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17 de junho de 2011
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16:01

Duronas, belas, tratores: mulheres ganham força

Por
Sul 21
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Presidente Dilma Rousseff empossa a nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann
Com Gleisi Hoffmann, ministério de Dilma chegou a 10 mulheres | Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Rachel Duarte
Direto de Brasília

No universo masculino da política institucional, a presidente Dilma Rousseff completou um time inteiro de futebol no primeiro escalão do governo federal – ela e mais dez ministras – ao nomear Gleisi Hoffmann para a Casa Civil e Ideli Salvatti para as Relações Institucionais. Os homens tratam de se acostumar com a presença delas, mas adjetivam: são duronas, belas, tratores. Em Brasília, o Sul21 acompanhou a primeira semana das mulheres no poder.

Os beijos fazem parte dos cumprimentos em eventos oficiais, que passaram a ter palanques ainda mais equilibrados. Ao lado de Dilma sempre estão os presidentes do legislativo federal, Marco Maia (Câmara) e José Sarney (Senado), e agora, Gleisi, Ideli ou Miriam Belchior (Planejamento e Gestão). Nos minutos depois dos discursos em solenidades no Palácio do Planalto é um beijo nelas, ou mesmo dois, e um aperto de mão neles. Não raro as ministras também encerram suas falas mandando beijos. “Um beijo a todos”, finalizou Ideli em seu discurso de posse na última segunda.

Os homens da política nacional não estão dispensando referências às mulheres do governo quando usam os microfones. Nos bastidores, normalmente algum deixa escapar alguma brincadeira. O presidente do Senado, José Sarney, disse na última semana que “o negócio é os homens começarem a usar saia” para voltar a ocupar espaços importantes. Outro peemedebista brincalhão foi o senador gaúcho Pedro Simon, que disse aos senadores do PMDB que se juntassem para formar uma comissão de minorias e reivindicar mais espaços na política.

O deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) disse essa semana em sessão na Câmara Federal que “os homens não estão com a bola toda”. Se estivessem, complementou, estariam à frente dos espaços de sustentação do governo, onde estão Ideli e Gleisi.

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"Ideli sempre me diz: ‘eu sei o que devo fazer’”, conta uma assessora | Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Não deixa de ser verdade o que fala do deputado tucano. Na avaliação do líder do PT na Câmara Federal, Paulo Teixeira, há uma mudança de paradigmas na política brasileira, iniciada ainda durante o governo Lula. “Ele (Lula) escolheu a Dilma (Rousseff) para assumir a Casa Civil e depois a bancou como candidata a presidente. Hoje uma mulher ocupa o principal posto do país, a Presidência da República”, ilustra, em conversa com o Sul21. Na avaliação do deputado, as nomeações de Dilma fortalecem esta mudança. “E um processo de mudança sempre encontra resistências. É normal. Terá os que apoiam e os que rejeitarão esta participação feminina”, ponderou.

Firmeza não é atributo masculino

Dentro desta faixa de pessoas que ainda não estão acostumadas com um governo tão feminino, estão aqueles que imprimem nas ministras de Dilma um estereótipo. Esta semana os principais jornais buscaram senadores, ex-governadores e ex-colegas das novas ministras (Ideli e Gleisi) para justificar que as mulheres indicadas por Dilma são “duronas” ou “tratores”. O mesmo já havia ocorrido quando da posse da primeira mulher presidente do Brasil.

Alguns assessores mais próximos, que dividem o cotidiano bem próximo de Ideli Salvatti, disseram ao Sul21 que ela é exigente e que dispensa bajulações. “Eu não preciso dizer onde ela tem que estar ou como tem que se portar. Ela sempre me diz: ‘eu sei o que devo fazer’”, conta uma assessora.

Professora e ex-colega de Ideli no magistério catarinense, Miriam Lúcia Hoffmann conhece a atual ministra desde a década de 70, quando militavam no movimento sindical.  “Ela sempre respondeu às exigências da nossa categoria quando ela foi líder sindical. Ela é muito competente. Posso dizer que ela é firme nas suas decisões, mas, não dura”, afirma.

Em sala de aula, conta a amiga, Ideli sempre dialogou com os alunos e soube expressar suas ideias no grupo de professores. “Ela é uma pessoa muito competente, tem convicção nas suas decisões, é diferente de ser durona. É um equivoco dizer que mulher só tem desenvoltura na política tem porque é rude”, critica. “Isso é a sociedade machista que ainda vivemos. A política revela que todo bom macho é que pode ocupar espaços de poder. Não, as mulheres do governo Dilma, e mesmo ela, só estão onde estão por habilidade política, não são quadros técnicos”, defende.

Gleisi, a "bela": estereótipo machista, diz o deputado Paulo Teixeira | Moreira Mariz/Ag.Senado

Para o líder do governo na Câmara Federal, o deputado Cândido Vacarezza, a presença das mulheres no governo “não muda em nada” a relação entre o executivo e o legislativo. Segundo ele, “tecnicamente é a mesma coisa. Tem mulheres mais duronas na política, assim como tem homens mais durões”. Na avaliação do líder governista, a participação de mulheres no governo estimula a participação de mais mulheres nos partidos e o interesse delas pela política.

Opinião positiva também tem o deputado Paulo Teixeira. “A linguagem feminina é muito mais direta. Além de que, para a sociedade brasileira, o símbolo é de um governo pedagógico. As pessoas entendem melhor as coisas”, disse. Segundo ele, a indicação de Ideli e Gleisi não foi meramente um cumprimento de cotas, mas a escolha por uma relação de confiança política entre elas e a Dilma. “Além da competência que elas tem”, falou.

