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18 de abril de 2012
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00:06

Diversão deve ser levada a sério na educação, defende filósofo no Fórum da Liberdade

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Sul 21
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Diversão deve ser levada a sério na educação, defende filósofo no Fórum da Liberdade
Diversão deve ser levada a sério na educação, defende filósofo no Fórum da Liberdade
Stephen Hicks: é preciso estimular a curiosidade infantil desde a pré-escola | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Felipe Prestes

Diversão levada a sério é um dos principais aspectos levantados pelo filósofo canadense Stephen Hicks para uma sociedade formar cidadãos inovadores e empreendedores. Professor de Filosofia e diretor executivo do Centro de Ética e Empreendedorismo da Rockford College, nos Estados Unidos, Hicks foi um dos palestrantes no painel “Educação: Obedecer, pensar ou criar?”, parte das atividades do 25º Fórum da Liberdade.

O filósofo relatou que um grupo de japoneses foi buscar na escola norte-americana os motivos que faziam com que os EUA formassem empreendedores criativos, ao passo em que os orientais são melhores em imitar e aperfeiçoar o que é criado em outras partes do mundo. Para Hicks, eles buscavam no lugar errado. Ele afirmou que as crianças estadunidenses não têm empolgação na escola, mas nas atividades extra-classe e nas brincadeiras.

Segundo o filósofo, os americanos têm muitas visitas a museus e outros locais, há muito esporte nas escolas, e, fora delas, os pais estimulam atividades como a música. A própria televisão também incita a criatividade, pontuou Hicks, mesmo admitindo não gostar de televisão.

O palestrante listou alguns pontos que são fundamentais para um empreendedor inovador, como a liberdade e a diversão. “Eles querem fazer as coisas do seu jeito e coisas que gostam. Gente como Bill Gates e Steve Jobs, por exemplo, gostavam muito de computador na juventude”, disse. Assim, Hicks defende que desde a pré-escola as crianças não sejam tolhidas em sua curiosidade natural. “É preciso exploração em vez de passividade”.

Ele também afirmou que, mesmo que pais e professores acreditem saber o melhor para as crianças, é preciso permitir que elas faças escolhas desde cedo. Outro termo usado pelo filósofo foi “diversão séria”. “As crianças levam muito a sério e aprendem muitas coisas quando estão brincando”.

Hicks contou a história de Maria Montessori, uma italiana nascida no século XIX que foi uma das primeiras mulheres médicas na Itália e que, por exclusão de seus colegas homens, só conseguiu emprego com portadores de deficiência mental, que à época ficavam jogados em salas escuras de hospitais. Montessori começou a estimulá-los com brincadeiras e depois iniciou formas de aprendizado com estas brincadeiras. Após três anos de trabalho, os portadores de deficiência obtinham melhor desempenho escolar que outras crianças italianas.

O filósofo relatou que escolas particulares que utilizam o método Montessori de aprendizagem têm crescido muito nos Estados Unidos, depois de muita resistência dos mais conservadores, conservadorismo que ainda se mantém firme e forte no ensino público. Ele exortou a plateia a conhecer o método e a adaptar às diferenças brasileiras. Hicks relatou que pessoas como Jimmy Wales, fundador da Wikipédia, bem como o criador da Amazon e os dois criadores do Google tiveram ensino com o método Montessori.

“Vestibular é um dos responsáveis por crise no ensino médio”, diz secretaria carioca

“O vestibular é um dos maiores responsáveis pela crise do ensino médio”, afirmou a secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin. Durante sua palestra no painel “Educação: Obedecer, pensar ou criar?”, do 25º Fórum da Liberdade, ela apresentou números que mostram o baixo índice de aprendizado no ensino médio no Brasil – e não apenas no ensino público.

