçando as LGBTI+ indígenas que residem nesta comunidade. Diante do contexto brasileiro onde só no ano passado houve, pelo menos, 316 mortes violentas de pessoas LGBTI+, segundo dados do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ 2022, é um desafio seguir garantindo a vida desta população em seus territórios. Afirmamos aqui que não naturalizaremos a violência. Nossos povos têm diversidade, cor, raça e etnia e tem raízes!

Cleijomar, era uma liderança jovem Guarani Kaiowá, muito presente na luta pela retomada das terras indígenas de seu povo.  Com sua energia e alegria, era participativo em sua comunidade. No auge de sua juventude, gostava de jogar bola, dançar e cursava o 1º ano do Ensino Médio, tendo o português como sua matéria preferida, que cujo aprendizado vinha aprimorando para cumprir o sonho de continuar os estudos. Relatos de seus amigos e parentes comovidos pela perda, afirmam que ele só queria ser feliz do jeito que é, vivendo e lutando junto de seu povo, com a garantia do direito ao território.

Nos solidarizamos com seus pais e suas cinco irmãs, e também com o povo Guarani Kaiowá, pois além das perdas de vidas indígenas na luta pelo território, perdem mais vidas para a LGBTfobia. Nos solidarizamos com as indígenas LGBTI+ que seguem ameaçadas neste território e pedimos às autoridades e órgãos de Direitos Humanos para acompanhar o caso, garantindo justiça pelo Cleijomar Vasques, para que seus assassinos não sigam impunes. Da mesma forma, que seja garantido que as demais indígenas LGBTI+ sigam vivas, construindo as diversas possibilidades em suas vidas a partir dos seus sonhos, sua cultura e ancestralidade.

 Pela Vida das Indígenas LGBTI+ Guarani KaiowáLGBTI+ existem e resistem no campo: Basta de Violências! Basta de LGBTIfobia! 

Brasília-DF, 24 de novembro de 2022.VIA CAMPESINA BRASILAPIB- Articulação dos Povos Indígenas do BrasilCONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais QuilombolasCPT- Comissão Pastoral da TerraMAM – Movimento Pela Soberania Popular na MineraçãoMAB – Movimento dos Atingidos Pela BarragemMST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem TerraMMC – Movimento de Mulheres CamponesasMPA- Movimento dos Pequenos AgricultoresMPP – Movimento de Pescadores e Pescadoras ArtesanaisPJR – Pastoral da Juventude Rural

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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