![Foto: Filipe Castilhos/Sul21](https://sul21.com.br/wp-content/uploads/2023/07/carris-450x300.jpeg)
Dois casos de incêndios em ônibus da Carris foram registrados em Porto Alegre nesta semana. Na segunda-feira (8), um coletivo da linha T2 pegou fogo. A causa do incêndio não pôde ser determinada, segundo a empresa, devido aos danos provocados pelo calor. O veículo incendiou quando circulava no bairro Passo d’Areia. O motorista e os 18 passageiros saíram ilesos. Na terça (9), outra ocorrência foi registrada, e ainda está em análise pela área especializada da companhia. Os casos se somam a outro, de abril.
De acordo com a Carris, a ocorrência de terça-feira e a de abril, ocasionada pelo ressecamento de uma mangueira, foram consideradas princípios de incêndio.
O ônibus que incendiou na segunda foi fabricado em 2010 e está em seu 14º ano de operação. A vida útil dos ônibus em Porto Alegre foi estendida para 15 anos no caso dos veículos comuns e 16 anos para os articulados. A medida da Prefeitura foi implementada por um decreto publicado em dezembro do ano passado, sobrepondo-se à lei de 2018 que estabelecia a vida útil dos veículos a diesel em 13 anos.
Essa lei de 2018 revogou a normativa original, de 1980, com a qual estava de acordo o edital de 2015 que selecionou a concessionária do transporte público na Capital. O edital estabelecia que a frota dos ônibus não poderia ser composta por veículos com mais de dez anos. Além disso, a idade média da frota deveria ser de cinco anos ou menos.
“É difícil falar sobre casos específicos, depende do laudo – várias coisas podem causar o incêndio no motor. Mas, em geral, tem sido mais frequente ao mesmo tempo que aumenta a idade da frota”, afirma o economista André Augustin, pesquisador do Observatório das Metrópoles. “São coisas relacionadas: ônibus velhos têm mais chances de dar problema, a depender da manutenção. E a idade da frota influencia muito no custo das empresas. Ter ônibus novos a cada dez anos é um custo a mais que influencia na tarifa – só não sabemos como. A Prefeitura não divulga mais os cálculos tarifários”, explica Augustin.
A Carris já foi a empresa de Porto Alegre com a mais baixa idade média da frota de ônibus, segundo o economista. “Por isso o custo da Carris era maior. As empresas privadas não seguiam [a idade média da frota] e a Prefeitura, ao invés de cobrar, flexibilizou a lei. É uma lógica que privilegia o lucro da iniciativa privada”, afirma.
Em outubro do ano passado, a Carris foi vendida para a empresa Viamão por R$ 109,9 milhões.
A empresa afirma que, devido à idade média dos ônibus e tempo de uso, a nova administração vem trabalhando para acelerar a renovação da frota e revisando procedimentos e padrões adotados anteriormente. “Foram adquiridos 70 novos veículos, sendo que 15 já estão em circulação e outros 41 devem iniciar a operação nos próximos dias”, diz a Carris em nota, ao destacar que são realizadas vistorias periódicas pelo órgão gestor, estando todas em dia inclusive quando ocorreram os incêndios.
Ao Sul21, o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Adão de Castro Júnior, explicou que o decreto estendendo o tempo de operação dos ônibus para 16 anos visa especificamente permitir que 17 ônibus da Carris, de 2008 e 2009, sigam operando. “O número é pequeno, mas foi necessário para não comprometer a tabela horária”, disse.
Desde fevereiro, tramita na Câmara Municipal de Porto Alegre um projeto de lei do Executivo que busca abolir o limite máximo de idade dos veículos da frota de ônibus da Capital e substitui-lo por critérios de vida útil a serem definidos por um decreto futuro.