Claudia Costin: “Caiu o mito de que só a escola pública é ruim no Brasil. Ambas são ruins, por motivos diferentes” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Costin acredita que um aperfeiçoamento do Enem poderia ser um caminho para substituir os vestibulares. “Com o vestibular se tentou dar um conhecimento enciclopédico aos alunos. Na Europa, por exemplo, há exames que cobram a capacidade de relacionar conteúdos e de interpretar textos. Quem não souber fazer isto, não terá chances no mercado de trabalho, mesmo que passe no vestibular”, afirmou.

Mesmo contra o vestibular, a secretária disse que foi um avanço no Brasil quebrar recentemente com a cultura de que não se devia avaliar o ensino. “A saúde pública ninguém vê problema em avaliar. Com a educação há uma visão mais poética: ‘como avaliar área tão nobre?’. Mas a saúde é tão nobre quanto a educação”. Esta quebra se deu, segundo Costin, com o Enem, para o ensino médio, e o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico (Saeb).

Além disto, Costin ressaltou que o Brasil participa de uma avaliação feita pela OCDE em 65 países. A última avaliação, em 2009, revelou que o país avançou, mas timidamente, ficando, mesmo com o avanço, na 53ª posição. E a elite brasileira foi a pior entre as elites que participaram da avaliação. “Caiu o mito de que só a escola pública é ruim no Brasil. Ambas são ruins, por motivos diferentes”, disse a secretária. Ela exemplificou no mercado de trabalho os efeitos do baixo nível de aprendizagem em disciplinas como matemática no ensino médio. “O Rio de Janeiro, que tem a economia altamente aquecida, precisa importar engenheiros”.

A gestora pública afirmou que um dos grandes desafios do país é o grande contingente de analfabetos funcionais, que acabam sendo aprovados e depois chegam a séries mais avançadas sem entender nada do conteúdo. Ela relatou que criou no Rio de Janeiro um programa de realfabetização, que já alfabetizou mais de 25 mil alunos. Em 2012, cerca de sete mil crianças estão participando. Ela relatou que o Rio de Janeiro também tem investido em um sistema de reforço escolar, mapeando todas as dificuldades, aluno por aluno, após os bimestres, e realizando o reforço.

Os esforços também estão concentrados para alfabetizar logo no primeiro ano, para que o município não fique “enxugando gelo”. Para tanto, Costin afirmou que é preciso quebrar com a mentalidade de que crianças cujos pais não têm alto grau de escolaridade não devem ser exigidas com pouca idade, que precisam de mais tempo para se alfabetizar. Ela também disse que outro “mito” derrubado em sua gestão foi de que não se pode dar tema de casa para crianças muito pobres. “Não é porque é pobre que temos que tratar como coitadinho”, disse.

Costin criticou a progressão continuada, que ela acabou na capital fluminense. Segundo ela, trata-se de uma forma de mascarar o número de reprovações para ser bem ranqueado no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb). Segundo ela, com estas medidas escolas em comunidades pobres do Rio de Janeiro têm se saído melhor nas avaliações que escolas localizadas em bairros de classe média. Outra medida defendida pela gestora foi as metas por escola e bonificações.

Efraim Filho criticou o fato de o país ter a 6ª economia do mundo e continuar sendo um país mais violento que países que vivem situação de guerra | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Deputado do DEM palestrou sobre segurança pública

Após o painel sobre educação, o presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, Efraim Filho (DEM-PB) foi um dos palestrantes do painel “Drogas, Violência e Liberdade”. Efraim criticou o fato de o país ter a 6ª economia do mundo e continuar sendo um país mais violento que países que vivem situação de guerra.

O parlamentar apresentou uma série de dados que relacionam o uso de drogas e o tráfico a crimes e rechaçou a hipótese de legalização das drogas. “O Brasil não está preparado para a legalização. Vai jogar para as famílias e para sociedade sua responsabilidade”, disse. Efraim defendeu a continuidade do modelo atual, em que se descriminaliza o uso, mas disse que é preciso “jogar pesado com o tráfico”. O parlamentar criticou o contingenciamento de recursos para segurança nas fronteiras do país e defendeu também medidas como a redução da maioridade penal.


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