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18 de junho de 2023
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13:36

60 horas sem luz: internautas relatam demora e descaso da CEEE Equatorial

Por
Luís Gomes
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Moradores da Rua Landel de Moura, no bairro Camaquã, bloqueiam trecho em protesto contra a falta de luz | Foto: Arquivo Pessoal
Moradores da Rua Landel de Moura, no bairro Camaquã, bloqueiam trecho em protesto contra a falta de luz | Foto: Arquivo Pessoal

Morador do bairro Camaquã, na zona sul de Porto Alegre, Matheus Filipe Braga relata que a luz de sua residência, na Rua Landel de Moura, caiu por volta das 2h de sexta-feira (16), durante as fortes chuvas provocadas pela passagem do ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul. Apesar de visitas de técnicos terceirizados da CEEE Equatorial e de protestos dos moradores, o fornecimento de energia ainda não tinha sido reestabelecido no início da tarde deste domingo.

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Matheus explica que a provável causa para a falta de energia foi a queda de um fio no cruzamento da Landel de Moura com a Rua Álvaro Guterres. O local não registrou queda de árvores, apenas de galhos.

Ele relata que dois técnicos da empresa Setup, que presta serviços terceirizados à CEEE Equatorial na Região Metropolitana, estiveram no local na manhã deste domingo (18), mas não resolveram o problema.

“Já é a terceira equipe que vem ao local e diz que precisa do caminhão com cesto para corrigir o problema. Porém, informaram que não é a empresa deles que dispõe desse caminhão”, relatou Matheus à reportagem. Contudo, nenhum caminhão do tipo compareceu à região e os técnicos terceirizados deixaram o local.

Indignados com a demora para o reestabelecimento da energia, que já se aproxima de 60 horas sem resolução, moradores trancaram um trecho da rua em protesto e para chamar a atenção das autoridades.

Técnicos de empresa terceirizada estiveram na Landel de Moura na manhã de domingo, mas problema não foi resolvido | Foto: Arquivo Pessoal

Moradora da região dos bairros Santa Isabel/Três Figueiras, em Viamão, Glainá Boucinha vem desde sexta-feira relatando em sua conta no Twitter a situação semelhante pela qual sua família e seus 10 animais passam. Para piorar, também estão sem água desde então.

“Triste demais o que está rolando no Estado. Aqui em casa, estamos bem, só estamos presos e sem luz”, escreveu às 11h de sexta. Em nova postagem, às 18h, afirmou não conseguia mais acessar o serviço de reclamações da CEEE Equatorial e que não havia nenhuma previsão de retorno.

Às 9h15 de sábado, permanecia sem retorno. “Mais um dia sem luz, CEEE Equatorial. Todas as comidas perecíveis se foram, carnes do mês, feijão, congelados. Tomamos banho de balde no frio de 7 graus”, escreveu.

Na sequência, relatou que, durante a madrugada, recebeu uma mensagem de que a energia havia restabelecida na região, o que não ocorrera. Para piorar, recebeu mensagens de cobrança de uma fatura em aberto, que ainda não chegou à data de vencimento. “Mandam mensagens automáticas dizendo que estamos com faturas abertas, algo bem cruel. Nem estamos devendo”, disse Glainá, em conversa com o Sul21.

Mais tarde, às 16h, relatou que prestadores de serviço da CEEE Equatorial visitaram sua rua, mas que deixaram o local sem informar prazo para retorno. “Não sabiam onde eram os transformadores, disseram que iriam procurar e que não tivéssemos esperança de voltar hoje”, escreveu. “Foi humilhante ter que chorar na frente dos agentes da CEEE Equatorial, e eles, coitados, sem preparo nenhum. Não tinham ideia de quantas casas ainda faltavam, eu fiquei incrédula e desesperada. Eu nunca tinha visto tamanho descuido”, complementou.

Em nova postagem por volta de 10h da manhã deste domingo, Glainá relatou que o problema permanecia e que não recebera mais nenhum retorno da empresa. “Ainda na mesma, sem luz e sem água. Quarto dia desde o ciclone. Fomos esquecidos”.

Em nova postagem realizada após a publicação da matéria, Glainá informou que o fornecimento de energia foi reestabelecido pouco antes das 14h deste domingo.

Na manhã deste domingo, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, cobrou publicamente agilidade da CEEE Equatorial no reestabelecimento da energia. “Seguimos trabalhando com empenho para resolver os problemas causados pelo ciclone, mas a prefeitura sozinha não consegue resolver tudo. Ainda temos 12 mil clientes da CEEE Equatorial sem luz, conforme a empresa. Estou em contato permanente com a direção pedindo solução”, disse.

No último balanço divulgado oficialmente pela CEEE Equatorial, às 15h45 deste domingo, a empresa relatou que 29 clientes permaneciam sem fornecimento de energia, dos quais 23 mil da Região Metropolitana e 5 mil no Litoral Norte. “Os municípios mais impactados são Porto Alegre, Alvorada, Caraá, Palmares do Sul e Santo Antônio da Patrulha”, diz nota da empresa.

Segundo disse a Equatorial, em nota, os prazos para a solução das ocorrências dependem da complexidade de cada caso. “Para restabelecer o fornecimento, são necessários, em algumas ocasiões, os seguintes serviços: deslocamento e acesso de equipes às localidades com fornecimento interrompido, em alguns casos, dificultados pelas próprias ocorrências, alagamentos e dificuldade de trânsito; atividades em parceria com outros órgãos públicos (Defesa Civil, órgãos municipais, Corpo de Bombeiros, etc.), já que alguns serviços prestados são interligados e envolvem várias atividades; isolamento da área afetada, retirada de objetos e reconstituição de postes quebrados e de toda a rede elétrica”, diz a nota.

Na ocasião, a empresa informou que 393 mil clientes que tiveram perda de energia após a passagem do ciclone já tinham tido a situação normalizada, o que representaria 93% dos atingidos.

Após comprar o braço de distribuição da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica, a CEEE-D, por R$ 100 mil no processo de privatização realizado pelo governador Eduardo Leite, a Equatorial assumiu o controle do fornecimento de energia para 72 municípios da Grande Porto Alegre e das regiões Sul, Campanha e Litoral em julho de 2021. A empresa atende cerca de 2 milhões de clientes no Rio Grande do Sul.


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