Meio Ambiente
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10 de julho de 2023
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19:25

Obras no Parque Harmonia podem colocar em risco dezenas de espécies de aves

Por
Luciano Velleda
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Vista aérea do Parque Harmonia, em foto produzida pelo InGá no começo de julho. Foto: Gabriel Poester
Vista aérea do Parque Harmonia, em foto produzida pelo InGá no começo de julho. Foto: Gabriel Poester

As obras em curso no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Parque Harmonia), que têm causado a indignação de vereadores e ambientalistas, podem estar colocando em risco dezenas de espécies de aves que vivem no local. O estudo intitulado “Estrutura trófica da Avifauna em oito parques da cidade de Porto Alegre”, publicado em 2005, listou 85 espécies de aves no Parque Harmonia. Junto com o Mascarenhas de Moraes, o parque abriga a maior quantidade de espécies de aves na Capital gaúcha.

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Na ocasião da publicação do estudo, o parque Saint’ Hilaire vinha em primeiro, com 131 espécies documentadas, mas em março deste ano, a Prefeitura de Porto Alegre cedeu 900 hectares, do total de aproximadamente 1.500 hectares, para a Prefeitura de Viamão.

Elaborado entre junho de 1998 e junho de 1999, o estudo contou com o total de 106 visitas e 644 horas de observação e captura em oito parques da cidade: Farroupilha (Redenção); Moinhos de Vento; Saint’Hilaire; Marechal Mascarenhas de Moraes; Parque Marinha do Brasil; Chico Mendes e Harmonia.

“O Parque Maurício Sirotsky Sobrinho tem uma área total de 400.000 m², localizado na orla do Lago Guaíba, possui uma variada diversidade de ambientes, como um pequeno banhado, mata nativa de restinga, mata de eucalipto, praia e campos, este último com maior predominância”, diz trecho do estudo, assinado pelos pesquisadores Adriano Scherer, Scherezino Barboza Scherer, Leandro Bugoni, Leonardo Vianna Mohr, Márcio Amorim Efe e Sandra Maria Hartz.

O estudo fez parte do projeto “Ecologia e Distribuição da Avifauna dos Parques de Porto Alegre”, vinculado a Associação Brasileira para Conservação das Aves (PROAVES), Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE) e a então Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM), e teve como objetivos caracterizar a avifauna presente nos principais parques da cidade.

Tal como descrito no estudo, o Parque Harmonia praticamente não existe mais após as obras de aterramento, nivelamento e terraplanagem feitas pela empresa Gam3 Parks, concessionária do local pelos próximos 33 anos. Além do fim da paisagem campeira que caracterizava o parque, estão previstas a remoção de 435 árvores, o que representa 31,7% das 1.361 árvores que a empresa informa que existiam quando assumiu o Harmonia. Até o momento, 102 árvores já foram removidas.

Ambientalistas dizem que descaracterização do Parque Harmonia deve afetar dezenas de espécies de aves. Foto: Luiza Castro/Sul21

“Inicialmente 435 árvores estão sendo cortadas de imediato, os campos quase todos desaparecem, deixando quero-queros, pica-paus-do-campo, sabiás, joão-de-barro, caturritas, outras dezenas de espécies, incluindo gambás, sem habitat e sem alimento”, afirma Paulo Brack, professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador-geral do Instinto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá).

Na semana passada, a preocupação com o futuro do Harmonia levou a Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara de Porto Alegre e o InGá a pedirem ao prefeito Sebastião Melo (MDB) e ao Ministério Público Estadual (MPE) a paralisação das obras.

Com relação às aves, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) alega que uma área denominada de “reservinha” não está sendo afetada pelas obras e serviria como refúgio e proteção das aves.

A explicação não é bem aceita pelo professor do Departamento de Botânica da UFRGS. Brack diz que o Harmonia tinha espécies de aves espalhadas pelo parque, não só na reservinha, incluindo aves de campo – campo que agora não existe mais. “Não há previsão de nenhum procedimento de proteção à avifauna. Uma gravíssima omissão da Smamus que licenciou a obra”, critica.

A polêmica em torno das obras no Parque Harmonia terá mais um capítulo nesta terça-feira (11), em reunião da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam), na qual se espera que a Gam3 Park apresente os laudos relacionados ao projeto em curso.

Na semana passada, a decisão do Cosmam em pedir a paralisação das obras se baseou em possíveis modificações feitas pela concessionária no projeto original, sem consultar as autoridades competentes e sem receber aprovação do novo Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU) pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (CMDUA).

Entidade ambientalista denuncia que supressão de vegetação no Harmonia já ultrapassa 2/3 da área do parque. Foto: Gabriel Poester
Vereadores denunciam mudança no projeto original aprovado para o Parque Harmonia. Foto: Luiza Castro/Sul21

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