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14 de outubro de 2017
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11:43

‘Quem não gosta de conversar compra em shopping’: Feira da José Bonifácio completa 28 anos

Ato contra o projeto ocorreu nesta sábado (28) na Feira dos Agricultores Ecologistas, na Redenção. Foto: Guilherme Santos/Sul21.
Ato contra o projeto ocorreu nesta sábado (28) na Feira dos Agricultores Ecologistas, na Redenção. Foto: Guilherme Santos/Sul21.

Giovana Fleck

“Quando comecei, me chamaram de tudo quanto era coisa: louco, fora de época, idiota”, afirma Eliseu Rosa da Silva – ou Tio Juca. Há mais de 20 anos, se tornou um dos primeiros produtores de Porto Alegre a adotar a agroecologia. “Só me arrependo de não ter começado antes”, afirma.

Juca, em sua plantação na Zona Sul de Porto Alegre. Foto: Divulgação/ Sítio do Tio Juca

Juca é agricultor desde criança. Ele lembra do pai e dos tios nas hortas de sua infância; com sementes e enxadas, no sol e na chuva. Sem produtos químicos. A partir do final dos anos 60, um movimento foi iniciado popularizando agrotóxicos e adubos industrializados. “Quem não usava, não colhia nada. Só depois foi crescendo a consciência de que eu estava contaminando o ambiente, a mim, a família e o consumidor também”.

Aos poucos, Juca foi reunindo outros produtores que, juntos, reaprenderam a cultivar de forma orgânica. Formaram a Associação de Produtores Ecológicos do Lami, na Zona Sul de Porto Alegre. Assim, ganharam espaço dentro do movimento ecológico e começaram a vender seus produtos nas feiras semanais. “É o que complementa meu trabalho”, conta Juca. “Eu tenho a semana inteira para trabalhar na minha horta em silêncio, sem ninguém. No fim de semana, conversar e ouvir as pessoas é minha terapia; tiro folga na feira”.

As feiras ecológicas foram iniciadas em Porto Alegre por iniciativa do movimento ecológico gaúcho. Em 1990, após o sucesso de eventos como a FAE (Feira dos Agricultores Ecologistas), reconhecida internacionalmente, surgiram – na Av. José Bonifácio –  a Feira Cultural Ecológica e a Feira Cultural da Biodiversidade. Hoje, elas envolvem mais de 600 famílias de agricultores e são frequentadas por mais de 25 mil consumidores que “praticam e viabilizam a sustentabilidade social, econômica e ambiental semanalmente na capital”, segundo dados da Associação Agroecológica.

Para a Associação, a Feira da Redenção mostra que é possível produzir todos os tipos de alimentos em quantidade e qualidade; sem a adição de agrotóxicos e adubos químicos solúveis sintéticos a preços acessíveis para todas as classes sociais. Há 15 anos, Juca ocupa a banca 6, perto do Colégio Militar. “O que eu mais gosto é de ver gente na feira. Quem não gosta de conversar, compra em shopping – onde tá cheio de robozinho e não tem que falar com ninguém”.

Hoje, ele tem 74 anos. Ao ser perguntado de onde vem sua persistência para ir todos os dias até a lavoura, ele eleva o tom e responde: “Por que não é mais só a minha saúde, é da minha família e de toda uma cidade que não sabe mais de onde vem seu alimento”.

Ele reconhece a importância de preservar e desenvolver tanto a agricultura familiar local quanto o contato com o consumidor. “Me criei ouvindo que passado não tem futuro, hoje eu vejo que não é bem assim”.

Para celebrar o aniversário da Feira da José Bonifácio, uma série de atividades foram programadas para ampliar os espaços de conscientização ambiental. As comemorações são abertas à comunidade e oferecidas de forma gratuita durante todos os sábados do mês de outubro, entre 7h e 13h, na primeira quadra da Av. José Bonifácio.

Foto: Guilherme Santos/Sul21

14 de outubro:

O que: Festa de Aniver, com Bolo e Rádio Feira

Hora: 9h

Local: FAE – Feira de Agricultores Ecologistas – Banca do Meio

Av. José Bonifácio (1ª quadra – ao lado do Caldo de Cana)

Resumo: Olhar para o processo e celebrar. São 28 anos de histórias e muito trabalho, cuidando e valorizando a relação entre ser humano e natureza. Dos frutos colhidos da Terra, muitas vidas nasceram e cessaram. As sementes foram, ano após ano, semeadas e os frutos seguem brotando. Assim celebramos este momento! Com nosso parabéns a todos e a todas que fazem parte deste movimento da vida que concebe semanalmente um espaço de trocas de produtos, olhares e amores.

21 de outubro:

O que: Oficina: Consciência alimentar e saúde na infância com a Nutri e Chef Lu Scavone

Hora: a partir das 9h

Local: FAE – Feira de Agricultores Ecologistas – Banca do Meio

Av. José Bonifácio (1ª quadra – ao lado do Caldo de Cana)

Resumo: Este evento é uma oficina gratuita com degustação, receita e muitas informações sobre a alimentação na infância, oferecidas na Banca do Meio, durante a feira. Este espaço de conscientização alimentar é oferecido com o intuito de ampliar o conhecimento e o cardápio dos parceiros urbanos que frequentam a feira ecológica, agregando saberes e trocas, com nossa parceira Nutricionista.

28 de outubro:

O que: Guardiões de sementes da FAE e Show Musical com Gaita e Violão

Hora: a partir das 9h

Local: FAE – Feira de Agricultores Ecologistas – Banca do Meio

Av. José Bonifácio (1ª quadra – ao lado do Caldo de Cana)

Resumo: As sementes guardam as histórias do passado e do futuro e aqueles que reconhecem o sagrado nestes pequenos grãos de vida, cuidam com apreço e diligência destas preciosidades. Convidamos os Guardiões de Sementes da FAE para expor aos parceiros urbanos as variedades dos grãos de nossa terra e juntamente neste dia ofereceremos o encontro dos Gaiteiros Remi e João produzindo sons de nossa cultura acompanhados de violão e flauta. Este encontro promete um belo dia de feira!

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

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