Colunas>Sérgio Araújo
|
20 de fevereiro de 2020
|
15:09

Um presidente insolente que ofende e envergonha o país

Por
Sul 21
[email protected]
Um presidente insolente que ofende e envergonha o país
Um presidente insolente que ofende e envergonha o país
Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)

Sergio Araujo (*)

Vox Populi, vox Dei (Voz do povo, voz de Deus)

Estamos diante de um presidente mal educado que se acha onipotente. Pior, que adota como sistema de governo a “familiocracia” e que instalou uma gestão baseada no servilismo e no puxa-saquismo. E pior ainda, que é adulado por uma militância retrógrada, provocativa, radical e violenta. Com tudo isso, os Bolsonaros se julgam e se comportam como os donos de uma verdade seletiva e egoística. Onde o eu predomina sobre o nós. Onde os fins justificam os meios. Com o gene dominante do autoritarismo, Jair Bolsonaro atua como se fosse dono do país e não um representante transitório de uma maioria circunstancial que nas urnas lhe transformou em inquilino do palácio do Planalto.

Ao atuar de forma personalista, como se fosse um déspota, o ex-capitão macula a instituição Presidência da República, ofende os brasileiros e envergonha o país. Ao usar militares graduados e magistrados como subalternos servis as suas causas e interesses pessoais, desrespeita as Forças Armadas e o Poder Judiciário. Ao destratar parlamentares e tolerar a sugestão da reedição do AI-5 ele humilha o Poder Legislativo e coloca sob ameaça o regime democrático. Ao ofender e intimidar jornalistas e veículos de comunicação ele afronta a liberdade de imprensa. Ao tratar o STF como um anexo do gabinete presidencial, ele se põe acima da lei.

Ao desdenhar com gestos e declaração estapafúrdias, seja pessoalmente ou através das redes sociais, as graves denúncias contra si e contra seus filhos, chuta para o alto a sensatez e o decoro presidencial. Ao estimular a obediência desenfreada da sua militância radical, sem impor-lhes limites morais e éticos, ‘dá uma banana’ para a ordem constitucional.

Nesse jogo do “siga o rei”, onde predominam os representantes das classes mais abastadas, vence aquele que praticar mais maldades. São os adeptos da máxima de que o maior lambedor de botas do patrão é sempre o mais agressivo com a faxineira. Daí o descaso para com as pautas sociais, especialmente aquelas que dizem respeito aos direitos humanos e ao atendimento das classes economicamente desfavorecidas.

Mas como tudo que é demais acaba saturando, os exageros, a verborragia e os desmandos do presidente, seus filhos e capangas mais próximos, começam a tomar feições de agulha e ameaçam estourar a bolha dos simpatizantes que sustentam as bizarrices bolsonarianas. E isso é o mesmo que falar de corda em casa de enforcado. Tal qual um afogado em desespero, Bolsonaro se agarra ao prestígio dos ainda ministros Sérgio Moro e Paulo Guedes e de um punhado de militares de alta patente que servem de elo entre a presidência e as Forças Armadas.

Egocêntrico por natureza, o presidente não percebe que sua frágil base de sustentação já dá sinais de fadiga, como se pode depreender das notícias de que nos bastidores o ministro da Economia já fala em abandonar o barco.

Também a maioria circunstancial da sua base de apoio no Congresso Nacional, sempre dependente da oscilação popular, a cada dia que passa se mostra menos acessível aos anseios individualizados do presidente.

E assim, nessa trajetória claudicante, cheia de erros e excessos, Bolsonaro vai confirmando seu despreparo para o cargo que ocupa. Mesmo com a bajulação da mídia governista e o apoio dos grandes empresários e banqueiros. Ao agir como se estivesse em sua própria casa e mantendo-se fiel aos desatinos praticados enquanto parlamentar, o presidente de plantão consolida a máxima do Barão de Itararé que diz que “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”.

Obcecado pelo poder, embevecido pela idolatria dos radicais de direita e atormentado pela paranoia da traição, Jair Bolsonaro isola-se e distancia-se cada vez mais da realidade implacável que ele teima em negar, mas que no seu íntimo sabe que irá prevalecer. Age como se fosse Júlio Cesar, criador do Império Romano, mas sabe que entrará para a história como um Nero incendiário e fadado a cometer um suicídio político.

Se é a verdade liberta, como apregoa Bolsonaro, ela serve também para mostrar, como bem disse Abraham Lincoln, que “pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”. Acrescento a esse porvir o dístico latino “Libertas quae sera tamen” (Liberdade ainda que tardia), que me parece mais oportuno para o presságio do novo tempo que se avizinha.

(*) Jornalista

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora