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6 de fevereiro de 2025
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19:20

Feminicídio da indígena Daiane Griá Sales vai a júri popular na próxima semana

Por
Felipe Prestes
felipenprestes@gmail.com
Movimentos sociais se mobilizarão nos dias que antecedem o júri Foto: Silvia Zonatto
Movimentos sociais se mobilizarão nos dias que antecedem o júri Foto: Silvia Zonatto

O agricultor Dieison Corrêa Zandavalli vai a júri popular na próxima quinta-feira (13), na comarca de Coronel Bicaco, no norte do Rio Grande do Sul, acusado pelo feminicídio da indígena kaingang Daiane Griá Sales. A jovem, então com 14 anos, foi encontrada morta no dia 4 de agosto de 2021, próximo à Terra Indígena Guarita, no município de Redentora, também localizado no interior gaúcho. 

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Daiane havia sido vista com vida pela última vez na madrugada de 1º de agosto de 2021, numa festa ao ar livre, na Vila São João, no interior de Redentora. Seu corpo foi encontrado três dias depois,  em uma lavoura na localidade de Linha Ferraz. O caso foi tratado inicialmente como homicídio, apesar do corpo da adolescente ter marcas de estrangulamento e dilaceramento da cintura para baixo.

Desde o crime, um movimento de solidariedade se organizou, com a criação do Comitê Por Todas Daianes e do grupo de trabalho Guarita pela Vida. Para a coordenadora do Guarita pela Vida, Regina Goj-Tej Emilio, trata-se de um caso simbólico. “Pela primeira vez conseguimos tirar um feminicídio indígena da invisibilidade e transformar também o luto em luta”. 

Em 1º de outubro de 2021, após investigação da Polícia Civil, o Ministério Público denunciou Dieison Corrêa Zandavalli, um homem branco, agricultor, de 36 anos, por estupro de vulnerável e homicídio com seis qualificadoras (meio cruel, motivo torpe, dissimulação, recurso que dificultou a defesa da vítima, para assegurar a ocultação de outro crime e feminicídio).

Segundo a denúncia do Ministério Público, as ações do acusado decorreram de motivo torpe pelo “desprezo do denunciado para com a população originária kaingang e seus integrantes, nutrido pela falsa ideia de que tal comunidade e as autoridades constituídas reagiriam com passividade ao estupro em razão de sua condição de indígena”.

Na próxima segunda (10), às 19h, ocorrerá uma audiência online organizada pelo Comitê Por Todas Daianes, com a participação de parlamentares indígenas e não indígenas. Confirmaram presença as deputadas federais Juliana Cardoso (SP), Célia Xakriabá (MG) e Maria do Rosário (RS); os deputados federais Paulo Guedes (MG) e Dionilso Marcon (RS);  e a deputada estadual Stela Farias, além da presidenta da Funai, Joênia Wapichana, e do advogado Bira Teixeira.

O comitê é composto pelas mulheres do GT Guarita pela Vida, pela campanha nacional Levante Feminista Contra o Feminicídio e pela Articulação Nacional de Mulheres Indígenas da Ancestralidade (Anmiga), Força Tarefa de Combate aos Feminicídios do RS, entre outras entidades.

Na quarta-feira (12), haverá ações presenciais em Tenente Portela e Coronel Bicaco. Os movimentos sociais também estarão mobilizados no dia do julgamento.  


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