A bela e as feras

No caso da nova ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a aparência física lhe rendeu o título de “bela”, que terá que lidar com as “feras” do Congresso Nacional. “São estereótipos machistas que querem boicotar a participação das mulheres na política. Querem dizer que pessoas bem sucedidas não podem ser mulheres. Mas, a autoridade é um atributo de todos”, diz o deputado Paulo Teixeira.

As ministras de Dilma:

J. Freitas/Ag.Senado

Gleisi Hoffmann (PT)Ministra-chefe da Casa Civil – Advogada e especialista em Gestão de Organizações Públicas e Administração Financeira. Casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo e mãe de João Augusto e Gabriela Sofia. Filiada desde 1989 ao Partido dos Trabalhadores (PT). Foi secretária de Estado no Mato Grosso do Sul e secretária de Gestão Pública em Londrina no Paraná. Também integrou, em 2002, a equipe de transição de governo do presidente Lula, ao lado da ministra Dilma Rousseff. Disputa o Senado em 2006 e a prefeitura de Curitiba em 2008, mas, apenas em 2010 foi eleita senadora. Foi a primeira mulher eleita na vaga do Senado do Estado do Paraná.

Wilson Dias/ABr

Ideli Salvatti (PT) – Ministra das Relações Institucionais – De janeiro a junho esteve à frente do Ministério da Pesca e Aquicultura. Licenciada em Física pela Universidade Federal do Paraná. Com um histórico de grande atuação política, ajudou a fundar o PT em Santa Catarina. Foi por dois mandatos deputada estadual e eleita senadora pelo PT catarinense. Foi uma das fundadoras da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SC), presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação – SINTE/SC e líder do governo Lula por duas vezes no Congresso Nacional. Foi também quatro vezes líder da bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado.

Iriny Lopes (PT) – Ministra-chefe da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres – Militante das causas de Direitos Humanos, Habitação e Meio Ambiente. Eleita deputada federal em 2002, e reeleita em 2006. Integrou a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) e também o Conselho de Ética da Câmara. Em 2009, foi indicada relatora da CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas.

Ramiro Furquim/Sul21

Miriam Belchior (PT)Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão – Mestre em Administração Pública e Governo. Como subchefe de Articulação e Monitoramento da Casa Civil da Presidência da República desde junho de 2004, ela foi responsável por articular a ação de governo e monitorar os projetos estratégicos. Em 2007, ocupou a secretaria executiva do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A partir de abril de 2010, com a saída da ministra Dilma Rousseff do governo, tornou-se Coordenadora Geral do PAC. De janeiro de 2003 a junho de 2004, foi assessora especial do presidente Lula. Integrou ainda a Equipe de Transição do Governo Lula em 2002.

Wilson Dias/ABr

Tereza Campello (PT)Ministra do Desenvolvimento Social. Economista.Durante o governo do ex-presidente Lula foi subchefe de Articulação e Monitoramento da Casa Civil. Trabalha em governos petistas desde a primeira das quatro prefeituras de Porto Alegre, em 1989. De 89 a 93 foi assessora Econômica do Prefeito de Porto Alegre e coordenadora do Gabinete de Planejamento e Orçamento Participativo. Ela esteve com Olívio Dutra (na prefeitura e no governo) e com os ex-prefeitos Raul Pont e Tarso Genro.

Ramiro Furquim/Sul21

Maria do Rosário Nunes (PT)Ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos – Professora e Pedagoga. Especialista em estudos sobre violência doméstica pelo Laboratório de Estudos da Criança da Universidade de São Paulo (Lacri/USP).Vereadora de Porto Alegre por dois mandatos (1993-1999) e como deputada estadual foi vice-presidente das Comissões de Direitos Humanos e Minorias, e Educação e Cultura.Em 2002, foi eleita deputada federal, sendo reeleita em 2006, sempre com expressivas votações.

Izabella TeixeiraMinistra de Meio Ambiente – Bióloga. Mestre em Planejamento Energético e doutora em Planejamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Está no cargo desde abril de 2010, quando o então ministro Carlos Minc saiu para concorrer à Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.

Luiza Helena de Bairros (PT)Ministra-chefe da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial – Administradora de Empresas. Mestre em ciências sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutora em sociologia pela Michigan State University. Foi secretaria estadual de Promoção da Igualdade Racial da Bahia desde 2008.Entre 2003 a 2005, trabalhou no Ministério do Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional (DFID). Foi consultora do Programa das Nações Unidas no programa de combate ao Racismo Institucional nas prefeituras do Recife, Salvador e Ministério Público de Pernambuco.

Helena Chagas Ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social – Jornalista. Como colunista do jornal o Globo e também do Jornal de Brasília, ela se destacou como analista política. Na internet, em 2007, experimentou o colunismo on line, ao dirigir o Blog dos blogs, do portal de internet iG.Helena Chagas foi a coordenadora de imprensa da presidenta eleita Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral e a transição. Foi diretora de jornalismo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a rede pública de TV, cargo que deixou para entrar na campanha eleitoral.

Divulgação

Ana Maria Buarque de HollandaMinistra da Cultura – Como gestora pública, foi Secretária de Cultura em Osasco, SP. Foi diretora do Centro de Música da Fundação nacional de Artes (Funarte), onde permaneceu até 2006. Além de coordenar o processo de criação da Câmara Setorial de Músical, foi figura chave na retomada do Projeto Pixinguinha, e em várias ações importantes para a música de concerto, orquestras, bandas e edições da área. Logo depois foi vice-presidente do MIS (Museu da Imagem e do Som), da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro.


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