Igor Natusch
Houve uma época, não tão distante, em que músicas como “Dona”, “Whisky A Go Go” e “Volta Para Mim” tomavam conta das rádios e das trilhas de novela em todo o Brasil. Tempos em que nosso país curtia o Rock In Rio, comemorava as vitórias de Ayrton Senna com o “Tema da Vitória” e aceitava numa boa que uma banda com o nome Roupa Nova tomasse conta das paradas de sucesso. Mas, por mais que o tempo passe, certas coisas nunca mudam. É isso que o Roupa Nova esforçou-se em mostrar, durante o show desta quinta-feira (21) em Porto Alegre: que o mundo mudou sim, mas ao mesmo tempo ainda está tudo lá, no mesmo lugar. Para o grande público que lotou o Teatro do Bourbon Country, não resta dúvida de que o sexteto conseguiu atingir esse objetivo, com sobras. A apresentação foi uma iniciativa da Opus Promoções.
Na abertura do set, um vídeo mostrou um jovem saltando obstáculos urbanos, como fazem os praticantes de parkour, enquanto eram citados números relativos à trajetória do grupo carioca. Foi a deixa para abrir o show com “Sapato Velho”, primeira música do primeiro disco do Roupa Nova. A partir daí, e até o final da apresentação, tivemos um show tecnicamente perfeito, cheio de pausas para interação com o público e recheado de hits – algo que, convenhamos, é o que não falta na carreira do conjunto.
Mesmo que tenham passado três décadas colecionando sucessos e shows Brasil afora, os seis músicos do Roupa Nova não apenas continuam unidos, mas fazem questão de deixar clara sua satisfação em cima do palco. Enquanto muitas bandas limitam e até confiscam câmeras amadoras de foto e vídeo, os músicos se aproximavam de quem tentava registrar o show, sorrindo e fazendo poses. Brincando inúmeras vezes com o público, o Roupa Nova conduzia a apresentação com tamanho domínio da situação que, mesmo seguindo o script à risca, o set fluiu com grande naturalidade. O revezamento de músicas dançantes e baladas melodiosas (a maioria delas cantadas pelo baterista Serginho Herval) manteve o público na mão o tempo todo, garantindo a interação constante e os aplausos ao fim de cada canção.
Não que conquistar o público fosse um desafio, no caso. Fãs de todas as idades estavam no Teatro do Bourbon Country, felizes de unir as vozes e jogar os braços para o ar em sucessos que, para eles, serão permanentes. “Cantar faz feliz o coração”, declara o vocalista Paulinho na música homônima, e a plateia concorda a plenos pulmões. Um dos momentos de maior intensidade foi quando a banda puxou o tema da primeira edição do Rock In Rio, emendando-o com outros temas que todos conhecem, mas poucos imaginam serem de autoria do Roupa Nova, como a antiga abertura do programa Video Show e o famoso “Tema da Vitória”, que embalou tantas agradáveis manhãs de domingo pelo Brasil. Foi possível ver alguns dos presentes indo às lágrimas nessa hora – algo plenamente justificado, já que a nostalgia é parte indissociável do Roupa Nova 2011. Mas não de forma negativa: mais do que viver do passado, os músicos fazem de seu show a trilha sonora de boas lembranças, para eles e para seus fãs. E nisso, definitivamente, nada há de condenável.
“Um pouco de luz nessa vida / um pouco de luz em você”, canta a banda em “Clarear”, dando o tom do que é, para os fãs, a experiência de passar pouco menos de duas horas em um show do Roupa Nova. Próximo do fim do show, os músicos comentam que o público gaúcho foi, para o Roupa Nova, um dos mais difíceis de conquistar. A julgar pela reação de todos na música a seguir, “Whisky A Go Go”, podemos dizer que o esforço deu resultado.
