Geral
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20 de abril de 2022
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19:43

Idoso é resgatado em condição de escravidão em Quaraí

Por
Luciano Velleda
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Trabalhador relatou que vivia em um galpão usado como depósito de materiais e  de agrotóxicos. Foto: Divulgação/MPT
Trabalhador relatou que vivia em um galpão usado como depósito de materiais e de agrotóxicos. Foto: Divulgação/MPT

Um idoso mantido em condições de trabalho análogas à escravidão foi resgatado no município de Quaraí, na região da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, na tarde desta quarta-feira (20). O resgate foi realizado por uma força-tarefa composta pela Polícia Civil de Quaraí, a Superintendência Regional do Trabalho no RS e o Ministério Público do Trabalho (MPT).

De acordo com depoimentos colhidos pela polícia e pelo Ministério Público do Trabalho, o resgatado, um homem negro de 64 anos, vinha trabalhando há três anos e meio em uma granja em Quaraí. A própria vítima contou ter trabalhado todo esse tempo na propriedade sem receber salário. Ainda disse ter sido constantemente submetido a humilhações, alvo de ofensas racistas e que recebia alimentação insuficiente, chegando a buscar frutas colhidas no chão da fazenda para matar a fome. O proprietário da granja também teria, de acordo com o resgatado, retido os documentos pessoais do homem.

O trabalhador alega que muitas vezes dormia ao relento – e que seu alojamento na granja era um galpão precário construído com tábuas e folhas de zinco e piso de terra batida. O espaço era mantido como depósito de materiais, de rações para animais e de venenos para a lavoura, além de ser constantemente infestado por ratos e pulgas. A força tarefa localizou o galpão em que teria ficado hospedado o resgatado e comprovou as condições degradantes de acomodação, inclusive a presença de galinhas e agrotóxicos no alojamento, o que é incompatível com a dignidade humana.

O homem trabalhava na granja em diversas atividades, como ordenha de vacas, corte de lenha, trato de gado e manutenção de parreiras. Foi internado no início do mês de abril ao sofrer de fortes dores na coluna e outros problemas de saúde. Foi a partir de então que se tornaram de conhecimento público as denúncias de sua condição, em razão do trabalho da psicóloga Alessandra Caroline Ortiz Zimmerman, que acompanhou o internado. A Polícia Civil de Quaraí ouviu o proprietário da granja, que confirmou apenas em parte as condições de hospedagem e trabalho.

Resgatado da condição análogas à de escravo, o idoso será encaminhado à assistência social da cidade de Quaraí para que se providencie condições dignas de hospedagem após a alta hospitalar e receberá o seguro-desemprego em razão do ocorrido. Serão cobradas, ainda, as verbas rescisórias e indenizações para a vítima de trabalho escravo. Segundo o MPT, o acusado, se condenado, poderá ser preso, além de ter que custear as multas e demais despesas do processo.


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