Meio Ambiente
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18 de novembro de 2023
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14:24

Entidades pedem preservação da concepção original do Anfiteatro Pôr do Sol

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Sul 21
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Prefeitura planeja grande mudanças no trecho da orla onde está o Anfiteatro Pôr do Sol. Foto: Ivo Gonçalves/ PMPA
Prefeitura planeja grande mudanças no trecho da orla onde está o Anfiteatro Pôr do Sol. Foto: Ivo Gonçalves/ PMPA

Um grupo de 25 entidades e movimentos ligados à causa socioambiental encaminhou um documento ao Secretário Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre (SMAMUS), Germano Bremm, e à Coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do M. Ambiente (CAOMA/MPE-RS), Ana M. Marchesan, solicitando publicização e diálogo quanto aos procedimentos e cuidados ambientais, atuais e futuros, em relação ao espaço do Anfiteatro Pôr do Sol e seu entorno, em decorrência do Festival Turá, e “garantias da manutenção de sua concepção original com restauração, como área que conjuga natureza e cultura, em harmonia com a legislação ambiental e a qualidade de vida da população de Porto Alegre”.

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O documento pede a adoção de uma série de providências elencadas bem como reuniões presenciais com SMAMUS e CAOMA, a serem oportunizadas aos solicitantes que representam diferentes grupos sociais, para discussão sobre os temas citados, “a fim de se evitar fatos que possam repetir danos ao meio ambiente, como aqueles que ocorreram, e seguem trazendo impactos ambientais, no Parque Harmonia (Parque Maurício Sirotsky Sobrinho) e Trechos da Orla do Guaíba. Quaisquer iniciativas referente ao futuro do espaço Anfiteatro Pôr do Sol, inclusive Editais de Concessão, requerem respeito à legislação ambiental e diálogo amplo com a população de Porto Alegre”.

Segue a íntegra do documento, assinado pelo biólogo e ambientalista Paulo Brack, em nome do InGá e das demais: entidades

“Em relação à mudança de local do Festival Turá (dias 18 e 19/11/2023), que seria realizado no Parque Harmonia/Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, tendo sido transferido para o Anfiteatro Pôr do Sol, as entidades e movimentos que subscrevem o presente documento vêm aqui saudar a realização deste show fora da área do Parque Harmonia a qual vem sendo fortemente afetada ambientalmente pelas obras de concessão que descaracterizaram os usos do parque. Lembramos, inclusive, que já havíamos nos manifestado publicamente favoráveis à mudança de local, anteriormente à decisão tomada.

A transferência para o Anfiteatro Pôr do Sol é salutar, por constituir-se em um espaço público concebido e consagrado com esta finalidade, já tendo histórico cultural de atuações artísticas de grande destaque, inclusive internacional, quando da realização das edições do Fórum Social Mundial. Sua posição, junto ao Rio Guaíba, lhe confere atributos paisagísticos privilegiados, com área verde constituída por amplo gramado, arborização e mata ciliar, flora e fauna nativa no seu entorno. Entretanto, a estrutura do anfiteatro, sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, está abandonada desde 2019, necessitando de forte reparo ou reestruturação total, tema reivindicado pelas entidades e movimentos ligados à temática socioambiental.

A mudança de local dos shows, para o Anfiteatro Pôr do Sol, tratando-se de área com atributos naturais de grande relevância, também requer cuidados especiais, já que é área conhecida de oviposição de quelônios (ver anexo), além de abrigar muitas dezenas de espécies de aves autóctones, muitas de habitat predominantemente das matas ciliares do Guaíba, e outros grupos de animais, como preás e ratões-do-banhado.

Neste sentido, de forma mais urgente, os signatários deste documento solicitam que se dê conhecimento público do projeto de realização do Festival Turá e das autorizações, licenças e cuidados técnicos necessários, com Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e análise técnica de parte da SMAMUS, no processo de autorização respectivo, em relação à vegetação, à fauna e à paisagem verde do espaço do público e de seu entorno, como requer a legislação e o interesse público.

Destacamos, também, que há que se resguardar, em qualquer situação, a condição de Área de Preservação Permanente (APP) do Rio Guaíba, que corresponde a 500 m, impedindo intervenções que alterem suas condições naturais.

Gostaríamos de manifestar, também, a nossa preocupação quanto ao futuro dessa área, representada pela estrutura do palco do Anfiteatro Pôr do Sol e sua área verde contígua. Neste sentido, estamos solicitando informações à Prefeitura Municipal de Porto Alegre e ao Ministério Público Estadual, no sentido de que exista a garantia de que o Anfiteatro Pôr do Sol seja mantido, em sua concepção original, público, e com melhorias, vedando-se a transformação profunda da área, em cumprimento da legislação e do interesse público, mantendo-se atividades culturais em harmonia com gramados, arborização atual e mata ciliar, o que valoriza a paisagem natural e serve de habitat para dezenas ou centenas de espécies de nossa fauna, em integração com a população de Porto Alegre.

Qualquer modificação da concepção original da área deve ser submetida à discussão ampla com a sociedade, sem induções políticas, e além disso subordinada a licenciamento ambiental pelo órgão de meio ambiente conforme a legislação. Lembramos, inclusive, que não é concebível que se admita como fato consumado o precedente de intervenção de degradação de expressiva dimensão no Parque Harmonia, na qual desconhecemos a necessária avaliação técnica do dano e as respectivas responsabilidades, em especial à biodiversidade (como demonstram imagens em anexo, há mais de 6 meses, e até hoje sem recuperação da vegetação).

É notável que, em meio à destruição de áreas verdes e conversão em estruturas de comércio nas proximidades, o Anfiteatro Pôr do Sol assume uma função ambiental de grande relevância, proporcionando um ambiente propício para acolher espécies que se refugiaram de áreas dos Trechos da Orla submetidas a forte intervenção decorrentes de retirada de vegetação e substituição por estruturas e equipamentos em áreas verdes. Diante da evidente degradação ambiental ocorrida no Parque Harmonia, instamos veementemente a implementação de medidas ambientais urgentes, incluindo ações de compensação necessárias nas áreas circundantes, sem descuidar da responsabilidade e apuração dos danos ambientais ocorridos no Parque Harmonia. Tudo indica que a maior extensão verde próxima à região impactada é justamente o Anfiteatro Pôr do Sol, onde é possível observar bandos de aves que, muito provavelmente, habitavam o Parque Harmonia”.

InGá – Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais – InGá
Acesso – Cidadania e Direitos Humanos
Amigas da Terra Brasil – ATBr
Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN
Associação Ijuiense de Proteção ao Ambiente Natural – AIPAN
Associação de Mães e Pais pela Democracia – AMPD
Atua Poa
Coletivo Preserva Parque Marinha
Coletivo Preserva Redenção
CSP Conlutas/RS
Fórum Ambiental de Porto Alegre
Frente pelo Clima/RS
Grupo Viveiros Comunitários – GVC/Extensão – Inst. Biociências/UFRGS
Igré-Associação Sócio-ambientalista
Instituto Mira Serra
Movimento Preserva Belém Novo
Movimento Salve os Parques
Movimento Laudato Si
Movimento Ser Ação
Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Teto – MTST
Pastoral da Ecologia – RS
Projeto PoAncestral
Preserva Zona Sul
Rede Preserva Poa
Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região


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